quarta-feira, 29 de setembro de 2010

SERMÃO VERMELHO - Terceiro Ato - fim da peça


TERCEIRO ATO

CENA DEZESSEIS

O CENARIO É O MESMO DO PRIMEIRO ATO.

NO CANTO DO PALCO ESTÁ PRESO A FANTASIA DE UM PALHAÇO.


AO ABRIR O PANO O MALANDRO PAULISTA, ESTÁ ESTIRADO AO LADO DE UM DOS BANCOS.O MALANDRO CARIOCA ENTRA DE BERMUDÃO, DESCALÇO, SEM CAMISA E DE BONÉ VIRADO COM A ABA PARA TRÁS.

SOBRE O BONÉ ESTÁ PRESO UM ÓCULO S ESCURO.

MALANDRO CARIOCA (ENTRANDO )

E aí bicho, está caido aí.

MALANDRO PAULISTA (NADA RESPONDE SOMENTE ERGUE A CABEÇA)

MALANDRO CARIOCA

Eu sempre achei que você vacila, em qualquer esquina você caí e fica como se fosse uma vaca louca

MALANDRO PAULISTA ERGUENDO A CABEÇA E APOIANDO OS BRAÇOS NO SOLO )

Eu tava quase sonhando bicho.

MALANDRO CARIOCA

Otário, depois você se zanga quando eu lhe chamo de prego.

MALANDRO PAULISTA

Que prego mano, eu tô esperto

MALANDRO CARIOCA

Esperto mané e, desmaiando neste local.

MALANDRO PAULISTA

Você zomba de tudo.

MALANDRO CARIOCA

Não mano velho, eu quero "mermo" é que você fique ligeiro, para não cair em cilada. Você é o meu "broder", entendeu "papalégua" ?

MALANDRO PAULISTA

Aonde vai ser a boca de rango, hoje ?

MALANDRO CARIOCA

Já acordou com fome, fuleiro

MALANDRO PAULISTA

Só. Fiquei a noite no clarão.

MALANDRO CARIOCA

A fumaça ontem , deve ter sido muito doida.

MALANDRO PAULISTA

Que fumaça, que nada "rapá".

MALANDRO CARIOCA

Então, por que tá tiriricado , a essa hora.

MALANDRO PAULISTA ( ESPREGUIÇANDO – SE )

Trabalhei bastante ontem

MALANDRO CARIOCA

Então agente tem algum, hoje ?

MALANDRO PAULISTA

Nada de papel, o camarada combinou de pegar depois.

MALANDRO CARIOCA

Tá com grupo par "ribad'eu".

MALANDRO PAULISTA

Tem nada de grupo rapá ,eu falo a real.

MALANDRO CARIOCA

Real o que ,eu fico de olho nas tuas coisas e agora tu vem com, um sete um

MALANDRO PAULISTA

Tira esse olho bomba de cima do meu dinheiro, vagabundo.

MALANDRO CARIOCA

Ô rabo de búfalo ,você acha que eu to acreditando nesse teu pio.

MALANDRO PAULISTA

Carioca, prestou atenção no padre Olavo, com aquele sermão dele, ontem.

MALANDRO CARIOCA (COM A MÃO NO QUEIXO)

Ouvi e entender

MALANDRO PAULISTA

Você gostou ?

MALANDRO CARIOCA


Gostei

MALANDRO PAULISTA

Nunca eu tinha ouvido ele discursar

MALANDRO CARIOCA

Fala bem.

MALANDRO PAULISTA

Fez do sermão uma revolução

MALANDRO CARIOCA

Esse é o tipo de linguajar, chamado de linguajar vermelho.

MALANDRO PAULISTA

Por que vermelho e, não: amarelo, azul, verde ?

MALANDRO CARIOCA

é chamado de vermelho por que é uma linguagem socialista, uma linguagem que prega liberdade e soberania.

MALANDRO PAULISTA

Então foi um sermão vermelho ?

MALANDRO CARIOCA

Digamos que sim

MALANDRO PAULISTA

Isso é normal ?

MALANDRO CARIOCA

Entre os religiosos sim, cocada.

MALANDRO PAULISTA

olha aqui malandro, vamos versar um rap.

MALANDRO CARIOCA

Você não sabe versar

MALANDRO PAULISTA

Quem falou que eu não sei, cara pálida.

MALANDRO CARIOCA

Você sabe é puxar fole

MALANDRO PAULISTA

Pára jereba

MALANDRO CARIOCA ( BUSCA O VINHO QUE ESTÁ NA PORTA DE ENTRADA DO PALCO )

então deixa eu consertar

MALANDRO PAULISTA ( LEVANTANDO-SE E ARRUMANDO-SE)

Meu amigo Carioca

Vou versar com esperança

Um dia eu fui criança

E no outro uma bonança

MALANDRO CARIOCA (SORRINDO )

O que é isso, não entendi, batata.

MALANDRO PAULISTA ( DANDO UM GOLE NA GARRAFA )

É o rap da bondade

MALANDRO CARIOCA ( DÁ UM GOLE TAMBÉM )

Malandro que é malandro

Não dorme em beira de pista

Desliza por um caminho

como se fosse um artista

Bebe vinho, doce tinto

E ganha tudo sozinho

MALANDRO PAULISTA

O que é isso, doido ?

MALANDRO CARIOCA ( DANDO GARGALHADAS )

É o rap do roubo.

MALANDRO PAULISTA ( DANÇANDO)

Eu falo pra você uma tese nua e crua

O pobre se esconde entre uma curva

Ou uma rua

O riso se opõe ao delírio do aflito

A tese que eu defendo é a mesma que agita

A alma, a pele, e o medo de achar

que o riso de um bobo

Tem o valor de um tiro.

MALANDRO CARIOCA (SORRINDENTE E GRITANDO )

É isso aí doido maluco ,agora é a minha vez velho e, o bicho vai pegar.

MALANDRO PAULISTA ( BERRANDO )

Então muda cahorrão

MALANDRO CARIOCA (DANÇANDO )

Deixa comigo, deixa comigo

Lá na favela todo mundo se comunga

Não tem essa de retaliação

Igreja, polícia, bandido, todo mundo é irmão

Agua e óleo, vira logo, carne e unha

Sabão de côco, ainda lava a tua cara

O teu choro, só espanta a velha praga

então me diga , o por que de tanta tara

pra mim, tu parece um mal amado.

MALANDRO PAULISTA ( CANTANDO )

Aí manceta, vou arriar

MALANDRO CARIOCA (CANTANDO)

Manda bicho, bicho louco.

MALANDRO PAULISTA

A tua casa é a rua sem limite

Não há aqui, um malandro que imite

A tua tese não aguenta um qualquer

Eu vivo doido, procurando se quiser

um abrigo, pra guardar minha mulher

O tempo passa e a chuva vem

A nuvem passa e o sol também

O povo grita e o sino toca

é a hora de dizer amém.

MALANDRO PAULISTA

legal doidão

MALANDRO CARIOCA

Melhor que isso, só faculdade

MALANDRO PAULISTA

Entendi, atrás de cada doido, uma maldade

MALANDRO CARIOCA

Pode ser.

MALANDRO PAULISTA

Qualquer coisa assim que se anima

MALANDRO CARIOCA

Um trabalho assim, de mansinho ?

MALANDRO PAULISTA

Não , eu quero é vinho.

MALANDRO CARIOCA

Vai trabalhara vagabundo, senão alguém quebra o teu focinho.

MALANDRO PAULISTA

Huuuuum! Não, eu quero é vinho.

MALANDRO CARIOCA

Vai cair lá no Glicéreo, vai ver como é bom cair em Albergue.

MALANDRO PAULISTA

Iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiixi, eu quero é vinho.

MALANDRO CARIOCA

Você chega no Glicéreo, tem a Clara Machadão

eu não sei se ela é mulher

Se é doida ou sapatão

Eu só sei que ela fala

Bate em homem e ainda declara

Se correr o bicho pegar Se ficar o bicho come

Se chorar fica com fome

Se gritar perde o jantar

E não carrega celular.

MALANDRO PAULISTA ( BERRANDO E DANDO UM TRAGO)

Essa valeu, maluco doido.

MALANDRO CARIOCA

Vou arriar

MALANDRO PAULISTA

Huuuuuum, eu quero tomar vinho e comer caviar.

MALANDRO CARIOCA

Maluco doido, bicho maluco

Não deixe mosca, pousar no meu suco

MALANDRO PAULISTA

Mande lá.

MALANDRO CARIOCA

Segura a a onda mané, vou arriar

Tenho nota falsa pra te mostrar

Trago uns pano pra você comprar

Tem "tec-tel" e "volta ao mundo"

Tem tergal e giramundo

em qualquer lugar

Sem encontra um vagabundo

MALANDRO PAULISTA

E aí mané, apelou.

MALANDRO CARIOCA

Qualé otário, come a sua língua

MALANDRO PAULISTA

Vou versar uma canção

Pra mexer com o coração

Vou sabotar uma mina

Que leve a minha oração

Vou chama-la serpentina

Escrever a ela um verso

Dentro da televisão.

MALANDRO CARIOCA

O pato virou poeta

O poeta virou pato

Em cada esquina uma nota

Em cada nota uma esquina.

Se o poeta virou pato

Se em cada esquina uma nota

A vida é uma esquina

Num atoleiro de bosta

MALANDRO PAULISTA

Maluco doido, doido maluco

Bicho doidão, cachorro doido

Tem dias que o sol aquece

Tem noite que a lua chora As vezes chamo Teresa

As vezes chamo Raimunda

As vezes é boa de cara As vezes ruim de bunda

MALANDRO CARIOCA

Borra ,borra

MALANDRO PAULISTA ( SAINDO )

Doido maluco

MALANDRO CARIOCA (AO PUBLICO )

Legalizou-se a esculhambação neste país.

CENA DEZESETE

ENTRA A IRMÃ CAROLINA ( AGITADÍSSIMA )

É com o senhor mesmo que eu quero falar.

MALANDRO CARIOCA NÃO A RESPONDE, INGNORANDO-A.

IRMÃ CAROLINA

Não ouviste eu falar consigo ?

MALANDRO CARIOCA ( ESPIRRANDO )

Atchiiiiiiiiiiiiiiiiiim

IRMÃ CAROLINA

Não ouves o que eu te digo ?

MALANDRO CARIOCA (IRÕNICO)

Quem é a moça que me encomoda ?

IRMÃ CAROLINA ( BASTANTE ALTERADA )

Respeito senhor.

MALANDRO CARIOCA

Três peito não pode ,isso não, então a pessoa é aleijada, não é normal.

IRMÃ CAROLINA

O senhor é um cara de pau.

MALANDRO CARIOCA

Tá tudo errado beata eu conheço; soldadinho de chumbo ,pinóquio ,panela de barro, mas cara de pau, não.

IRMÃ CAROLINA

O senhor é um abobrão.

MALANDRO CARIOCA

Vê se me erra, vai pousar em outro terreiro, mandar esse espirito ruim pousar em outro corpo.

IRMÃ CAROLINA

Seu cara pálida, eu não sossegarei enquanto não tomar de suas mãos todo o vinho, que surrupiaram de minha igreja

MALANDRO CARIOCA

Não sei do que falas

IRMÃ CAROLINA

Sabes muito bem, seu afrontador

MALANDRO CARIOCA

Não entendo o seu linguajar.

IRMÃ CAROLINA

Vamos logo, o padre quer falar contigo.

MALANDRO CARIOCA

Quem é o padre ?

IRMÃ CAROLINA

Não se faça de desentendido.

MALANDRO CARIOCA

Não sei quem é ,então não irei.

IRMÃ CAROLINA

não desafie a minha autoridade

MALANDRO CARIOCA

Fale a ele que eu estou cansado

IRMÃ CAROLINA

Cansado de que cidadão ?

MALANDRO CARIOCA

Estava fazendo um show.

IRMÃ CAROLINA

Show, que show ? Por acaso tu és artista ?

MALANDRO CARIOCA

Sim.

IRMÃ CAROLINA

Isso é uma estupidez.

MALANDRO CARIOCA

Aos seus olhos, ao olhar do poeta, eu sou uma estrela.

IRMÃ CAROLINA

Vamos senhor, eu vim aqui lhe buscar.

MALANDRO CARIOCA

Trouxeste carro ?

IRMÃ CAROLINA

Que carro, cidadão ?

MALANDRO CARIOCA

Uma mercedes ou uma BMW ,mas se por acaso não encontrar nenhum desses eu aceito qualquer um da marca, que seja a de último lançamento.

IRMÃ CAROLINA

Estás me achando com cara de palhaço ?

MALANDRO CARIOCA

Por enquanto, ainda não chegamos ao circo.

IRMÃ CAROLINA

Vou chamar a polícia.

MALANDRO CARIOCA

polícia não gosta de malandro pobre, só de quem tem matrufa. Já viu a polícia querer conversa com ladrão de galinha. Só se alguém da uma pressionada.

IRMÃ CAROLINA

É isso que eu vou fazer.

MALANDRO CARIOCA

Cuidado(PAUSA), o tiro pode sair pela culatra.

IRMÃ CAROLINA

Eu tenho que tirar você daqui.

MALANDRO CARIOCA

Ô moça, você não tem "cemancol" não ?

Não percebes que está me incomodando com essa história de padre ? Eu não gozo de padre porra nenhuma.

Quem gosta de padre é freira e beata ,deu para entender ? Eu to cansado, acabei de vim de um show de RAP ,que eu e o meu parceiro Paulista fizemos e, a bem vestida, vem aqui me incomodar, oras carambolas, Vai brigar com o Papa.

IRMÃ CAROLINA

Veja como fala comigo, seu desclassificado.

MALANDRO CARIOCA

Não me incomode

IRMÃ CAROLINA

Vamos logo se bode velho.

MALANDRO CARIOCA

Diga a ele que estou ocupado.

IRMÃ CAROLINA

Mentira, não estás fazendo nada.

MALANDRO CARIOCA

Estou.

IRMÃ CAROLINA

Fazendo o que ?

MALANDRO CARIOCA

Estou pensando em agendar uma reunião com o governador.

IRMÃ CAROLINA (GRITANDO)

O senhor está de brincadeira

MALANDRO CARIOCA

Sem gritos para não machucar os meus tímpanos.

IRMÃ CAROLINA

Falo no tom que eu quiser.

MALANDRO CARIOCA

Tem razão, gente fina é outra coisa.

IRMÃ CAROLINA (OLHANDO FEIO PARA ELE)

Meu senhor ..... ......

MALANDRO CARIOCA ( ABRINDO OS BRAÇOS )

....... e o meu Deus.

IRMÃ CAROLINA

Não me irrite

MALANDRO CARIOCA

Cuidado para não dá um treco

IRMÃ CAROLINA

Vou chamar um camburão.

MALANDRO CARIOCA

Isso naão. Eu quero ir em um carro de luxo.

IRMÃ CAROLINA

Vou chamar o rebecão

MALANDRO CARIOCA

Isso é carro de vigésima categoria, na classificação, passeio

IRMÃ CAROLINA

Vou chamar os burucutus do exército.

MALANDRO CARIOCA

Olá minha senhora, estás parecendo a Clara Machadão, lá do Albergue do Glicéreo, aonde o meu amigo Paulista caí, todas as noites. Ela parece uma desvairada, ensandecida, imagina que manda em alguma coisa e que tem um poder enorme na mão. No final de tudo é um pau mandado.

IRMÃ CAROLINA

Veja como o senhor fala comigo ,eu não estou aqui para ouvi os seus disparates de revoltado e muito menos para me expor a comparações. Eu estou aqui para lhe tirar deste lugar e levar-te até a casa paroquial.

MALANDRO CARIOCA

O que é que tem lá ?

IRMÃ CAROLINA

Não sei.

MALANDRO CARIOCA

Tem bolo de chocolate ?

IRMÃ CAROLINA

Não

MALANDRO CARIOCA

Tem bolo de morango ao leite condensado ?

IRMÃ CAROLINA

Não

MALANDRO CARIOCA

Tem bolo de queijo ralado feito no liqüidificador ?


MALANDRO PAULISTA
Não

MALANDRO CARIOCA

Então tem suco de bacuri.

IRMÃ CAROLINA

Não.

MALANDRO CARIOCA

Então tem uma jarra de açaí ?

IRMÃ CAROLINA

Não.

MALANDRO CARIOCA

Então tem churrasco no espetinho ?

IRMÃ CAROLINA

Não

MALANDRO CARIOCA

Então tem uma caipirinha

IRMÃ CAROLINA

Não

MALANDRO CARIOCA

Então tem um chopinho gelado para agente saborear quase ao som do silencio da tarde ?

IRMÃ CAROLINA

Não.

MALANDRO CARIOCA

Então tem um vinhozinho, geladinho, finíssimo para agente desgustar com umas rodelas de queijo ao som de uma música sacra ?

CENA DEZOITO

NESSE MOMENTO O DIALOGO DO MALANDRO CARIOCA COM A IRMÃ CAROLINA É INTERROMPIDO, POR QUE O MALANDRO PAULISTA INVADE O PALCO CORRENDO E GRITANDO MAIS ALTO, IMPACIENTE E PULANDO.

MALANDRO PAULISTA ENTRANDO

Ô carioca, fala para mim seu desgraçado, onde vai ser essa boca de rango, que tu arrumou e não havia comentado ? Cachorro, você ia me deixar de fora se eu não tivesse ouvido a conversa.

MALANDRO CARIOCA

Que comida seu boca de rango, ficaste zureta ?

MALANDRO PAULISTA ( CONTANDO NOS DEDOS )

O doido falou em chocolate, bolo de morango, suco de bacuri, açaí, chope, caipirinha ( LAMBENDO OS BEIÇOS) eu estava quase sonhando, bati até na cara, para ver se acordava rápido.

MALANDRO CARIOCA

Deverias ter continuado dormindo, afinal bom mesmo é sonhar, vai dormir seu miserável.

MALANDRO PAULISTA

Me enganaram de novo.

MALANDRO CARIOCA

Você é o próprio símbolo do engano.

MALANDRO PAULISTA

Dei azar.

MALANDRO CARIOCA ( VIRANDO PARA A IRMÃ CAROLINA )

Você veio me buscar para ir na casa paroquial, o que diabo eu vou fazer lá se não tem uma fruta para matar a minha fome ?

IRMÃ CAROLINA

Lá não é hotel, meu senhor.

MALANDRO CARIOCA

E quem disse que eu estou procurando pensão ?

IRMÃ CAROLINA

Arriba cidadão.

MALANDRO PAULISTA

Não estou entendendo nada.

IRMÃ CAROLINA

O senhor também tá se fazendo de enlouquecido.

MALANDRO PAULISTA

Sim, todos aqui somos doidos

MALANDRO CARIOCA

E alguns, mais que outros

IRMÃ CAROLINA

Exigi tratamento digno

MALANDRO PAULISTA

A freira enlouqueceu.

MALANDRO PAULISTA

Enlouqueceu, e agora o que é que eu faço com a sua cabeça, de capivara molhada ?

MALANDRO PAULISTA (RINDO)

Vende no açougue, lá no morro.

IRMÃ CAROLINA

Vou buscar alguém para arrancar vocês daqui

MALANDRO PAULISTA

O que está acontecendo ?

MALANDRO CARIOCA

Ela está agitada.

IRMÃ CAROLINA (SAINDO)

Dias melhores virão.

MALANDRO PAULISTA ( COM A MÃO NA BOCA )

Não entendo

MALANDRO CARIOCA

Você é proibido entender.

MALANDRO PAULISTA

O que houve ?

MALANDRO CARIOCA

Esquece

MALANDRO PAULISTA

Não consigo

MALANDRO CARIOCA

Já almoçou hoje ?

MALANDRO PAULISTA

Não.

MALANDRO CARIOCA

Por que você não foi lá na Igreja da Achiropita, no bairro da Bela Vista, ali na 13 de Maio ? Lá eles dão comida todo dia, é só chegar de manhã, pegar a sua senha e ficar lá trancafiado da 07:00 as 11:00 hs, que bate o rango. O general lá chama-se Marçal ,é um crioulo alto, magro e comprido, tem o olhar de uma cobra caninana e parece está 24 h., ligado em tudo o que acontece em volta das dependências paroquianas.

MALANDRO PAULISTA

Não sabia

MALANDRO CARIOCA

Qualé mané, tá moscando ?

MALNDRO PAULISTA

Tô com sede

MALANDRO CARIOCA

É só descer lá embaixo do viaduto do Glicéreo, todos os dias de segunda a sexta feira, eles dão lanches às 13:00hs, através da entidade " Minha rua Minha Casa", até parece que és bobo, quem não sabe que é o maior come e dorme desta cidade.

MALANDRO PAULISTA

Sou não.

MALANDRO CARIOCA

Que maluco é você bebel ?

MALANDRO PAULISTA

Puxa, você parece que carrega uma agenda de onde se come de graça.

MALANDRO CARIOCA

É preciso está esperto "mermo".

MALANDRO PAULISTA

Eu quero é sair desta vida, preciso arrumar um emprego. Tenho família.

MALANDRO CARIOCA ( ABRINDO OS BRAÇOS )

Qualé rapá ? Essa é uma ladainha de todo mano, quando tá caído.

MALANDRO PAULISTA

Tô falando na maior, de boa.

MALANDRO CARIOCA

Quando o vagabundo está de boa ele não se lembra em guardar nada. Só quer zueira.

MALANDRO PAULISTA

Não é o meu caso.

MALANDRO CARIOCA

É o nosso caso

MALANDRO PAULISTA

Pode ser. Pode ter acontecido comigo.

MALANDRO CARIOCA

Maluco ,você tem família ?

MALANDRO PAULISTA

Tenho

MALANDRO CARIOCA

Eu não tenho ninguém

MALANDRO PAULISTA

E você tem amigos ?

MALANDRO CARIOCA

Não tenho.

MALANDRO PAULISTA

E você acha que eu tenho amigos ?

MALANDRO CARIOCA

O que tu achas

MALANDRO PAULISTA

Eu, acho que tenho doido.

MALANDRO CARIOCA

O que tu achas ?

MALANDRO PAULISTA

Eu acho que tenho

MALANDRO CARIOCA

E quem é o teu amigo ?

MALANDRO PAULISTA

A minha imaginação

MALANDRO CARIOCA ( BATE PALMAS )

Muito inteligente a sua resposta

MALANDRO PAULISTA

Ô maluco, você só sabe que temos amigos quando agente se encontra doente e desempregado.

MALANDRO PAULISTA

Agora o doido me fez pensar

MALANDRO PAULISTA

É uma missão pesada Carioca, agente querer ser amigo de uma pessoa. É muito difícil e começa por que ninguém quer ser amigo de ninguém..

MALANDRO CARIOCA

Tem razão.

MALANDRO PAULISTA

Carioca, se você pensar bem, tem hora que na vida o coração balança, a alma adormece e o cérebro chega a chorar.

MALANDRO CARIOCA

Eu sei disso.

MALANDRO PAULISTA

Então é preciso ser forte, não se abalar com a primeira tempestade e, não se iludir jamais com as palavras bonitas, que se ouve no cotidiano

MALANDRO CARIOCA

Estou ouvindo o meu poeta

MALANDRO PAULISTA

É preciso decantar a vida e traduzi-la, bom é ter uma vida malandra e nunca ser um eterno malandro na vida.

MALANDRO CARIOCA

Meu coração agora parou para escutar

MALANDRO PAULISTA

Comungamos da mesma amizade e, já que não tens família, que façamos de nossas pegadas, algo de companheirismo, vamos dizer assim; para juntos seguirmos até o fim do texto.

MALANDRO CARIOCA ( SE VESTE DE PALHAÇO NO PALCO, ENQUANTO O MALANDRO PAULISTA FICA SENTADO EM UM DOS BANCOS, ALEM DE CONTAR COM DOIS COPOS E UM LITRO DE VINHO À MOSTRA, O PALCO ESTÁ A MEIA LUZ )

MALANDRO CARIOCA

Eu quero que a luz da vida brilhe para todos.

Eu sinceramente já duvido em quem acreditar.

O sistema me fez assim, meio maluco e meio malandro, candidamente eu não sei até onde isso é vantajoso na vida humana, mas sei que é divertido, para fazer o povo ri.( MEXENDO OS BRAÇOS )

Eu posso ser um palhaço, sem a fantasia de um palhaço.

Posso não ter a boca pintada como um palhaço, mas posso mesmo sem pintar a boca como um palhaço, ter o riso largo e fértil ou inofensivo como o riso rasgado de um palhaço.

Eu queria ter o sorriso do palhaço.

Eu sei que eu não possuo as pernas tortas como o palhaço e nem o anadar trupicante (IMITANDO O ANADAR DE UM PALHAÇO ), desse artista infantil que encanta a criançada e deslumbra os seus sonhos, mas eu posso se quiser, desenhar o meu mundo de fantasias, como faz o velho artista que constrói com as suas lendas e apoiado em suas quimeras, sobrevive em um mundo deslumbrante de encantos mil e ilusões tais.

Eu não tenho a cara de um palhaço.

Eu não tenho o nariz de um palhaço, mas para o seu mundo, para o castelo encantado que você desenhou, a minha piada não cabe, mas eu lhes peço para decantar e aplaudir a minha poesia (PAUSA )

Que não seja motivo de chacota o meu linguajar e o meu texto e, nem há de vingar sobre ninguém o meu dialeto.

Eu preciso da doçura da poesia pura e, o estardalhaço de uma amizade sem fim.

Eu também tenho o meu desvario, o meu mundo que eu próprio construir, como o palhaço que em seu circo, constrói o seu sorriso e ressuscita nas crianças a alegria.

Eu fiquei sozinho neste mundo, abandonado e abandonando as pessoas que me rodeavam. Algumas vezes pensei que amei, mentir a mm mesmo e aprece que jamais fui amado. Sei que sou respeitado por muitos e com alguns eu tenho e terei um eterno relacionamento de amor e ódio, assim como é fogo e água , o doce e o amargo, o azedo e o salgado. Algo assim que me expõe a uma vaidade tão tirana, que as vezes agride ao sentimento daquele que mesmo frágil, tende aparecer muito forte.

Eu sou assim, o palhaço também é assim.

Quem em sua sã consciência, já viu um palhaço chorar (PAUSA)

Palhaço não fora criado para chora, e muito menos para alimentar tristeza.. Eu quero á que as pessoas sorriem sempre, que elas se esbaldem em suas conquistas e se afoguem em suas alegrias – assim é o velho palhaço.

Foram tantos que eu vi no circo. Foram tantos que me arrancaram o riso e com a sua cara achatada, as suas sobranceias largas, roubaram o meu desejo de felicidade e estamparam na minha cara todo o seu riso.

Eu não queria que este mundo acabasse ,nem que ficasse dúvida do meu contentamento.

Que há de brilhar eternamente a nossa esperança.

E enquanto houver esperança, aumenta a chance de cada pessoa ser feliz.

Não é preciso fazer triagem para sorrir, por que este artista o faz espontaneamente e por isso ele conquista a criançada para conquistar o seu mundo.

Que o encontro dos lábios das crianças, sejam fartos e abundantes, que a alegria dos pequenos sejam enormes como o devaneio de um palhaço, que toma conta do seu circo e explora o riso das crianças adormecidas.

Eu sou tão só, mas não quero jamais ser amargo.

Quero como o copo virgem, rodopiar sobre lábios infantis e de ingênuos pensamentos encher o meu pesar e derrama o meu contentamento. Quero sacudir os meus braços, como o palhaço desajeitado, que desliza sobre o manto de um palco e se equilibra sobre o aplauso de uma platéia inquieta e desvairada. Mesmo a passos largos, com seus sapatos largos e, o brilho eterno do olhar para conquistar a sua alma e o seu espaço.

Eu escolher mora sozinho, mas eu que não sei se eu quis ficar sozinho, as vezes eu penso que o sistema me jogou a estar tão sozinho. Eu também não quero que você sinta nem pena de mm ou muito menos pesar para as minhas pegadas que ficaram por aí atiradas ao relento e tantas outras que mesmo inconseqüente foram apagadas ou encoberta pela areia.

Como se fosse um "causo"; de você eu quero apenas o seu aplauso.

E neste aplauso eu quero derramar o meu riso e afogar a minha alegria, contentar o seu olhar com o meu talento e erguer-se da cadeira para deixar o coração pulsar e palpitar sob o meu peito dolorido e apaixonado.

Como é contagiante o coração de um palhaço.

Cheio de bondade e pulsações exorbitantes.

Eu quero com o cair da noite, derramar sobre a garganta a doçura deste vinho e, extravasar o meu sentimento de amor e de perdão.

Vou além, quero conquistar as paredes coronárias do teu corpo e invejar a correnteza do teu sangue que escorre pelos poros da tua alma.

........ que afoga a ilusão do teu pensar e, despenca no altar da tua doce sedução.

Que o rabisco da tua língua, umedeça as papilas do teu modo de pensar e como o palhaço que não pensa, como um tolo ele sorrir, por que o seu mundo encantado é o sorriso e o aviso alienaste do encanto é o deslumbro dos que pairam sobre o manto, do espaço, que se firma pelas mãos, do pequeno polegar.

Mas eu sei que eu vivo triste, é verdade que isso existe, eu as vezes calo, outras tanto eu falo e desabafo, tento de todas as formas esquecer, não recordar, por que eu não quero que a morte invade a minha calma e, aflige a minha alma, que ainda teima em não chorar.

Por tudo isso eu quero ser como o palhaço, dele agente não recorda quem é o pai e nem sabe quem o fez, dele agente não sabe quem é o irmão, se ele tem, isso não é questão. O que todo mundo sabe, é que o palhaço existe e ele sorrir, mesmo para esconder a dor, mesmo para fingir que amou ou esconder atrás do seu sorriso a mágoa de um eterno sonhador.

Hoje eu quero homenagear este artista, que comigo divide a sua alegria, que não cansa com a trilha do momento, que convive de alma pura com o lamento e, como um doce namorado expõe em versos seus delicados sentimentos. Hoje em cada esquina tem uma cara de palhaço, em cada canto expõe-se o canto de um palhaço. Isso mesmo, aquela figura de rosto branco, camisa azul, calça branca, sapatos enormes pretos, com a gola folgada pintada de preto e amarelo.

Boca grande, nariz vermelho de bola, cílios enormes, cabelos arredondados, é essa gente, a imagem infantil que eu desenhei no meu encalço desse velho animador que atende por palhaço.

Que a sua ginga seja mais que alegria.

Que jamais a sua dor lhe propicie: delírios,ansiedade ou cause a morte.

Que o circo seja sempre o eterno palco, de um giramundo, onde o sorriso nunca fuja do teu rosto, seu eterno vagabundo.

Como o trem desafia a ferrovia e dela o seu elo de alegria, como sacode os seus vagões em grandes gritos, com rangidos, com laridos e mais gemidos, que tudo isso traduzido seja amenos, a saída de um passo a contendo.

Neste meu momento de elegia pura a este artista que se exibe em trapézios imaginário, eu desenho o meu sermão alienante, rabiscando sobre folha lisa, um poema, mesmo que seja feito a mão desenhado por caneta "bic" em papel d pão.

Que o meu fim não seja um etero desprezo por aqueles que me chamam e me rodeiam, eu sei que a vida em si causa medo, quer seja a tarde ou mais cedo, que dure sempre ou com desprezo, como se fosse algo que se desprende, a la lata de cerveja.

O meu riso é a atua cor que se levanta, o meu poema é a dor que mais avança, o teu ego que as vezes se levanta, e se desgasta feito nuvem, que só passa quando a chuva vai embora. Eu queria tanto que vocês entendessem o meu lamento, a dor causada por um triste sentimento, que invade a alma como um chambre que envolve a noiva e não deixa de plainar.

Eu quero aqui retratar o meu momento de alegria, de uma eterna embolia, que avança sob a égia da vitória, que incomoda mais que a mais vil tosse, que berra e que chora ou arrebenta o peito daquele que menos possa. ( CAMINHANDO PELO PALCO Á MEIA LUZ).

Enfim, que o meu ídolo jamais fale em cansaço, nem se importe com o sorriso de um dourado "deus" da raça, que tudo passe, sobre a vida infantil que é uma graça, que se eleja um capitão e erga a taça, mas que não falte neste mundo o sorriso de um palhaço, sob aplaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaauso.

O PALCO FICA TOTALMENTE CLARO.

MALANDRO PAULISTA ERGUE-SE DO BANCO E NO CENTRO DO PALCO DÁ UM ABRAÇO NO AMIGO.

MALANDRO PAULISTA

Você é um artista

MALANDRO CARIOCA ( CHORANDO )

Não, sou um ..... ......

MALANDRO PAULISTA

Palhaço não chora..... palhaço sorrir.

MALANDRO CARIOCA ( TIRANDO A FANTASIA E COLOCANDO NO FUNDO DO PALCO )

Eu não sou o palhaço

MALANDRO PAULISTA

É a cópia

MALANDRO CARIOCA

foi a forma carinhosa que eu encontrei para homenagear essa artista, tão secular quando o sorriso da criança e o cheiro doce dos campos floridos na primavera.

MALANDRO PAULISTA

Tá emocionado

MALANDRO CARIOCA

Gratificado

MALANDRO PAULISTA

Senta-se

MALANDRO CARIOCA ( SENTADO E JÁ SEM A FANTASIA )

O que fazer ?

MALANDRO PAULISTA ( JUNTANDO O LITRO DE VINHO NO CANTO DO PALCO, JUNTA OS COPOS, ENTREGA TUDO AO CARIOCA E SENTA-SE DO LADO DELE , BATENDO AS COSTA DELE)

Além de Malandro é bom de lábia ,heim ?

MALANDRO CARIOCA (SAINDO )

Vou me recuperar ( SAI )

MALANDRO PAULISTA ( EM PÉ )

Meu, foi um arraso o que o doido fez, velho. Eu sempre entendi que não se analisa o livro pela capa, é preciso analisar o conteúdo. O bicho doidão me surpreendeu, foi um furor, arraaaaaaasô. O maluco incorporou o espirito de um grande ator, fez o rei do riso. Olha moçada eu estou arrepiado(CHAMANDO ATENÇÃO )

hei você, que não quer nada com a vida, pensa que o tempo e: pororoca e vadiagem, acorde e tome mais cuidado, as vezes as coisa não são tão bela como agente faz sonhar.

Malandro, e eu que pensei que aquele pateta fosse apenas um mísero "boca de rango". Eu sinceramente pensei que estivesse diante de um ator hollyudiano. Quase delirei, não lhe fiz um sinal para não interrompê-lo. Olhem foi demais. ( COM AS MÃOS SOBRE O PEITO ) Ufa, foi de atropelar o pobre do sacristão, como se diz lá no sertão.

CENA DEZENOVE

IRMÃ CAROLINA ENTRANDO, DESTA VEZ ELA ENTRA DESTEMIDA E ARROGANTE

Cadê ele ?

MALANDRO PAULISTA

Ele quem ?

IRMÃ CAROLINA

O seu coparça

MALANDRO PAULISTA (FRANZINDO A TESTA )

Coparça ?

IRMÃ CAROLINA

Sim.

MALANDRO PASULISTA

A senhora não acha que está faltando com respeito com a minha pessoa

IRMÃ CAROLINA

Não.

MALANDRO PAULISTA

Veja como fala comigo, eu sou de outra bocada, qualé, vai esculachar o mano agora ? Quantas vezes a minha pessoa faltou com respeito com a sua ?

IRMÃ CAROLINA

Faltou sim, tanto você quanto aquele excomungado, faltaram com respeito inclusive com a igreja, quando do sumiço do vinho.

MALANDRO PAULISTA

Quem lhe afirmou que eu peguei o bagulho.

IRMÃ CAROLINA

Nas minhas preces eu lhe vejo você

MALANDRO CARIOCA

Tá bom além de freira agora é mãe de Santo.

IRMÃ CAROLINA (SERIA )

Respeito Senhor.

MALANDRO PAULISTA

Ô senhor, eu estava quieto no meu canto, sossegado igual água parada e, vem lá não sei de onde, azucrinar a minha vida.

IRMÃ CAROLINA

Aonde foi o Carioca ?

MALANDRO PAULISTA ( IRONICO)

Morreu.

IRMÃ CAROLINA

Fale sério seu moço.

MALANDRO PAULISTA

Morreu

IRMÃ CAROLINA

Vou falar ao padre Olavo

MALANDRO PAULISTA

Morreu.

IRMÃ CAROLINA

Então, quem matou aquele velhaco ?

MALANDRO PAULISTA

Morreu.

IRMÃ CAROLINA

Seu moço, você só sabe dizer morreu ? Aonde ele morreu ?

MALANDRO PAULISTA

Não foi ele que morreu. Foi você doida.

IRMÃ CAROLINA

Não vou perdoar os teus pecados

MALANDRO PAULISTA (ZOMBANDO)

Pretensiosa , já quer ser Deus.

IRMÃ CAROLINA (DANDO-LHE ORDEM )

Você vá atrás do seu amigo e, faça o favor de levá-lo ao vigário

MALANDRO PAULISTA

A sua pessoa era mais humilde, quando chegou aqui na cidade. Falava baixo, era tudo na muita simplicidade, eu começo a desconfiar que a sua pessoa deve estar ganhando algum qualquer na função que lhe deram aí com o padre. Tomara eu esteja enganado.

IRMÃ CAROLINA

Vá logo, isso é uma ordem. ( SAI DO PALCO )

MALANDRO PAULISTA FICA SOZINHO E O PALCO VOLTA A FICAR A MEIA LUZ.

MALANDRO PAULISTA

Vocês perceberam como são as coisas (PAUSA)

A pessoa estuda, estuda e, em vez de reformar os seus hábitos, ela passa a tratar a pessoa com truculência, com arrogância, como se ela fosse um general e a vida um eterno quartel.

De quem eu estou falando (PAUSA)? Estou mostrando casos assim, semelhante o da irmã Carolina .

Ou ela é doida ,doida ou é uma descontrolada emocionalmente, e daquelas que jorra tudo para fora em um segundo e depois veste-se com o melhor "hábito" no convento e posta-se como uma deusa na primeira fila do altar ao lado dos mais importantes.

Assim é o ser humano, essa falsidade "crassa", que o empurra de um lado para o outro como se fosse "mururu" que sobe e desce a ribanceira conforme a maré .É preciso que o ser humano seja reciclado, organizado em seus sentidos, recolocado em sua razão e passe a analisar os valores espirituais, de suas reações.

É preciso que o seu comportamento, mude pelo amor que ele tem ao próximo e nunca pela piedade, que ela sinta de uma vanguarda que se foi e que não pára de sangrar. Assim, como o jardim precisa de chuva para florir e fazer arrebentar do solo toda a vida vegetal, o homem também tem por finalidade semear na terra, justiça e sabedoria.

Quero dizer a todos vocês que não sou poeta, e nem vou versar como faz o Carioca, mas vou render as minhas honras, a este escritor jovem, amante, moderno, que versa um reverso de poema como a sutileza de uma "alínea", que se importante muda a vida das pessoas.

A este Maranhense, Arariense e Humanista espirituoso, eu lhe saúdo pela eficácia, pela ação cultural, já que isto nada mais é do que um texto teatral e nunca uma sonhada obra de literatura.

Mas, vou confessar a vocês que o canto explode junto ao coração da minha amada e, que o sonho de ser um eterno apaixonado, ainda doura nos lábios daquele moço que sonhou um dia ser amado.

Não vou versar com as nuvens ,nem delatar as noites que viveu meu coração. Mas vou encontrar a minha metade, enxugar as lágrimas que se derrete em emoção e juntar tudo sob o mesmo teto e derreter o sol com a mão.

Não vou remexer o bau das minhas maluquices e, nem tagarelar para agradar a burguesia, eu também quero saciar o meu romantismo, sem lamentar o passado que eu vivi, mas tirar lição de tudo: dá dor que pariu a desigualdade, até a ânsia de querer ser feliz. Se a vida é uma grande arte, eu sou um ator que representa muito bem esse dom de viver.

CENA VINTE

O PALCO VOLTA A CLAREAR TOTALMENTE. ENTRA A IRMÃ CAROLINA E COMEÇA A ANDAR APRESSADAMENTE DE UM LADO PARA O OUTRO, APRESSADAMENTE.

MALANDRO PAULISTA

De novo, toda hora.

IRMÃ CAROLINA

O que é que há, seu moço ?

MALANDRO PAULISTA

Está andando igual a barata tonta

IRMÃ CAROLINA

Aonde está o seu amigo ?

MALANDRO PAULISTA

Escafedeu-se.

IRMÃ CAROLINA

Fale baixo.

MALANDRO PAULISTA

Qualé, irmã vai querer ditar normas agora ?

IRMÃ CAROLINA

Queira me acompanhar, meu senhor.

MALANDRO PAULISTA

Aonde vamos ?

IRMÃ CAROLINA

Deixe de indagação

MALANDRO PAULISTA

Alto lá, a Senhora é religiosa mesmo, ou é Chefe da Casa de Dentenção ?

IRMÃ CAROLINA

Se não me acompanhar por bem, podes arrepender-se

MALANDRO PAULISTA

Eu não vou

IRMÃ CAROLINA

Vou chamar a polícia

MALANDRO PAULISTA

De novo ?

IRMÃ CAROLINA

Não esqueci o nosso vinho

MALANDRO PAULISTA

O que eu tenho a ver com isso ?

IRMÃ CAROLINA

Tudo

MALANDRO PAULISTA

Vou lhe denunciar por calúnia

IRMÃ CAROLINA

Quem é você ?

MALANDRO PAULISTA

Eu sou um cidadão nacional tal qual a senhora e, e um pouco mais culto, certamente.

IRMÃ CAROLINA

Duvido

MALANDRO PAULISTA

Eu não quero mais bater boca, senão agente acaba se nivelando ao mesmo patamar e isso eu não vou permitir

IRMÃ CAROLINA

É verdade não somos do mesmo nível, uns tem formação outros não, uns roubam vinho e outros não

MALANDRO PAULISTA

Não imaginei que era preconceiutuosa

IRMÃ CAROLINA

Eu sou conceituosa, é diferente.

MALANDRO PAULISTA ( SAINDO DO PALCO )

Fique aí, tome conta do palco, ele é todo teu.

IRMÃ CAROLINA FICA SOZINHA NO PALCO, RODOPIA COMO SE DANÇASSE UMA VALSA ESCORREGANDO PELOS QUATROS CANTOS DO PALCO, CANTANDO OU RECITANDO


O teu olhar é como nuvem passageira

desloca de um ponto ligeiro

numa ansia louca ,quase turva

querendo se transformar em chuva.

O amor que cai

embebe a alma humana e

canta uma canção que envolve o corpo e a mente

e derrama suavemente a sua áurea

e a sua cor.

(FALANDO FIRME EM DIREÇÃO AO PUBLICO)

Que entre o Padre Olavo e ouçam o que ele tem a dizer.

ELA SE RETIRA DO PALCO

CENA VINTE E UM

PADRE OLAVO ENTRA COM O SEU UNIFORME TRADICIONAL DE SARCEDOTE E VERMELHO, CONDUZ A SUA INSEPARAVEL BENGALA E O SEU SOMBREIRO TIPO MEXICANO, USA SEUS ÓCULOS.


PADRE OLAVO COM OS DOIS BRAÇOS ESTENDIDOS UNIDOS PARA FRENTE, A BENGALA ESTÁ AO LADO LARGADA NO CHÃO E COM A VOZ EMPOSTADA ELE COMEÇA

Meus irmãos em Cristo Jesus ,estou aqui outra vez diante de vós, talvez pela última vez por que para tudo existe, uma coisa chamada tempo..

Há tempo para caminhar e cada um de nós escolhe com a permissão de Deus, quando é o melhor período para largar. Cada ser, sabe até aonde vai as suas forças e as suas resistências, portanto, há tempo para escolher.

Ainda há tempo para meditar: Meditar sobre qualquer coisa, principalmente sobre as coisas do bem.

Meditar por exemplo: quem tem interesse para que exista tanta gente desempregada neste país ? Por que o velho tem que ser jogado e abandonado em asilos, pelos seus parentes ? Quase sempre são os filhos, alguns eternos ingratos que como recompensa aos pais, que tanto lutou para educaá-los, sustentá-los, o prêmio é o abandono e o esquecimento.

Você já parou para pensar o tamanho da dor que sente uma pessoa, nessa situação ? Certamente o filho é um sem alma, sem dor e sem piedade .Quem é, que tem interesse em manter na Praça da Sé, no Centro da Cidade de São Paulo ou mesmo na Candelária no centro da Cidade do Rio de Janeiro, tanta criança abandonada ao "deus" dará ?

Essas crianças são as mesmas que cheiram cola, cometem pequenos furtos, ou fazem parte de uma rede que alimenta grandes delitos e fogem da lei por serem de menores, ou pior, a lei não lhe imputa nenhuma repreensão educativa por que a justiça não lhe prega as suas digitais.

Quer seja no centro da Cidade de São Paulo, quer seja no centro da Cidade do Rio de Janeiro, ou na Zona Sul desta Paulista Desvairada, todo mundo sabe o que acontece, apenas o poder público se finge de cego e empurra o problema com a barriga.

Meditar por exemplo: o por que do aumento descabido do trabalho informal neste país, sendo que em alguns lugares, explora-se o trabalho infantil e a mão de obra barata, importando o trabalho do nordestino, quando da safra da cana de açúcar ou mesmo explorando o trabalho escravo em grandes fazendas pelo país afora. Eu sei que vocês estão s perguntando, isso existe ? Eu respondo com toda a convicção, que isso é verdadeiro.

E aonde é que existe isso ?

Meus irmãos, isso existe aqui no nosso país ,eu não estou falando de um problema lá na: Índia, Afeganistão, Bangladesh. Não estou falando de países que se aglutinam no fundão da Mãe África, com todo respeito e sentimento que eu tenho por aquele continente. Todas essas marzelas, acontecem aqui, sob o nosso olhar, neste chão enorme chamado Brasil.

Meditar sim: Quem tem interesse em manter neste país a prostituição infantil ? Explorar através do comercio carnal, essa desgraça que fere a dignidade da juventude e arregaça-lhe o auto estima. Quem é o interessado nos tráfico de órgãos neste país ? Quem é que lucra com isso ?Quem é que patrocina essa carnificina toda, que assola esta Pátria, que revolta as famílias de bem e ainda deixa essas pessoas imunes . Por que a justiça deste País, não prega as digitais nas costas dessa gente e coloca todas atrás das grades ? Eu também quero saber.

Amados amigos meus, irmãos meus que acreditam na Ressurreição do Cristo, lutemos para que essas coisas não avancem mais. Todos nós amados irmãos, temos o direito de sonhar e, é por isso que igual a todo brasileiro eu sonho com dias melhores. Vamos nos aglutinar em favor da legalidade das coisas, vamos nos unir em prol da vida, que é uma dádiva de Deus.

Meus irmãos a minha alma clama por igualdade social e o meu coração chora pedindo socorro quando tudo tende a se acabar. A cada dia que eu passo pelas ruas desta cidade entristece cada vez mais a minha áurea, mas em compensação eu não perco jamais a coragem de lutar e denunciar o ilegal. Eu sonho por que eu sou um sonhador e não morrerei sem ver as pessoas, isso mesmo, senão todas mas quase todas vivendo e convivendo em uma confraternização onde todos se ajudem e se respeitem.

Mesmo que tenhamos de levantar a bandeira da luta armada, semelhante a uma mãe que levanta-se quando alguém quer atacar o seu filho, mesmo que seja preciso degradai-se contra um sistema arcaico, dominante e dominador, mesmo que tenhamos que ocupar longadouros públicos, e nos expor, ainda assim vale apenas lutar por uma vida digna e tolerante.

Não é preciso vestir-se de vermelho, azul, verde ou amarelo, o que se faz necessário é que para eliminar toda essa desordem "ética" e "moral" que cresceu e alardeou-se por este país afora, basta cada um de nós querer fazer a sua parte.

Todas as vezes em que fiquei diante da frase:

..... e o sol da liberdade em raios fugidos, brilhou no céu da Pátria nesse instante", eu paro, reflito e pergunto a vocês.

Em qual Pátria brilha esse sol, tão reluzente cantado em prosa e verso e reverso ?

Aqui no Brasil eu sei que não é.

Aqui o que brilha são povos em situação de rua, jogados em Albergues, Asilos para Idosos, que no fundo parece mais depósitos humanos que mantém-se ativos graças a instituições de caridade que abrem as suas portas para uma acolhida.

Aqui o que brilha sob este céu de brigadeiro é o desemprego e o desrespeito a Cidadania. O que brilha é uma juventude desesperanças e desastrada com um poder publico que de presente lhe sonega oportunidades. O sol da liberdade que brilha aqui, expõe os raios fúlgidos da violência urbana, do terror como se fosse uma guerra civil que ronda os meios urbanos e a arrogância d quem está do outro lado do balcão e olha a massa por cima dos óculos de graus alucinantes e luxuosos.

O sol da liberdade que passa por aqui em raios fúlgidos, é o mesmo que aquece o comercio ilegal de mulheres, como o que é feito despudorosamente em algumas regiões mais pobre deste país e tem a Espanha como destino para ali legalizar-se como prostituta.

É o mesmo sol que encobre a morte da criança indígena ou a negra, por malária, por desnutrição ou a temida febre amarela que agente imaginava já haver irradicalizada. Agora para expor mais ainda a incompetência de alguns com a má vontade de tantos surge ainda a morte por raiva humana, causada por uma espécie de morcegos nas regiões norte e nordeste deste país.

Esse sol da liberdade trás o sarampo, a catapora, a cachumba e ressuscita tantas outras marzelas que eu não me canso de pensar, como a inércia do poder público, pode patrocinar tanta miséria junta com tanta falta de sensibilidade humana.(PAUSA )Ineptos ( PAUSA )

Mas queremos todos que esse sol mude de lado, que com ele venha a esperança e com ela a realidade, para que todos nós possamos sairmos deste marasmo e vivificar um momento grandioso de fraternidade. Que os raios fúlgidos recaía sobre nós e imputamo-nos ousadia, coragem, disposição para avançarmos e mudar esse quadro obscuro, que toma conta da população brasileira, mas que manipulado como ela é acaba passando despercebido e agente as vezes finge que não acontece e tudo ronda ao nosso lado.

Vou recordar um fato, era o ano de 1654, ali em São lis, Capital do Estado do Maranhão, no chamado "Sermão de Santo Antônio ou Sermão dos Peixes " o Padre Antônio Vieira, um dos maiores oradores da língua Portuguesa em sua época, já dizia, abrindo texto do seu Sermão Anti Corrupção, repetindo e refletindo em cima da frase de Jesus Cristo " Vós sois o sal da terra". Neste Sermão ele repreende tudo o que eu denuncio aqui: a maldita habilidade que o homem tem para se corromper. Uns se corrompem com uma garrafa de vinho. Portanto, naquele dia repetiu o Padre Antônio Vieira na nossa doce e bela São Luís do Maranhão.

Disse ele: "Já que não querem vocês me ouvi, deixem –me pelos menos ouvi os peixes". Ainda copiando Antônio Vieira, que dizia, o pregador tem duas missões que jamais pode fugir a ela.

Primeiro: Conservar-se são.

Segundo: Preservar-se para não se deixar corromper-se.

Essas propriedades foram deixadas por Santo Antônio, o Português. Este também dizia: o bom pregador também tem obrigações e propriedades.

Primeira Propriedade – Louvar aquilo que é bem

Segunda Propriedade - É repreender a corrupção.

Amigos irmãos em Cristo, combatendo com o bom combate agente chega lá, e com isso certamente faremos uma grande aliança com a nossa consciência e abriremos as portas das oportunidades, que tanto lutamos por ela, em uma condição de igualdade.

Eu fico aqui diante de vocês, imaginando sobre a nossa bela São Luiz, de voz empostada, o padre com toda a sua sabedoria dizendo:

" Os pregadores são o sal da terra e, portanto os devem conservá-la na fé cristã. O estado atual de corrupção no mundo deve-se a falha do pregador( que não prega a verdadeira doutrina e nem age de acordo com ela, mas segundo os seus próprios interesses pessoais)

Simula dirigir-se então aos peixes e não aos homens( à imagem do anedotário Santo Antônio). Tomando o que os peixes tem de bom, propõe ao pregador as funções RÊMORA – que é a resistência a paixão do ouvinte e TORPEDO – que se faz temer perla autoridade e QUATRO OLHOS – a visão que recompensa o castigo e SARDINHAS - que é o sustento para os pobres".

Por outro lado, combate os defeitos dos ouvintes, à imagem de tipos defeituosos de tipos entre os peixes. Por exemplo; prestem muita atenção como em 1654 , já existia e se hoje existe não sei se é uma mera coincidência.

RONCADORES – Os que ameaçam sendo fracos

PREGADORES – São os parasitas e bajuladores que dependem do poder alheio

VOADORES – Ambiciosos que se enganam com a sua condição e, enfim os que são como


POLVOS – Que são os padres oportunistas, sem caracter, todos apreciadores de bens alheio.

Quis fazer esta homenagem à aquele que foi um dos que decantou o meu Estado, nesse resumo de um dos seus muitos Sermões.

Eu de coração, desejo a todos a paz, aquela do Cristo , eu vos dou, à todos sem distinção de cor, raça ou credo, eu vos deixo a minha alegria em prol de terem ficado comigo, até este momento, ora sorrindo, outrora aplaudindo, ou em algum momento de meditação e saindo daqui sabendo que a vida é muito mais que " o riso e o aplauso ", para um texto de teatro moderno e simples, muitíssimo simples (GRITANDO COM A BENGALA EM PUNHO )


Arriba, que se arribem todos.

NESTE MOMENTO OS DOIS MALANDROS VAI AO MEIO DO PUBLICO QUE ASSISTEM À ENCENAÇÃO E AMBOS DESTRIBUEM TRES GARRAFAS DE VINHO SUAVE, SERVINDO O MÁXIMO DE ASSISTENTES POSSIVEIS.. DEPOIS DE DESTRIBUIR O VINHO IRMÃ CAROLINA

ENTRA DESESPERADA NO PALCO AGITADA

IRMÃ CAROLINA

Padre ! padre

PADRE OLAVO ( ASSUSTANDO-SE)

O que aconteceu ? Diga.

IRMÃ CAROLINA

O vinho ... o vinho

AMBOS SE ENTREOLHAM.

CENA VINTE E DOIS

DEPOIS DE DESTRIBUIREM O VINHO AO PUBLICO, SOBEM AO PALCO O MALANDRO CARIOCA E O MALANDRO PAULISTA DE MÃOS DADAS E JUNTAM-SE AO LADO DO PADRE E DA FREIRA. MALANDRO PAULISTA VESTE; UM BERMUDÃO COLORIDO, UMA CAMISA SOCIAL ABOTOADA ATÉ O PESCOÇO, USA BONÉ, TÊNIS COM MEIA SOQUETE. MALANDRO CARIOCA, APARECE FANTASIADO DE PALHAÇO, COMPLETAMENTE COM TODOS OS APRETECHOS COM OS QUAIS SE FANTASIA UM PALHAÇO.

PADRE OLAVO ( AO VÊ-LO)

Cadê o vinho ?

MALANDRO PAULISTA

O vinho Carioca ?

MALANDRO CARIOCA

O vinho eu distribuir para o meu grande público que riu comigo até agora, afinal o por que o padre tem que beber o vinho sozinho ?

PADRE OLAVO E IRMÃ CAROLINA ( JUNTOS )

E agora ?

MALANDRO CARIOCA ( CAMINHANDO FANTASIADO DE PALHAÇO, COM OS BRAÇOS ABERTOS EM DIREÇÃO AO PUBLICO NA PONTA DO PALCO E FALANDO ALTO )

" Vou homenagear Adriano Suassuna, aquele pernambucano arretado:Somente para quem tomou vinho (PAUSA ) e para quem não pode beber ou eu não quis servir. (RINDO) Eu dou o que é meu: Se não há como vocês me pagar, vou exigir de vocês uma recompensa que não custa nada para este causo e, que para nós, é algo eficiente".

Queremos o seu aplauso, por favor.

( E SE CURVA DIANTE DO PUBLICO E CORRE PARA ABRAÇAR OS OUTROS , O PADRE OLAVO,O MALANDRO PAULISTA E A IRMÃ CAROLINA, ENQUANTO O PUBLICO APAUDEM E

 

 

................... o pano cai lentamente.

 

Fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim.

 

Texto Teatral : SERMÃO VERMELHO

AUTOR: José Maria Sousa Costa

São Paulo – Brasil, 03 de Novembro de 2005

Centro Cultural de São Paulo

16:56 hs.

 



SEGUNDO ATO DE - SERMÃO VERMELHO


SEGUNDO ATO

CENA NOVE

ABRE-SE O PANO, O PALCO ESTÁ A MEIA LUZ, TOTALMENTE VAZIO, SEM NADA.

ENTRA AIRMÃ CAROLINA RODOPIANO NO PALCO, COMO SE FOSSE UMA BAILARINA MODERNA. TRAZ EM MÃOS UM RAMALHETE DE ROSAS PREFERENCIALMERNTE DE COR VERMELHA. AO ADENTRAR NO PALCO ELA SE DIRIGE AO PÚBLICO E JOGA DE DUAS A TRÊS ROSAS NA DIREÇÃO DO MESMO.

IRMÃ CAROLINA


Estamos aqui para restaurar a verdade, vamos valorizar aqui está passagem nossa aqui na terra, a começar pelo roubo do vinho. Como é que podemos restaurar a moralidade pública se não discutirmos ética social e educação familiar .

CENA DEZ

( ENTRA O PADRE OLAVO SEM A BENGALA E SEM O CHAPÉU, MAS USANDO ÓCULOS.AO VÊ-LO A IRMÃ CAROLINA DIZ)

Olá padre Olavo, estás chegando por aqui ?

PADRE OLAVO

Sim, eu estava a sua procura, amanhã temos encontro na comunidade de Bastos.

IRMÃ CAROLINA

eu tenho uma novidade para lhe revelar ,eu encontrei os dois cidadãos e fui falar do ocorrido. Precisa o senhor entender o que eles me falaram, foi horripilante.

PADRE OLAVO

Com quais cidadãos , a irmã conversou ?

IIRMÃ CAROLINA

Eu conversei com o Carioca e o Paulista.

PADRE OLAVO

Precisa imprensar aqueles dois na parede, os dois sabem de muita coisa, mas é preciso tomar cuidado, por que eles são verdadeiros espertalhões.

IRMA CAROLINA

O senhor não acha que devemos ir até a delegacia registrar o fato, e a própria polícia cuidar disso para nós ?

PADRE OLAVO

Não irmã, vamos tirar a polícia do meio disso. Quando se coloca a polícia no meio das coisas agente perde o controle das coisas.

IRMÃ CAROLINA

Pode ser, mas precisamos tomar alguma providência, é preciso encontrar uma solução urgente. Hoje alguém roubou o vinho, amanhã eles invadem a igreja e podem até furtar as imagens, que são valiocíssimas.

PADRE OLAVO

Você tem razão irmã, eu sei da sua preocupação, tens razão em tudo, o que eu não gostaria era de chamar a atenção da sociedade para esse fato, senão corremos o risco de ficar sem saber, quem foi o autor dessa arte.

IRMA CAROLINA

Quando eu falei, eu sentir que eles ficaram pávidos, assustados, eu para ser sincera eu desconfio deles dois..

PADRE OLAVO

Desconfiar eu também desconfio, mas não carrego a certeza, se tivesse uma garantia agente tomaria a mercadoria deles.

IRMÃ CAROLINA

Aquele tal de Carioca é um debochado, agente fala e ele fica com aquela cara de galinha afogada.

PADRE OLAVO

Tome cuidado com essa gente. São pessoas perigosas, que nada tem a perder, para elas tanto faz como tanto fez, é a mesma coisa, tudo é a mesma mesmice. Esse pessoal irmã, não prima pelo respeito por ningém e nem por eles mesmos, amor ao próximo nem pensar. O que eles querem mesmo é rosetar.

IRMÃ CAROLINA

Mas ao senhor eles obedecem.

PADRE OLAVO

Eles fingem que obedecem, pelo menos à minha frente agente se entende de forma civilizada. Não existe alteração de voz e nem eu fico de bate boca com eles.

IRMÃ CAROLINA

Quando eu indaguei a eles pelo vinho o desconforto foi geral, advinde agora quem eles falaram que bebeu o vinho ?

PADRE OLAVO

Não faço a menor idéia

IRMA CAROLINA

Afirmaram que foi o padre que bebeu tudo sozinho e escondido.

PADRE OLAVO ( ARREGALANDO OS OLHOS E FRANZINDO A TESTA )

Eles falaram isso ?

IRMÃ CAROLINA

Sim.

PADRE OLAVO

Vou precisar encontrá-los o quanto antes melhor, conversarei com eles e não deixarei cabelo sobre cabelo daqueles infelizes.

IRMÃ CAROLINA

Eu preciso ir, tenho que encomendar que façam-se as hóstia.

PADRE OLAVO

Faça isso mesmo.

A IRMÃ CAROLINA SAI POR UM LADO E O PADRE OLAVO A ACOMPANHA ATÉ A SAIDA DO PALCO. PELO LADO CONTRARIO DE ONDE SAIU A IRMÃ ENTRAM O MALANDRO CARIOCA SEM NADA E O MALANDRO PAULISTA.

( MALNDRO PAULISTA ENTRA CUTUCANDO COM OS COTOVELO O AMIGO )

MALANDRO PALISTA ( PARA MALANDRO CARIOCA )

O padre, cacolé.

MALANDRO CARIOCA

Eu vi primeiro do que você, acha que eu estou dormindo de touca ?

PADRE OLAVO ( AVISTANDO-OS POR CIMA DOS ÓCULOS )

Aonde é que vão essas duas pessoas, ou pelo menos de onde vem. A quanto tempo eu queria vê-los ( ABRINDO OS BRAÇOS ) isto é uma satisfação enorme da minha parte

MALANDRO PAULISTA

Para nós também é motivo de alegria enorme, quando eu não lhe vejo eu fico muito triste

PADRE OLAVO

E você Carrasquinha, não fala nada ?

MALANDRO CARIOCA

Falar o que ? O senhor tá igual os manés, diz uma coisa e faz outra, quem vacila assim lá no morro da porca padre, perde a razão.

PADRE OLAVO

Eu não estou entendo nada do que o senhor está falando, até aonde eu saiba eu não lhe prometi nada.

MALANDRO CARIOCA

Como não ? ( LEVANDO AS MÃOS Á CABEÇA )

Até o senhor está querendo me passar para trás ?

PADRE OLAVO ( SE FAZENDO DE DESENTENDIDO )

O que foi que eu lhe prometi ?

MALANDRO CARIOCA

As araras, as onças, para agente encontrar a bebida

MALANDRO PAULISTA ( SURPRESO )

Essa você não me contou, não é Carioca ?

MALANDRO CARIOCA ( VIRANDO-SE A ELE )

E você precisa saber de alguma coisa ? Você tem dificuldade de imaginar, para tratar de negócio com gente letrado, que exige o raciocínio rápido, tem que ser pessoas especiais.

MALANDRO PAULISTA

Viu padre, ele já ia me passar para trás, ele só quer atrasar o meu lado.

MALANDRO CARIOCA

Você já é a fórmula do próprio atraso, mané ?

PADRE OLAVO

Vocês tem que se entender

MALANDRO PAULISTA ( CHIGANDO E GESTICULANDO )

Isso é um topeirão

PADRE OLAVO

Se acalmem.

MALANDRO PAULISTA

Quero saber como é que foi essa negociata padre vou querer receber a minha parte da mão desses enrrolão

MALANDRO CARIOCA

olha aí você perdido no óleo de dendê queimado. Quem negociou aqui, o que ? Você bebeu mijo ou comeu merda de rato morto.

MALANDRO PAULISTA ( FAZENDO SINAL COM O DEDO )

Quero o tutu que vai receber da mão do padre, malandro

PADRE OLAVO ( FALANDO ALTO )

Parem ( PAUSA )

Eu já pedi para os dois calarem. Eu não fiz negócio com nenhuma pessoa e muito menos com algum de vocês.

Está havendo um mal entendido por parte do Carioca, já várias vezes deixei claro que não gosto de esperteza, assim como não suporto qualquer irmão que seja desonesto, ou entenda que só ele é mais ágil que os outros.

As coisas devem serem colocadas em seus devidos ligares, com clareza e com esclarecimento, nada de esperteza, ganância, alguém querer ser mais que os outros. Isso não funciona é perder tempo. Nós pessoas de bem primamos pela honestidade.

Quem é que vai lucrar com tanta enrolarão de pessoas contra pessoa ?

MALANDRO CARIOCA

Padre agente não combinou que se eu descobrisse quem roubou os potes de vinho, o senho me dava algum

PADRE OLAVO

Eu não combinei nada com você, eu apenas sugeri, como sei que os seus conhecimentos são vastos quero que ajude-nos, é interesse de todos, estou dizendo isto por que não quero colocar a polícia no meio dessa confusão que arrumaram.

MALANDRO PAULISTA

É confusão que arrumaram

PADRE OLAVO

Isso foi roubo e, isso é grave

MALANDRO PAULISTA

O senhor não desconfia de ninguém ?

PADRE OLAVO

Não quero desconfiar eu quero é ter certeza do fato. Sabes que contra fatos não existem argumentos.

MALANDRO PAULISTA

Tem toda razão

PADRE OLAVO

É bom ter o seu apoio, afinal a Irmã Carolina me falou que você dois estão me acusando de ser o autor desse delito

MALANDRO PAULISTA ( BOQUEABERTO )

E não falei nada, quem lhe contou isso

PADRE OLAVO

A Irmã Carolina

MALANDRO PAULISTA ( VIRANDO-SE PARA O AMIGO )

Tá sabendo dessa têta aí ?

MALANDRO CARIOCA

Me erra, me esquece, não me envolve nesse disse me disse, eu detesto fofoquê, quem gosta de leva e trás é office boy

PADRE OLAVO

a irmã não mente

MALANDRO CARIOCA

Quem não mente padre ?

Só de pensar assim o mundo já está vivendo uma grande mentira. O senhor ainda não viu nada, quer ver quem mente forte são essas pessoas tidas como importantes( PAUSA ) O cara passou um tampão prometendo mundos e fundos, no dia em que se elegeu, cadê ? Só na asa dura e, mesmo assim se agente olhar muito para cima ainda corre o risco de não enxergar. Teve até quem teve a cara de pau para pedir para esquecer de tudo o que escreveu, então tudo 'dantes" era uma grande mentira. Afinal, por que a freira está isenta de mentir ou comentar uma mentirazinha ? Vamos ser mais polido, vamos dizer então que ela se equivocou, morô.

PADRE OLAVO ( SÉRIO)

Eu não morei nada, eu acredito nela. Somente nela.

Isso é um grande teatro

MALANDRO CARIOCA ( AGITANDO-SE )

Teatro não.

Se alguém estiver me usando para receber ou lucrar alguma coisa, eu vou querer receber a minha parte, exijo fielmente participação em lucros.

PADRE OLAVO

Filhinho você só pensa em dinheiro ?

MALANDRO CARIOCA

Em quê mais de bom eu poderia pensar ? Me responda de imediato e sem pestanejar. Quem com todas as suas faculdades mentais em ordem não gosta de tutu / ( FAZ GESTO COM O DEDO ). até a madre Santa Igreja, certamente não dispensa um trocadinho

PADRE OLAVO

Mas dinheiro não é tudo

MALANDRO CARIOCA

Mas faz parte do metiê

MALANDRO PAULISTA

Então seu eu encontrar os vinhos, o senhor acerta comigo ?

MALANDRO CARIOCA ( ATALHANDO )

Se eu fosse o senhor, eu apertava ele, me parece muito interessado. Isso é sugesta seu vigário. Cuidado com a lábia desse esperto

MALANDRO PAULISTA ( OLHANDO PARA O PADRE )

Padre, eu jamais aprontei com o senhor, eu vou encontrar o vinho e o senhor só me dá uns trocados ,eu lhe falarei em segredo

MALANDRO CARIOCA

Vem golpe aí, não vá acreditar na lábia desse mané aí, que em vez de recuperar os garrafões, pode acabar é sumindo os cálices

MALANDRO PAULISTA

Isso é leviandade da parte dele, eu sou correto

PADRE OLAVO

Todos nós somos corretos, até que se prove o contrário.

MALANDRO PAULISTA

Te coça com a minha parte

( MALANDRO CARIOCA FICA CALADO E PARADO OLHANDO DEMORADAMENTE PARA O PADRE E ORA PARA CARIOCA )

PADRE OLAVO ( AMEAÇANDO )

Se o vinho não aparecer eu vou entregar o caso ao coronel

MALANDRO PAULISTA ( ASSUSTADO )

Políiiiiiiiiiiiiiiiicia

MALANDRO CARIOCA ( SOLETRANDO )

Poooo ...líiiiiiii...ciiiiiii ... a ?

PADRE OLAVO

É isso mesmo o que acabaram de ouvir

MALANDRO CARIOCA ( DEBOCHANDO )

O senhor acha que a polícia vai mesmo se envolver nisso ?

PADRE OLAVO

Não só acho como eu tenho certeza. E no momento em que ela colocar a mão, no artista que construiu essa obra eu tenho até pena do coro dele.

MALANDRO PAULISTA

Só por causa do sumiço de uns quatro pingos de vinho, a polícia vai torturar uma pessoa /

PADRE OLAVO ( AMEAÇANDO )

Não só vai como deve.

E não pára por aí, quando esse cidadão adormecer, que chegar lá em cima ( APONTANDO PARA O CÉU ), São Pedro vai ter um têtê a têtê, a pé de ouvido com ele. Vai entrar na péia aqui na terra, pelos homens e lá no céu por São Pedro.

MALANDRO CARIOCA

Pois é seu padre, o senhor já imaginou então o que vai acontecer com aquele Arcebispo Americano, quando São Pedro puxar a folha corrida dele ?

PADRE OLAVO ( SURPRESO)

Bispo Americano ?

O que foi que ele fez ?

MALANDRO CARIOCA (CONTANDO NOS DEDOS )

Estuprou garotos, mexeu nos pauzinhos dos moleques, deixava os moleques trancados no seminário só para alisar as pernas da molecada e não se contendo com isso, ainda se deitava de costa para alguns moleques. E a molecada não perdia tempo, metia o ferro nele.

MALANDRO PAULISTA (IRÔNICO )

Ele também queria comer a molocadinha igual a porquinho assado

MALANDRO CARIOCA

Alguns...... outros ele e a sua turma meteram a ripa na molecada foi de qualquer jeito. Na marra, na força, com gozo ou sem gozo

PADRE OLAVO ( COM AS MÃOS NA CABEÇA )

Que horror o senhor está me falando

MALANDRO CARIOCA ( IRÔNICO )

Horror nada padre. Falta de vergonha daquele descarado que não puniu os agressores de 'anus de moleque", deveriam ter prendido ele em uma vara e colocado de cabeça para baixo e de presente lhe dá umas 500 chibatadas com umbigo de boi seco, até ele gozar pelo nariz.

PADRE OLAVO ( COM AS MÃOS NA CABEÇA )

Que crueldade ! Que horror ! Como você tem um coração duro, carioca ..

MALANDRO CARIOCA

Se por causa de quatro latas de vinho vale tortura, o bispo de rasgou o rabo dos moleques merece tortura dobrada e, eu vou querer está do lado do "Pedrinho" lá em cima para eu ver qual a sentença que ele vai dá ao bispo

PADRE OLAVO ( BRAVO E EXALTADO )

Chega ! Você está falando muita bobagem, isso são invencione ditas pela oposição que não se sustenta. Isso não tem nexo. O Vaticano não aceitaria essa sandice que o senhor diz delirando com essa mente doentia.

O Vaticano não compactua com isso.

MALANDRO CARIOCA

O Vaticano não só compactuou como encobriu, escondeu todos que comeram ou deram o rabo aos moleques e trancafiou em Roma, quando deveriam entregar todos eles aos detentos do ex- Carandiru, que lá o senhor ia ver como eles iam virar "menininhas" e andar de saia e bêbado.

PADRE OLAVO (SÉRIO )

A Igreja repele veementemente essa sua ofensa, com todo repúdio e, jamais volte a comentar isso, senão podes ainda custar-lhe o couro das costas ou a dentadura

MALANDRO CARIOCA ( COM AR DE PIEDADE E MOSTRANDO ARREPENDIMENTO E EM SEGUIDA FAZNDO O SINAL DA CRUZ)

Não seu padre o senhor está enganada, não sou eu que estou dizendo, quem comenta essas coisa é o "Ne York Times", Le Monde", Financial Time", O Globo", até o Cidade de Arari, trouxe matéria sobre esse assunto. Só o senhor não leu, tem razão, jornais católicos não escrevem essas marzelas, eu lamento muito. Padre, o mundo inteiro sabe disso, menos o senhor.

Que pena.

PADRE OLAVO

Você está fazendo uma calúnia danada contra o alto comando da Santa Igreja

MALANDRO CARIOCA ( BATENDO NO PEITO )

eu não, me tire desse tiroteio, citei jornais dos Estados Unidos, da França, da Inglaterra, do Brasil e até do nordeste, tõ fora disso meu reverendo e, se tudo isso é mentira, por que a Santa Sé não processa esses jornais todos ? Certamente ia levantar um dinheirão. Eu queria apenas ser o advogado dos moleques. Ia encher a pança de tutu

PADRE OLAVO

Vamos encerrar esse assunto .Você não tem autoridade para debater isso comigo

MALANDRO PAULISTA

Isso mesmo padre, vamos discutir o que interessa, eu quero é saber quem levou o guaraná e, o senhor dá-me a minha parte que a mim convier

PADRE OLAVO

Ver essas coisa para mim, o menino Deus vai ficar muito grato a todos vocês.

MALANDRO PAULISTA

Fique tranqüilo papai

PADRE OLAVO

Se estiveres novidade eu estarei na casa paroquial, serás recompensado. Por isso a receita do sucesso é ( SAINDO ) trabalho, trabalho e trabalho. (SAI DO PALCO )

O PADRE OLAVO SAI DO PALCO, MALANDRO PAULISTA E MALANDRO CARIOCA FICAM SÓ E GESTICULAM MUITO.

MALANDRO PAULISTA

Ô mané, você arrumou a sua arapuca com o padre e ia me enrolar novamente

MALANDRO CARIOCA

Ia enganar nada, você é bobo por acaso ?

MALANDRO PAULISTA

Você foi duro com o padre em marreco ?

MALANDRO CARIOCA

Tem que contar a real para aquele gagá, senão ele pensa que agente não sabe de nada, entendeu ? Eu leio jornal, eu assisto televisão, eu acesso a Internet, quem é malandro tem que ser atualizado, senão vira presa fácil nas mãos desses vigarista

MALANDRO PAULISTA ( PASSANDO A MÃO NA GARGANTA )

Eu estou com sede

MALANDRO CARIOCA

Bebe água

MALANDRO PAULISTA ( ABRINDO OS BRAÇOS )

Vai deixar o teu mano velho morrer de sede e a míngua ?

MALANDRO CARIOCA ( SEGURANDO PELO BRAÇO )

Beba água ou mijo (PAUSA ) eu duvido que morres de sede

MALANDRO PAULISTA ( APONTANDO-O )

Eu tenho muita piedade de tu, quando caíres nas mãos dos manos lá do morro. Não vai sobrar nem a sola do pé.

MALANDRO CARIOCA

Tá jogando conversa fora doido

MALANDRO PAULISTA

Eu sei o que falo, a parada é de responsa

MALANDRO CARIOCA

Fique aqui que eu vou quebrar o teu galho mais uma vez, eu não sou macaco gordo mas vou te ajudar sua capivara burra

MALANDRO PAULISTA

Qualé doido, vai me tirar ? ( SENTANDO-SE )

MALANDRO CARIOCA

Fica quieto, quietinho que eu vou buscar um bagulho para agente, mas não vai fazer como macaco velho que nunca comeu mel. Não é preciso se lambuze e muito menos vomitar na roupa

( MALANDRO CARIOCA SAI RAPIDAMENTE DO PALCO, PEGA A MOCHILA COM O VINHO E VOLTA, O MALANDRO PAULISTA O ESPERA SENTADO NO FUNDO DO PALCO )


MALANDRO CARIOCA (ENTRANDO COM A MOCHILA ÁS COSTAS)

Ei doido, por que você está acido ai no espaço ? Tá ficando borocoxô, vacilão.

MALANDRO PAULISTA ( LEVANTANDO-SE)

O que você trouxe aí para agente

MALANDRO CARIOCA (ARRIANDO A MOCHILA VAGAROSAMENTE NO CHÃO )

Não te levanta dá, podes ficar ai mesmo desmaiado ( PAUSA ) Você estava no jeito certo de morrer. Deveria ter morrido

MALANDRO PAULISTA ( ANCIOSO )

Deixa de frescura e serve o papi aqui, a água já está quase afogando a língua

MALANDRO CARIOCA

Por que você não morre logo afogado

MALANDRO PAULISTA

Ô mané, enche logo o meu copo

MALANDRO CARIOCA ( TIRA DA MOCHILA UM LITRO DE VINHO, FICA OLHANDO DE UM LADO A OUTRO COM A CARA DE ASSUSTADO E ENTREGANDO O COPO CHEIO )

Toma e bebe.

MALANDRO PAULISTA ( SEGURANDO O COPO CHEIO)

Até que enfim eu recebi um copo completo.

MALANDRO CARIOCA

Mas não é para beber tudo, é só a metade. Ou melhor menos da metade, a maior ou seja a terceira parte é para dividir entre eu e o Santo

MALANDRO PAULISTA ( BEBERICANDO )

Que Santo desgraçado ?

MALANDRO CARIOCA

Beba logo a sua parte rapidamente

MALANDRO PAULISTA ( COM O COPO NA MÃO )

Isso não é assim, agente tem que sentir o sabor da bebida, tem que enrolar a bebida sobre a língua e sentir o seu sabor.

MALANDRO CARIOCA

Deixa de frescura desgraçado, pobre não tem que está com essas etiquetas, isso é coisa de veado

MALANDRO PAULISTA

Êpa !

MALANDRO CARIOCA

Vamos doido, adianta o meu lado

MALANDRO PAULISTA ( TOMANDO – O )

Depois deste tem ainda quantos garrafões ?

MALANDRO CARIOCA

Beba e, não faça indagação

MALANDRO PAULISTA

Miserável agente poderia tomar os três garrafões e dava o golpe naquele bode velho

MALANDRO CARIOCA

Qual bode ?

MALANDRO PAULISTA

O padre Olavo

MALANDRO CARIOCA

A sua parte você já usou. Não tem mais parte, isto é um produto caro

MALANDRO PAULISTA

Caro o quê ? Nem é português essa bebida

MALANDRO CARIOCA

Ô língua presa, vê se devolve o copo com a minha parte

MALANDRO PAULISTA

Vou beber tudo

MALANDRO CARIOCA

Bebe logo e devolve o meu copinho

MALANDRO PAULISTA ( BEBENDO VAGAROSAMENTE )

Depois deste tem mais, não é velhaco ?

MALANDRO CARIOCA

Tem um copo de veneno !

MALANDRO PAULISTA

Esse tu entrega para a tua mãe

MALANDRO CARIOCA

Apelô , não ofende a velha seu bundão.

MALANDRO PAULISTA

É só par você ficar atento, fica esperto senão a qualquer hora o jacaré te abraça

MALANDRO CARIOCA

Não entra em choque, você já viu malandro cair, ele apenas desliza

MALANDRO PAULISTA

Cuidado com o teu deslize

MALANDRO CARIOCA ( PEDINDO O COPO )

Você já jogou muita conversa fora, me entrega o meu caneco, acho que já está é ficando de fogo

MALANDRO PAULISTA ( VIRANDO O COPO DE UMA VEZ SÓ NA BOCA E ENTREGANDO AO CARIOCA )

Mais tarde eu quero mais vinho, é muito saboroso ( LAMBENDO OS LÁBIOS não é atoa que a padralhada não deixa passar um bom trago

MALANDRO CARIOCA ( COM O COPO NA MAO)

Acaaaaaaaaaaabou.

MALANDRO PAULISTA

Acabou ? Como acabou ?

MALANDRO CARIOCA ( GUARDANDO TUDO )

Acabou a farra do vinho, afinal você não tem adega e nem é fazendeiro

MALANDRO PAULISTA

Você quer me tortura, mermo heim ?

MALANDRO CARIOCA

Eu quero que você morra o mais rápido possível e me deixa em paz. Quero que subas para o andar de riba

MALANDRO PAULISTA

Você vai junto comigo ?

MALANDRO CARIOCA

Vá você só. Pedrinho não quer nada comigo, ele precisa de mim aqui na terra

MALANDRO PAULISTA

Vou na casa paroquial

MALANDRO CARIOCA

Fazer o que lá na casa ?

MALANDRO PAULISTA

Vou acertar a minha parte com o viga

MALANDRO CARIOCA

Que parte ?

O que está acontecendo que o mano aqui não está sabendo de nada

MALANDRO PAULISTA

Negócios, ele me convidou apara ir até lá tomar um chazinho com ele

MALANDRO CARIOCA ( SURPRESO )

Tô sabendo disso não, mané

MALANDRO PAULISTA

E precisa você saber seu tartaruga ?

MALANDRO CARIOCA

Como que aquele maluco velho vai te convidar para uma fita e, não fala nada para o amigo velho dele aqui /

MALANDRO PAULISTA

Tu és malandro demais, já ficou de bica, só por que eu vou cair na cabana da paroquia.

MALANDRO CARIOCA

Cair ?

Tu acha que o padre vai deixar tu cair no morro dele ?

MALANDRO PAULISTA

Só vai

MALANDRO CARIOCA

Duvido

MALANDRO PAULISTA

Teu mal é não por fé

MALANDRO CARIOCA

Sonhador

MALANDRO PAULISTA

Eu tenho os meus meios

MALANDRO CARIOCA

Quais são os seus meios doido ?

MALANDRO PAULISTA

É nessa que você viaja na maionese. Vai ficar chupando o dedo, somente para não pensar que é mais esperto

MALANDRO CARIOCA ( COLOCANDO A MOCHILA NAS COSTA COM TODA A SUA BEBIDA )


Fui mané ........( E SAI DO PALCO RAPIDAMENTE )

MALANDRO PAULISTA ( GRITANDO ALTO E CHAMANDO )

Carioca ! Carioca !

CENA ONZE

ENTRA A IRMÂ CAROLINA AGITADA

Cadê ele ?

Aonde ele foi ?

MALANDRO PAULISTA

Quem ?

IRMÃ CAROLINA ( ANDANDO DE UM LADO A OUTRO DO PALCO COMO QUEM ESTÁ A PROCURA DE ALGUMA COISA

Quem ? Quem é que eu procuro

MALANDRO PAULISTA ( ABRINDO OS BRAÇOS )

Eu não sei, a senhora entrou aqui em estado de choque

IRMÃ CAROLINA

É claro que eu estou procurando o seu coparça

MALANDRO PAULISTA

Alto lá irmã, estás confundido as coisas, estás me ofendendo, eu vou me queixar ao superior

IRMÃ CAROLINA ( RAIANDO )

Deixa de graça eu quero saber daquele enrrolado e falastrão. Ele tá pensando que eu sou o padre Olavo ? Comigo o buraco é mais embaixo.

MALANDRO PAULISTA (SORRINDO)

Todo mundo sabe disso irmã. Cada um faz o buraco no lugar em que quiser: embaixo, enrriba, do lado, na frente, atrás. O pessoal faz buraco a gosto do pedinte.

IRMÃ CAROLINA ( COM O DEDO EM RISTE )

Não fale assim comigo.

MALANDRO PAULISTA

Sempre lhe tratei com respeito e recato

IRMÃ CAROLINA

E seja muito bom que seja assim eternamente. E u preciso mesmo é falar com o espertalhão do seu companheiro.

MALANDRO PAULISTA

Eu não tenho parceiro e nem companheiro espertalhão.

IRMÃ CAROLINA

Então como é que eu me dirijo àquele cidadão que anda com você e atende pela alcunha de Carioca ? Na verdade eu nem sei se aquilo nasceu no Rio de Janeiro, para ser chamado assim.

MALANDRO PAULISTA

Qualé irmã, tá tirando o cara, só por que ele não está aqui na sua companhia ?

IRMÃ CAROLINA

Eu não estou tirando ninguém, eu tenho é um monte de verdade para falar na fuça dele, inclusive que a polícia já está próxima de colocar a mão naquele que foi até à sacristia e pegou o material da Igreja

MALANDRO PAULISTA

Não tô sabendo de nada

IRMÃ CAROLINA

Sabe sim. E muito.

MALANDRO PAULISTA

Saí pra lá irmã. Qualé ? Vai querer ficar encarnando em mim agora ?

IRMÃ CAROLINA

O vinho vai ter que aparecer.

MALANDRO PAULISTA

Sei de vinho não, senhora.

IRMÃ CAROLINA

E quem sabe ?

MALANDRO PAULISTA

Isso é coisas de vocês.

IRMÃ CAROLINA

Que vocês, rapaz ?

MALANDRO PAULISTA

Coisa sua e do padre, eu não tenho nada com essa fita, não. A minha pessoa está fora desse carrossel.

IRMÃ CAROLINA

A polícia é que vai dizer se o senhor está fora ou está dentro. Ela é que vai investigar e já está com o chicote quase no lombo do cara de pau, que foram mexer no que não era deles.

MALANDRO PAULISTA

Poliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiícia

IRMÃ CAROLINA

Isso mesmo que acabara de repetir

MALANDRO PAULISTA

E o que eu tenho haver com essa marmelada ?

IRMÃ CAROLINA

Os homens da lei é que vai lhe responder

MALANDRO PAULISTA

Por que a madame quer me envolver nessa têta ?

Eu nada tenho com isso já disse

IRMÃ CAROLINA

E quem é que tem ?

Aonde está o seu amigo ?

MALANDRO PAULISTA

Não estou sabendo de nada, me erra.

IRMÃ CAROLINA

Sabe sim, sabes de tudo, conheces o caminho das pedras desta cidade, como não vai saber de uma coisa grave dessa que aconteceu ?

MALANDRO PAULISTA FICA ANDANDO DE UM LADO PARA O OUTRO DO PALCO IMPACIENTEMENTE, QUANDO DEREPENTE ENTRA O PADRE OLAVO PAPRESSADO VESTIDO TÍPICAMENTE DE VERMELHO.

CENA DOZE

PADRE OLAVO JÁ NO PALCO

O que está acontecendo ?

IRMÃ CAROLINA( SURPRESA COMO QUEM NÃO ESPERASSE A ENTRADA DO VIGÁRIO)

Olha padre, estou tendo um "tetê a tetê" com o Paulista, pra ver se agente chega logo a um acordo. Aí eu entendo que seja bom para eles e para a igreja.

PADRE OLAVO ( SE DIREGINDO AO MALANDRO PAULISTA )

Eu já conversei com vocês e narrei a minha versão. Entendo que é bom abrirem a boca sobre o que sabem, afinal agente está só aqui.

MALANDRO PAULISTA

Mas eu não sei quem foi.

IRMÃ CAROLINA

Se você quiser, você sabe e diz.

PADRE OLAVO

Pode falar eu prometo segredo

MALANDRO PAULISTA ( BATENDO NO PEITO )

O senhor também está querendo me incriminar ?

PADRE OLAVO

Sabes que agente não vai ficar mentindo o tempo todo.

MALANDRO PAULISTA

Mas eu não estou mentindo

PADRE OLAVO

Cadê o Carioca ?

MALANDRO PAULISTA

Ainda não vi ele hoje

PADRE OLAVO

Sabes que ele pode está por trás disso ?

MALANDRO PAULISTA

Seu padre eu não meto a mão no fogo nem por meu pai, mas não vou acusar o truta, por que eu não vi ele fazer a fita.

PADRE OLAVO

E quem fez a fita.

MALANDRO PAULISTA

Eu também quero saber.

PADRE OLAVO

Estás faltando com a verdade.

MALANDRO PAULISTA

Não faça pre-julgamnento.

PADRE OLAVO

Como que acontece umas coisas dessas e ninguém sabe e ninguém viu. ?

MALANDRO PAULISTA

A igreja deveria ter mais segurança.

PADRE OLAVO

Só se eu colocar o quartel lá armado até os dentes. Aí deixa de ser uma cas de Deus e passa a ser um quartel.

MALANDRO PAULISTA

Tem mais é que mandar aquelas "carolas' ficarem atentas do que ficar a vida inteira falando mal dos outros.


CENA TREZE

O PALCO ESCURECE E AO ACENDE-LAS APARECE UM NOVO CENÁRIO. AGORA SÃO TRES BANCOS. UM AO CENTRO E DOIS AO LADO, FORMANDO UM TRIANGULO. EM UM DELES ESTÁ SENTADO A SUA MOCHILA VAZIA COM ALGUMAS PEÇAS DE ROUPAS DENTRO, ALÉMDE ISQUEIRO OU FÓSFORO E MASSO DE CIGARRO.

MALANDRO CARIOCA ( SENTADO )

Quero ver o que eles vão falar comigo agora . Eu sento a pua nesses manés, eu abro o debate é no bico a bico. Para falar botoeira não falta gente, eu quero ver é colocar em prática todo o discurso vermelho que a madre se apregoa.

( MALANDRO CARIOCA ESPREGUIÇA-SE,COLOCA A MOCHILA NO BANDO E DEITA APOIANDO A CABEÇA SOBRE ELA, COMO QUEM ESPERA ALGUÉM. ENQUANTO ISSO SOBRE ELA, COMO QUEM ESPERA POR ALGUÉM. ENQUANTO ISSO O MALANDRO PAULISTA ENTRA ASSUSTADO ).

MALANDRO PAULISTA

Ô carcaça de jegue morto, aonde você se enfiou ? Lhe procurei por todo canto..

MALANDRO CARIOCA

O que é que o doido quer ?

MALANDRO PAULISTA

Você não pode fugir do seu corpo.

MALANDRO CARIOCA

Eu não sou o seu corpo, eu quero é que você se abrace com um caminhão.

MALANDRO PAULISTA

Olha o bem que você me deseja.

MALANDRO CARIOCA (SORRINDO)

Brincadeira, no limiar das expectativas eu gosto de você, somos companheiros de guerra, estamos nessa luta brusca pela sobrevivência.

MALANDRO PAULISTA

Ô bobo, tá caindo aonde ?

MALANDRO CARIOCA

Na rua

MALANDRO PAULISTA

Na rua ?

MALANDRO CARIOCA

E você ?

MALANDRO PAULISTA

Tô caindo no seu Albergue.

MALANDRO CARIOCA

Albergue é barca furada. Fica aqueles zica lá só para azucrinar as pessoas. De bem.

MALANDRO PAULISTA

Mas é melhor que cair no relento.

MALANDRO CARIOCA

Albergue é só boca de rango

MALANDRO PAULISTA

Não é bem assim otário, mora muito mané, mas mora trabalhador.

MALANDRO CARIOCA

Tu já viu trabalhador, morar ali, camarada.

MALANDRO PAULISTA

Claro que mora. Moram pessoas que estudam enfim ,já foi-se o tempo em que só caía malandro.

MALANDRO CARIOCA

Tô fora desse bangu, a rua é a minha casa e o chapéu o meu país, parodiando o filosofo: Malandro é malandro, e mané é mané, seu rolha.

MALANDRO PAULISTA

Ô meu, a Irmã tá uma piaba com a sua pessoa.

MALANDRO CARIOCA

Quem é essa tua irmã ?

MALANDRO PAULISTA

A freira, meu....

MALANDRO CARIOCA

Eu quero lá saber de freira, mané.

MALANDRO PAULISTA

Ela me apertou junto com o padre e disse que vai colocar você na cadeia

MALANDRO CARIOCA

Só se for na cadeia alimentar.

MALANDRO PAULISTA

Não tõ jogando sujesta, acredite.

MALANDRO CARIOCA

Acredito sim, se ela vacilar eu vou dentro dela

MALANDRO PAULISTA

Ela falou em colocar os "home" no seu pé.

MALANDRO CARIOCA

Olha ela errada, quem gosta de "home" é quartel, morô /

MALANDRO PAULISTA ( PASSANDO O DEDO NA GOELA )

Padre Olavo também está por aqui com a sua pessoa

MALANDRO CARIOCA

Eu quero é que ele vá correr no parque de batina ao meio dia com o sol bem quente, pra ver se sente frio.

MALANDRO PAULISTA

Tome muito cuidado.

MALANDRO CARIOCA

Obrigado por me deixar de antena ligado

MALANDRO PAULISTA

Obrigado nada .. ... eu quero pagamento

MALANDRO CARIOCA

Quero o que ?

MALANDRO PAULISTA

Eu quero aquele líquido avermelhado e meio ácido, que caí na garganta dos bacanas e desliza pela goela até o esôfago e agita um estômago agonizante

MALANDRO CARIOCA

Vai morrer no Brás, vagabundo.

MALANDRO PAULISTA

Já estou com sede de novo. Agora a garganta já começa a arder ( ROSSANDO A MÃO NA GARGANTA )

MALANDRO CARIOCA

Vai se enturrifar no inferno

MALANDRO PAULISTA

Vou sair ,vou procurar Sacolé, preciso pegar uns panos com ele.

MALANDRO CARIOCA

Quero que ele vire presunto

MALANDRO PAULISTA

Se aquele doido te pegar ele te arregaça.

MALANDRO CARIOCA

Maluco, conhece maluco. ( SENTANDO-SE)

MALANDRO PAULISTA

Ô doido, arranja aquela pimenta. Eu vou buscar algum com Sacolé qualquer coisa eu jogo uma bomba na tua sacola ( SAIIIIIIIIIIINDO )

MALANDRO CARIOCA ( APERTANDO A MÃO DO AMIGO )

Volta mermo cara. Tu és dos meus. Volta vivo, não sai daqui. Te espero.

MALANDRO PAULISTA SAI VAGAROSAMENTE E QUANDO DA SUA SAIDA ENTRA O PADRE OLAVO

CENA QUATORZE

PADRE OLAVO ( ENTRANDO FALANDO E GRITANDO ALTO )

É preciso plantar a paz e semear o amor.

É preciso buscar a existência da luz para clarear a vida e iluminar o caminho de cada um. É preciso não duvidar, nem se expor a tudo errado uma laranja podre estraga o cesto inteiro.

MALANDRO CARIOCA ( LEVANTANDO-SE)

Ô padre, qual ´e o preço do alface nessa feira ?

PADRE OLAVO

Que feira, menino ?

MALANDRO CARIOCA

O senhor entra com esse barulho todo, acaba incomodando a minha pessoa com tanta barulhada

PADRE OLAVO

Eu não vi que estavas aqui

MALANDRO CARIOCA

Já tá assim, padre ?

PADRE OLAVO

Estava mesmo querendo falar com você.

MALANDRO CARIOCA

Eis aqui, ao vivo e preto e branco

PADRE OLAVO ( PASSANDO A MÃO NA CABEÇA DO CARIOCA 0

Diga-me baixinho, quem surrupiou o vinho da nossa Igreja

MALANDRO CARIOCA

O senhor está querendo me coagir

PADRE OLAVO

Você sabe que o Paulista, com todo aquele jeito manso pode está por trás disso.

MALANDRO CARIOCA

Eu não sei de nada

PADRE OLAVO

E quem sabe ?

PADRE OLAVO

Não.

MALANDRO CARIOCA

Então, estás insinuando o que ?

MALANDRO CARIOCA

Eu também quero saber

PADRE OLAVO

Sabias que toda a igreja desconfia de pessoa que tem a proximidade, com aquele ambiente ?

MALANDRO CARIOCA

A igreja está certinha. A pessoa que praticou essa arte está por ali por perto; pode ser o sacristão, as freiras ; os padres e por que não aquelas carolas que ficam o tempo todo cochichando pelos cantos do prédio ?

PADRE OLAVO

Com que autonomia o senhor desconfia das pessoas que me ajudam ?

MALNDRO CARIOCA

Com a mesma que o senhor tem em desconfiar de mim e do Paulista

PADRE OLAVO

Você está muito agressivo

MALANDRO CARIOCA

Não. Estou expondo a minha idéia. Sabe o que acontece padre, as pessoas são acostumadas a falar, falar e falar. Muita gente tem dificuldade em ouvi e o senhor sabe que 'ouvir" é uma filosofia em que exige sabedoria e reflexão, além de que, diz o provérbio popular, quem fala o que quer acaba ouvindo aquilo que não quer.

PADRE OLAVO

Você está sabido menino

MALANDRO CARIOCA

O senhor que está falando

PADRE OLAVO

Estão me obrigando a envolver a policia nesse caso

MALANDRO CARIOCA

Cuidado

PADRE OLAVO

Por que ?

MALANDRO CARIOCA

Muito cuidado

PADRE OLAVO

Responda

MALANDRO CARIOCA

Derepente o senhor pensa que o ladrão é de um lugar e ele, pode aparecer no outro

PADRE OLAVO

Pode está aqui, agora ?

MALANDRO CARIOCA

Pode sim, ele pode está do lado oposto ao meu.

PADRE OLAVO

Estás faltando com respeito comigo

MALANDRO CARIOCA ( ABRINDO OS BRAÇOS )

Qualé padre, vai me tirar agora ? ( PASSANDO A MÃO NA TESTA) aqui na minha cara tem alguma placa de mané, ou tá pensando que eu sou otário ? coloque a sua polícia aonde quiser ,atrás de quem quiser, não fale mais comigo sobre esse assunto eu não lhe devo

PADRE OLAVO

Por que ficaste aflito

MALANDRO CARIOCA

Estás enganado

PADRE OLAVO

Alguém vai prestar conta lá no céu

MALANDRO CARIOCA

Muita gente tem que presta conta mermo

PADRE OLAVO

Ainda bem que o senhor sabe

MALANDRO CARIOCA

A sociedade só é sociedade se organizar-se. Organize a sua. Aquela sacristia parece até a ponte da amizade em dia de sexta feira ,é agitação de noite e de dia. Coloque alguém lá para controlar aquilo. Desconfias de mim e do meu amigo. E se o ladrão são pessoas suas, como é que fica a sua cara.

PADRE OLAVO

Com a mesma

MALANDRO CARIOCA

Aquela do São João da Barra

PADRE OLAVO

Respeito .

CENA QUINZE

ENTRA MALANDRO PAULISTA COM UMA TOUCA NA CABEÇA

MALANDRO CARIOCA ( OLHANDO O AMIGO )

Ele está desconfiando de você ?

MALANDRO PAULISTA

De mim ? O que eu fiz ?

MALANDRO CARIOCA

Com a palavra o padre

PADRE OLAVO

Não desconfio de ninguém. Eu preciso é ter certeza. Desconfiança é suspeição. E suspeição é crime.

MALANDRO PAULISTA

Não há motivo para desconfiar de mim

MALANDRO CARIOCA

Estamos aqui padre, fale tudo o que tiver de falar, vamos colocar tudo em pratos limpos.

PADRE OLAVO

Vocês conhecem o meu pensamento

MALANDRO CARIOCA

Sem filosofia

PADRE OLAVO

O vinho tinto

MALANDRO PAULISTA

O senhor está vacilando, uma hora oferece dinheiro pra mim, outra para o carioca, qual é a sua. ?

PADRE OLAVO

Não me pressione.

MALANDRO CARIOCA

O senhor me ofereceu araras e galos

PADRE OLAVO

Eu não sou dono de zoológico, logo não tenho como prometer bichos. Não sou criador

MALANDRO PAULISTA

Não se faça de desentendido

PADRE OLAVO

Se vocês tivessem interesse em alguma coisa, já teriam descoberto o autor desse delito

MALANDRO CARIOCA

Queremos descobrir sim, apenas precisa adiantar uma para nós.

PADRE OLAVO

Não vou adiantar nada

MALANDRO PAULISTA

Assim fica ruim

PADRE OLAVO

Paulista, aonde você está dormindo ?

MALANDRO PAULISTA

Em um Albergue

PADRE OLAVO

Lá é bom ?

MALANDRO PAULISTA

É bom, mas tem muita zica

PADRE OLAVO

O que é zica ? É o feminino de zico, aquele famoso jogador do flamengo ?

MALANDRO PAULISTA

Tá me tirando padre ? zica, é o cara que atrasa o lado dos outros, só pensa em roubar, deseja tudo de mal para os outros e ainda fica de zoião, nas coisas dos outros.

PADRE OLAVO

E você Carioca ?

MALANDRO CARIOCA

A minha casa é um chapéu e a minha Pátria é a rua, entenda como entender.

PADRE OLAVO

É bom ter a rua como limite para conquistar as suas coisas.

MALANDRO CARIOCA

A rua é uma dor incomensurável, quem é que não gosta de viver na rua ? Todo homem quer uma casa, um lugar para ficar, acomodar os seus sonhos e descansar a sua mente. A rua é uma aflição

PADRE OLAVO

E por que não procuras uma Casa de Acolhida ?

MALANDRO CARIOCA

É pior, a tortura é clamuflada

PADRE OLAVO

Delineie um ideal de vida e corra atrás dele, ainda quando houver tempo

MALANDRO PAULISTA ( SACUDINDO A CABEÇA)

Tudo isso é verdade

MALANDRO CARIOCA ( AFIRMATIVAMENTE)

Verdadeiramente é verdadeiro

PADRE OLAVO

Filhinhos, reajam agora enquanto é tempo. Encontre um caminho o qual podes seguir. Tracem um plano de vida a trilhar. Lembrem-se que hoje você é jovem e, que no amanhã certamente o seu corpo estará mais cansado, não se esqueça que tudo o que está sobre a terra é competição e competitividade. Cada um precisa ocupar o seu espaço e ir acomodando-se conforme o tamanho do corpo. A rua é apenas parte de um longadouro da cidade, é uma via ,ela não pode jamais ser tomada como abrigo, como moradia ,como ponto de descanso para pessoas. Esse tamanho de coisas, nada mais é, que um acinte a sociedade civilizada que prima pela qualidade de vida do ser humano.

Eu não aceito esse tipo de coisas. A intelectualidade brasileira não compactua com esse desprezo ou desleixo, em que é jogado aquelas pessoas menos favorecidas em seu poderio econômico. É preciso ter sensibilidade humana para sentir isso e, uma dureza muito grande no coração para conviver com situações tais como : crianças abandonadas nos grandes centros urbanos, velhos abandonados em asilos pelo País afora, uma quantidade enorme de pessoas desamparadas em situação de rua, ou que fazem da rua a sua casa ou que trancafiam-se em albergues ou casas de acolhida. Tudo isso é ruim. É uma perda total no Estado da Cidadania, é uma perda do estado de estímulo da pessoa, é acreditar no ranço da não recuperação do ser humano. Isso é um erro.

MALANDRO PAULISTA

Por que é erro ?

PADRE OLAVO

Temos que acreditar que o homem é sempre capaz de produzir e aglutinar forças positivas.

É preciso ter o direito de lutar até o fim pelos seus sonhos e seus ideais. Enfim, é preciso ter esperança que o dia de amanhã, certamente será bem melhor do que o de hoje.

Façamos alguma coisa povos todos, eu certamente vos garanto apoio e lealdade. Que varramos deste solo, todo o ódio, todo o rancor, toda a fome e encontremos aqui além da soberania plena, o caminho do futuro e da razão. Já não basta dizer que gosta de pessoas, se faz necessário doar-se em prol das pessoas.

Está lá escrito no livro Sagrado – o homem disse – O maior dos mandamentos é amar a Deus sobre todas as coisas e o segundo é quase igual ao primeiro, é amar a Deus sobre todas as coisas .Quem é o meu próximo ainda indagou alguém. O teu próximo aquele que está sofrendo com a fome de justiça.

O teu próximo é aquele que dorme com fome ,é aquele que clama por igualdade e ver-se distanciar-se todas as oportunidades de crescimento e de seu projeto individual. Precisamos acolher esse pessoal, que clama por socorro. Só pode ajuda aquele que necessita. Nenhuma criança chora se estiver amamentada.

Nenhuma pessoa sorrir se estiver sentindo dor, logo todo aquele que pede socorro ou clama aos céus, é por que certamente precisa de ajuda.

Digamos sempre não às injustiças.

Digamos sempre não as mentiras plantadas, que às vezes são patrocinadas por interesses particulares com a finalidade apenas de difamar ,caluniar, alvitra contra a pessoa ou entidades onde muitas vezes, não se sustenta num primeiro debate sério e imparcial..

MALANDRO CARIOCA

E a igreja não comete lapso ?

PADRE OLAVO

Comete.

Irmãozinhos meus na fé, certamente a igreja também comete os seus enganos. Mas uma coisa é cometer enganos, a outra é permanecer sempre enganando o bom senso dos indivíduos. Mesmo a igreja cometendo enganos, teve a coragem de pedir perdão por alguns dos seus erros cometidos. João Paulo II, pediu perdão em nome da igreja a: judeus, luteranos e aproximou-a, muito dos muçulmanos. Foi um mensageiro da paz e da boa nova, andou por este mundo de meu Deus mostrando qual era a revelação. Dialogou com todas as teses religiosas; Membros de assembléias, Candomblés, Ateus e protestantes, Marmoristas ou não enfim, fez do diálogo a sua arma contra o ódio e o desespero.

Em nome do Nosso senhor Jesus cristo, condenou o que entendeu aquilo que havia de se condenar e, absorveu tudo aquilo que haveria de absolver em nome do Criador. Foi o papa da caminhada pela paz ,através da conversa, da conferencia e do diálogo. Foi o Papa da juventude, com o seu espírito de acolhimento e de inquietação. Foi o símbolo da abertura e ajudou a derrubar o regime duro de governos, nos chamados países que compunha a intitulada curtina de ferro.

Foi o Papa viajante. O bom viajante que deitava e beijava o solo de todos os países onde foi aceito a sua visita e fala em nome de Cristo.

Teve um dos pontificados mais longos da história, o terceiro talvez do papado, desde o de Pedro.

Foi contra a chamada teologia da Libertação.

Mas teve uma praça de São Pedro, lotada de fiéis quando de sua despedida de seu funeral berrando em coro: "Santo Súbito, Santo Súbito "algo traduzido assim como "Santo já, Santo já", enfim, que proclamasse de repente Santo, aquele cujo corpo nem havia sido depositado no sepulcro .

Certamente deve ter cometido enganos.

Certamente reprovou e desapontou alguns no Comando de algumas Dioceses, afinal é normal não ser unanimidade uma pessoa que ocupa o poder, que determina ordens, que faz-se cumprir normas e zela-se por regras, além do que, pensar que essa pessoa ficou mais de vinte anos comandando a Cabeça da Igreja Católica.

Eu diria que foi quase uma unanimidade.

Foi abalroado por uma bala mal intencionada ,segundo fala-se isso já estava escrito.

Condenou aborto, orgias e homossexualismo. E hoje (DE BRAÇOS ABERTOS SOBRE O PALCO) eu, quero convidar a todos vocês que estão aqui, a se preocupar com a reconstrução deste mundo, onde a fome começa a insandecer as pessoas.

Rezem pelos que passam fome.

Rezem pelos que não tem paz espiritual.

Rezem pelos que sentem aflição na alma.

Rezem por mim, que sou um pecador .Eu pecador ( COM AS DUAS MÃOS ESTENDIDAS)

 

 

.................................... E O PANO VAI CAINDO LENTAMENTE E O PALCO AOS POUCO ESCURECENDO

 

 

........................ É O FIM DO SEGUNDO " ATO ".