quarta-feira, 29 de setembro de 2010

PRIMEIRO ATO - SERMÃO VERMELHO


     

"SERMÃO VERMELHO"
de: José Maria Sousa Costa
 
 
 
 
NOTA DO AUTOR.
Apenas para curiosos e intelectuais: Isto não é literatura, é apenas um texto simples de teatro moderno onde o leitor possa dar gargalhadas até urinar-se.
 
Peça de teatro
SERMÃO VERMELHO
São Paulo, novembro de 2005-11-29
PERSONAGENS:
MALANDRO CARIOCA
MALANDRO PAULISTA
PADRE OLAVO
IRMÃ CAROLINA
Autor:
JOSE MARIA SOUSA COSTA


PRIMEIRO ATO
Cena 01
ABRE-SE O PANO
O PALCO ESTA Á MEIA LUZ. APARECE DOIS BANCOS VAZIOS. ENTRA O MALANDRO CARIOCA,DÁ ALGUNS PASSOS E SENTA-SE. TIRA A CAMISA E A ESTENDE SOBRE O BANCO DO LADO CONTRARIO.
MALANDRO CARIOCA VESTE UM BERMUDÃO COLORIDO E UM TENIS SEM MEIAS.
PELO LADO CONTRARIO ONDE ESTA SENTADO O MALANDRO CARIOCA, ENTRA O MALANDRO PAULISTA, ESTE VESTE UM BERMUDÃO, USA UMA CAMISA SOCIAL ABOTOADA ATÉ O PESCOSO, CALÇA UM TENIS COM MEIA SOQUETE E BONÉ VIRADO A ABA PARA TRAZ, ONDE SOBRE A QUAL TRAZ PRESO UM ÓCULOS ESCURO.
MALANDRO PAULISTA(entra no palco com os braços abertos, como quem dá bronca em alguém)
E aí meu que vacilo o seu!
MALANCRO CARIOCA ( erguendo-se do banco)
Vacilo o que ? tá me tirando mano ?
MALANDRO PAULISTA
Mano nada eu não sou seu mano, você vacila muito.
MALANDRO CARIOCA
Qual paulista,vai querer tirar uma agora ?
MALANDRO PAULISTA
Tirar nada .Você é que é o maior vacilão. Vai lá a boca, pega o bagulho, torra e fica por isso mesmo ?
MALANDRO CARIOCA
Não fui em lugar nenhum. Você que dormiu no ponto toma qualquer xarope e já cai de bode emborcando a lata.
MALANDRO PAULISTA
Olha você errado. Os mano do morro doce ,vão arregaçar você velho.
MALANDRO CARIOCA
Conversa, está jogando conversa fora
MALANDRO PAULISTA ( com o dedo em riste )
Vai virar presunto cedinho.
MALANDRO CARIOCA
Qualé "cumpadi", tá me achando com cara de mané ? Nasci em Caxias, Copacabana é longe mas eu chego lá.
MALANDRO PAULISTA
Você tá todo errado nessa parada.. Tem neguinho querendo tomar satisfaça com você.
MALANDRO CARIOCA
Quem? Aquilo são uns otários.
MALANDRO PAULISTA
Não é otário não irmão. Não é o que pensa Sacolé.
MALANDRO CARIOCA
Quem é Sacolé mano ? Aquilo é um vacilão. Foi puxar carro na Zona Sul, caiu nos "home" da 16 e virou mina pros mano.
MALANDRO PAULISTA
Tô sabendo nada disso.
MALANDRO CARIOCA ( dando gargalhadas )
Ah, isso você não sabe ,se acontecesse com o carioquinha aqui (BATENDO NOS PEITOS ) o Rio de Janeiro e o mundo sabia,tenho certeza que passava para o povo todo ver o bobinho artista aqui com cara de maninha.
MALANDRO PAULISTA
Olhaí cara, Sacolé é dos nossos..
MALANDRO CARIOCA
É não ele adora P2
MALANDRO PAULISTA (surpreso )
O que , P2 ? Nunca ouvir falar isso meu ?
MALANDRO CARIOCA
Você tá sempre atrasado na fita, qualquer hora, você vai sair na rua vestido na camisa do Vasco da Gama, dizendo ser torcedor do Flamengo.
MALANDRO PAULISTA ( berrando )
Ô Carioca tá me tirando ?
MALANDRO CARIOCA
Tô não. Você que tá vacilando.
MALANDRO PAULISTA
Sacolé falou que quando cruzar com você, vão ter que acertar essa parada.
MALANDRO CARIOCA
Que parada mané ? Eu não quero saber de parada, quem tem parada é ônibus.
MALANDRO PAULISTA ( indo para cima do Carioca )
Mane não sangue bom. O bagulho está faltando e tão acusando a sua pessoa.
MALANDRO CARIOCA
Tá tudo errado paulistinha.
MALANDRO PAULISTA.
Par você tá sempre tudo errado. O único esperto aqui é você, meu ? Tá pensando o que ? ( PAUSA ) que a terra é quadrada e o pato morre afogado ?
Malandro carioca
Sou malandro não. Sacolé vacilou, vendeu marmóre como se fosse talco e agora o maluco quer jogar toda "têta" par riba de eu ?
MALANDRO PAULISTA
Ele garantiu que o talco era de "prima"
MALANDRO CARIOCA.
Não era não. Ele zôou o bagulho. O clima subiu de temperatura. É bom agente nem se encontrar.
MALANDRO PAULISTA
Cuidado ele anda armado até os dentes.
MALANDRO CARIOCA
Eu sei.
MALANDRO PAULISTA
Então fica esperto sangue bom, quem foi que abriu a maldita pra você ?
MALANDRO CARIOCA ( zombando )
Ninguém me delator nada, mas eu sei que ele como feijão todos os dias.
MALANDRO PAULISTA
Tá tirando mermo, né ?
MALANDRO CARIOCA
Tirando nada.
Dá um cigarrinho aí ( PEGANDO O CIGARRO)
MALANDRO PAULISTA ( ENTREGANDO O CIGARRO)
Você tá cerrador em cara ?
MALANDRO CARIOCA ( ROLANDO O CIGARRO ENTRE OS DEDOS
Sacolé é um atraso de vida.
MALANDRO PAULISTA
Você é que esta falando
MALANDRO CARIOCA
Aquilo é uma zica sangue bom.
MALANDRO PAULISTA
Você não disse que ele trazia o bagulho e deixava lá na fazenda ?
MALANDRO CARIOCA ( ABRINDO OS BRAÇOS)
Que fazenda maluco ? Eu tenho boi por acaso pra ter fazenda ? Nem chifre eu tenho por que eu não tenho nega.
MALANDRO PAULISTA ( SÉRIO )
Foi o que ele me disse.
MALANDRO CARIOCA ( SERIO COM O CIGARRO ENTRE OS DEDOS )
O que aquele malaco fala não se escreve.
MALANDRO PAULISTA


Ele foi no teu barraco
MALANDRO CARIOCA ( SERIO )
Que barraco rapá ? Eu tenho barraco ? Minha casa é a rua.
MALANDRO PAULISTA
Quem viu você entrar na maloca que ele mora ?
MALANDRO CARIOCA ( SERIO E ABRIONDO OS BRAÇOS )
Que maloca rapá ? Eu não entrei em maloca . Quem gosta de maloca é rato.
MALANDRO PAULISTA
A mina dele tava lá ?
MALANDRO CARIOCA
Não conheço a mina dele.
MALANDRO PAULISTA (INTIMIDANDO )
Então mano.
Você vai ou não vai devolver o bagulho do cara ? Ele falou que era só emprestado e, você já deu fim na parada ?
MALANDRO CARIOCA
Que parada paulistinha ? São Paulo é fria mas não é gelo. Tá apressado,partece que foi eleito Papa ?
MALANDRO PAULISTA
O cara é meu truta.
MALANDRO CARIOCA
Truta é coisa de puta.
MALANDRO PAULISTA
Olha tu errado rapá.
MALANDRO CARIOCA
Você dizer que é truta daquele macro ?
MALANDRO PAULISTA
Ele é meu chapa, e aí ? E as sereias ?
MALANDRO CARIOCA
Sereias só na Zona Sul. Vou lá só para apreciar aquelas beldades.
MALANDRO PAULISTA
Não boto fé em você cara,todo dia inventa sempre uma mesma coisa. È caô em cima de caô ,qualquer dia desses o bicho pega.
MALANDRO CARIOCA
Não é caô não, rapá. Naquele dia agente marcou, quando eu lembrei os "home" tinham deixado aquilo a bangu, o que tu queria que eu fizesse, deixasse o meu coro para servir de tamborim ?
MALANDRO PAULISTA
Fizeste alguma coisa ?
MALANDRO CARIOCA
Que coisa ? Quer me levar pra grupo ?
MALANDRO PAULISTA
Não te levo pra grupo . Mesmo com toda a sua enrrolada, eu tenho mil considerações por você.
MALANDRO CARIOCA
Eu nunca vacilei com você, está indo no barulho dos outros, nem a mina de Sacolé gosta dele.
MALANDRO PAULISTA
Ô Carioca você tá pensando que eu não conheço a mina do cara , teté ?
MALANDRO CARIOCA
E daí, quem disse que vagabunda traz uma estrela de bondade na testa ?
MALANDRO PAULISTA
Se liga mano. Por que xingar a boneca do camarada ?
MALANDRO CARIOCA
Ah, Você não acredita no que eu te falo. A parada é essa morô, se não der pra você saí de fino.
MALANDRO PAULISTA
Tô ligado, agente vai precisar enganar o padre . Ele é muito velhaco e, gosta de sermões revolucionários.
MALANDRO CARIOCA
Tô sabendo,agente tem que roubar o resto do vinho na hora da missa.
MALANDRO PAULISTA
Que missa Carioca ? ( PAUSA )você bebeu ?
A igreja vai tá cheia e o padre não leva o garrafão de vinho para o altar.
MALANDRO CARIOCA
Então irmão ele deixa o garrafão de vinho na sancristia, agente finge que vau assistir a missa ( PAUSA )
Passa atras do altar, entra no quartinho e coloca os garrafões dentro de uma sacola e sai (PAUSA ) Agente bebe o vinho ali mesmo na porta da igreja. Quem disse que agente não pode se divertir ?
MALANDRO PAULISTA
Carioca, isso não vai dá certo, a sancristia vai tá cheia daquelas carolas.
MALANDRO CARIOCA ( ZOMBANDO )
Tô nem aí mano , Carioca hoje acordou a fim de beber vinho fino e, esse só tem na igreja. E Carioca como bom Carioca, não vai ficar com sede e com seus desejos entrelados entre os dedos sabendo que lá na igreja tem vinho a vontade.
MALANDRO PAULISTA
Te acalma maluco, tá comigo, tá com Deus.
MALANDRO CARIOCA
Quero só ver. O padre é esperto. Ele engole tudo, de vinho a viagra, de guaraná em pó a espinheira santa.
MALANDRO PAULISTA
Também várias vezes já encontrei ele doidão.
MALANDRO CARIOCA (LAVANTANDO – SE )
È irmão acho que vou dá uns rolé, afinal cobra parada não engole sapo.
MALANDRO PAULISTA
Mas cuidado que ele pode também levar cacetada.
MALANDRO CARIOCA (VESTINDO A CAMISA )
Ô cara, eu vou sair, tenho que adiantar o meu lado.
MALANDRO PAULISTA
Cuidado com o vacilo. Vou dá um tempo aqui.
MALANDRO CARIOCA ( APERTANDO – LHE A MÃO )
Carioca não vacila, você já viu quem mora na beira do mangue morrer afogado ? Como é que eu vou perder para aquele padre se foi para mim que ele deu os garrafões para carregar, se ele não queria fazer força, agora eu sei aonde eles estão e se ele vacilar agente convida e eles acompanham, certo ? (SAI )
CENA DOIS
MALANDRO PAULISTA FICA SOZINHO, VAI ATÉ UM DOS BANCOS E SENTA. ENTRA O PADRE OLAVO, ESTE USA ÓCULOS E CARREGA UMA BENGALA,VESTE –SE, COM ROUPA DE QUEM VAI CELEBRAR MISSA, TOTALMENTE VERMELHO.
MALANDRO PAULISTA ( SAUDANDO )
E aí padre Olavo, quando tempo agente não se encontrava.
PADRE OLAVO
Tudo bem paulista ? Como você tem passado ?
MALANDRO PAULISTA
Tô bem, vou tocando a vida.
PADRE OLAVO.
Estás tabelando ?
MALANDRO PAULISTA (VIRANDO – SE E COÇANDO A CABEÇA )
Tanta coisa par gente conversar padre e, o senhor vem logo me falando de trabalho.
PADRE OLAVO
Claro paulista, o trabalho é que enobrece o homem.
MALANDRO PAULISTA
Tô sim padre,agora eu estou bem. Trabalho na empresa de transportes coletivo.
PADRE OLAVO
Aonde heim ? (PAUSA ) O que você faz lá ?
MALANDRO PAULISTA
Eu sou .....
Eu sou trocador ... o endereço eu não me lembro assim de cabeça..... o senhor continua com a sua mania de perguntar muito que agente até se enrrola.
PADRE OLAVO
Muito bem.
Assim este país cresce, fico feliz de saber que estás trabalhando, mesmo sem saber o endereço da empresa.
MALANDRO PAULISTA
Isso mesmo padre e, eu quero também fazer parte desse crescimento
PADRE OLAVO ( PACIENTEMENTE )
Filhinho, te converte. Deixa de traquinagem, procure andar na reeditam. Esqueça o que ficou para traz. Viva uma nova vida.
MALANDRO PAULISTA
Eu não faço mais besteira padre.
PADRE OLAVO
É isso mesmo, você precisa se reencontrar, para ter uma vida plena
MALANDRO PAULISTA ( SAINDO )
Se Deus quiser ( SAI DANDO GARGALHADAS )
MALANDRO PAULISTA AINDA DÁ GARGALHADAS, QUANDO ENTRA DESESPERADA A IRMÃ CAROLINA, ELA VESTE TRAJE TIPICO DE FREIRA. ELE SÓ SAI DO PALCO APÓS ELA ENTRAR DESESPERADA DIRIGINDO-SE AO PADRE OLAVO.
CENA TRÊS
IRMÃ CAROLINA (ENTRANDO AOS GRITOS )
Padre, padre.
PADRE OLAVO ( VIRANDO-SE PARA ELA)
O que foi, irmã ?
IRMÃ CAROLINA
Problema na igreja
PADRE OLAVO (LEVANDO A MÃO Á BOCA )
O que aconteceu, caiu o teto ? Caiu o prédio ? Você está aflita.
IRMÃ CAROLINA
Não padre, não foi nada disso. Roubaram todo o vinho da igreja e, agora ?(PAUSA )
Como é que vamos celebrar as missas agora ? (E ABAIXA A CABEÇA )


PADRE OLAVO
Quem roubou o vinho ?
IRMÃ CAROLINA
È uma bela pergunta padre Olavo.
Não sei lhe responder, o que sei dizer é que os quatros garrafões de vinho que estavam na sancristia evaporaram.
PADRE OLAVO
Vamos ficar atentos ,você desconfia de alguma pessoa ?
IRMÃ CAROLICA
Não sei. Não desconfio de ninguém.
PADRE OLAVO
Quem esteve na sancristia nas últimas horas que aconteceu isso ?
IRMÃ CAROLINA (PUXANDO PELA MEMÓRIA )
Não me recordo, passou algumas pessoas por lá,mas agora a memória não me ajuda.
PADRE OLAVO
Tem entrado muita gente naquele lugar ?
IRMÃ CAROLINA
Nem tanto. Agora precisa colocar cadeados nos armários todos, tornou-se tudo perigoso.
PADRE OLAVO
Eu também acho isso.
IRMÃ CAROLINA (MATUTANDO)
Quem será padre que teve a coragem de praticar uma maldade dessa ?
PADRE OLAVO
Eu também quero saber,mas vamos observar aonde vai ter festa hoje ,ou se nas praças e nas redondezas, alguém faz comes e bebes regado a vinho.
IRMÃ CAROLINA
É padre, eles já não perdoam nem aquilo que é do santo.
PADRE OLAVO
Vamos nos empenhar todos que agente descobre quem fez essa rapinagem.
IRMÃ CAROLINA
Vamos ter que encontrar o autor e colocá-lo para ajoelhar no milho.
PADRE OLAVO
Aí, já é romantismo demais irmã.
IRMÃ CAROLINA
Padre eu vou voltar lá para a igreja antes que aconteça coisas piores.
PADRE OLAVO
Faz bem, é isso mesmo.
IRMÃ CAROLINA
Estou indo agente se encontra lá mais tarde (SAINDO APRESSADA)
PADRE OLAVO FICA SOZINHO NO PALCO.
EM TOM DE DISCURSO.
Roubaram o vinho da nossa igreja, aquilo que é um bem comum do povo.
( CAMINHA ATÉ O CENTRO DO PALCO, FICA DE FRENTE PARA O PUBLICO, APOIADO NA SUA BENGALA )
Neste país que não pára de legalizar o ato de roubar, rouba-se tudo. Ou quase tudo.
Rouba-se o suor do trabalhador e, com ele vai-se a dignidade.
Rouba-se o sonho do jovem e com ele vai-se a esperança de um velho feliz.
Rouba-se a oportunidade de levar arroz, feijão, pão e leite à mesa do trabalhador e aí o próprio governo patrocina a fome, a miséria e começa-se a legalização dia crime e do sofrimento humano. Para quem governa este país, é bem melhor que encontremos homens pedintes, subjulgados pela fome, do que requalificarmos para que ele com a força do seu sustento sacie as suas próprias necessidades.
Este é o Brasil em que estamos (BERRA O PADRE).
O Brasil do desemprego, da droga reinando de uma ponta a outra do país, como se isto fosse apenas e tão somente, um corredor de luxo desta desgraça, mas mais que isso, este país me parece mesmo para a nossa tristeza, um consumidor em pontencial com muita gente sabendo e apenas cruzando os braços.
É este o país da esmola.
´Vejamos nós é preferível trancar um monte de homens pedintes e necessitados em uma casa de acolhida e, ali passar a manhã inteira enchendo o saco um do outro , esmolando um chuveiro quente ou um chá morno, do que abrir oficinas profissionalizantes e tirar esse mesmo humilhado cidadão dessa farsa chamada ajuda.Alguns, oferecem filmes para entretenimentos. Eu pergunto filmes ? Que filmes ?
Isso mesmo (PAUSA ) . Filmes fajutos para enganar-lhes os olhos e, fingir saciar as suas emoções culturais.
Esmola-se esse homem por um prato de comida, por que todos nós somos sabedores que a dor no estômago, marcada pela fome, ela tange o homem, semalhante o vaqueiro tange o seu gado ao um curral para o abate.
É preciso dignidade aos povos menos favorecidos desta pátria, onde cujo hino descreve assim:
"..., ...verás que um filho teu não foge à luta" (PAUSA )
Tá lá escrito em um dos seus versos e, eu pergunto à todos vocês.
Como que um brasileiro não vai fugir à essa luta, se ele não tem comida, bebida, moradia, emprego e nem sálario ?
Aonde o governo deixou a dignidade deste povo ? Para onde ele levou ? Ou vai deixá-la num túmulo qualquer de um cemitério qualquer ?
Entraram na nossa igreja e levaram todo o nosso vinho. Quantas vezes não já invadiram a sua privacidade e roubaram a sua dignidade, a sua liberdade de expressão, o seu desejo de desejar enfim, quantas vezes não roubaram o seu sonho com palavras bonitas, emocionantes e textos preparados ?(PAUSA )
Isso acontece quase sempre e, em algum lugar deste país, desta terra ou desta cidade, a mesma que berra..., verás que um filho teu não foge à luta... é a mesma que lhe rouba a esperança com falácia, piadas e quimeras mil.
Isso é o Brasil (GRITA COM A BENGALA EM PUNHO AGINTANDO-A EM DIREÇÃO AO POVO E, NESTE MOMENTO O PALCO FICA TODO ESCURO )
CENA QUATRO.
O PALCO CLAREIA TOTALMENTE, ESTE ENCONTRA-SE VAZIO O PADRE OLAVO SAIU QUANDO AS LUZES SE APAGARAM, AÍ VAGAROSAMENTE ANDANDO ÀS PONTAS DOS PÉS ENTRA O MALANDRO CARIOCA, BEM VESTIDO, CARREGA UMA MOCHILA ÀS COSTAS E DENTRO DELA DOIS LITROS DE VINHO TINTO, UM LITRO DE ÁGUA, UMA TAÇA, UM MAÇO DE CIGARRO, UMA CAIXA DE FÓSFORO.
SENTA-SE EM UM DOS BANCOS,ABRE A MOCHILA, TIRA DO SEU INTERIOR O CIGARRO E O FÓSFORO E COLOCA DO SEU LADO, UM SOBRE O OUTRO.
MAL ANDRO CARIOCA ( SENTADO )
Viver é bom !
Gozar o lado bom da vida é melhor ainda, não é atoa que os poetas inspriram-se nesta vida para bordar em papéis rimas eloqüentes com as suas razões que somente a alma e o coração às vezes quando querem desconhecem.
CENA CINCO
( ENTRA MALANDRO PAULISTA )
É aí bambolê ?
Por onde você andô ?
MALANDRO CARIOCA
Não andei (PAUSA ) eu tô parado morô . Quem anda muito cansa, eu quero agora é sossego.
MALANDRO PAULISTA
Como não "andô" ?
Agente tava aqui sem nada e derepente você aparece aqui com cigarro, fósforo e uma mochila às costas como se fosse um retirante privilegiado pela sorte ?
MALANDRO CARIOCA
Sem nada quem está é você muquirana. Eu tenho o dia e a noite que Deus me deu e ainda de graça sem que eu pedisse, ainda tenho a poesia e a luz do sol, para aquecer o meu corpo e deslumbrar a minha alma e alimentar os meus encantos, mané.
MALANDRO PAULISTA (ABRINDO OS BRAÇOS )
Ô Carioca "qualé" ?
Tá me achando com cara de cachorro perdido em dia de mudança ? (PAUSA ) Tá pensando que eu já não estou sabendo da fita ?
MALANDRO CARIOCA
Que fita "rapá" ?
Por acaso, eu trabalho com ginástica olímpica pra entender de fita ? Eu sou do tempo em que homem "mija" em pé e gosta de futebol. Hoje os caras gostam é de video-game, jogam peteca, aquele jogo de fresco, como se fosse m umas vovozinhas de 70 anos de idade. ( DÁ GARGALHADAS )
MALANDRO PAULISTA
Não disfaça malandro, eu tô sabendo que roubaram o vinho da igreja , quero saber aonde está, ou se o velhaco vai beber tudo solitariamente ?
MALANDRO CARIOCA ( ERGENDO A VOZ )
Que vinho mané, eu sou da terra do Noel.
MALANDRO PAULISTA
Aquele que combinamos.
MALANDRO CARIOCA
Não estou entendendo nada do que falas.
MALANDRO PAULISTA ( CHEGANDO MAIS PRÓXIMO )
Aquele vinho que sumiu da igreja do padre Olavo, eu ouvi a conversa, gente lá de dentro me contou, otário.
MALANDRO CARIOCA (FAZENDO-SE DE DESENTENDIDO )
Quem conversou o que, com quem ?
MALANDRO PAULISTA
Eu tô achando você muito mala e começo a perceber que está querendo que eu suba o morro com o carro de ré.
MALANDRO CARIOCA (RINDO)
Não peguei vinho. Nunca possuir videira ,isso é caô de sua pessoa pra "riba d'eu".
MALANDRO PAULISTA
Ô Carioca, até quando você vai ficar de sugesta na minha latinha ?
MALANDRO CARIOCA
Sem ficar nervoso, eu não quero ninguém em estado de choque.
Sou da paz.
MALANDRO PAULISTA (CALMAMENTE )
Eu quero o vinho papai.
Aquele finíssimo que sumiu da sancristia, quero fazer descer candidamente goela abaixo, enrrolar-lhe na língua e degustar o seu cheiro e o seu aroma.
MALANDRO CARIOCA
Ô paulista, sabe um lugar legal, pra você degustar as suas preciosidades ?
MALANDRO PAULISTA ( SURPRESO )
Não papi, eu não sei.
MALANDRO CARIOCA
Na cadeia, malandro.
MALANDRO PAULISTA
Ô Carioca, tá me achando com cara de banzé, é ?
MALANDRO CARIOCA ( MEXENDO NA MOCHILA )
Apesar de você não ser macaco gordo, eu vou quebrar o teu galho.
MALANDRO PAULISTA
O que é que tem aí nesse bagulho ?
MALANDRO CARIOCA (SEGURANDO A MOCHILA )
Que bagulho mané, isto aqui é o meu galo (PAUSA )
Agora vai querer controlar as minhas idéias, veja só, o meu galo nem "cantô", e o malandro já quer segurá-lo pelo pescoço.
MALANDRO PAULISTA
Ô Carioca, eu não tô afim de conversar, eu quero é o vinho.
MALANDRO CARIOCA (DANDO-LHE ORDENS )
Então fica de frente para o público e de costas para mim, mas ver se não vai queimar gás agora.
MALANDRO PAULISTA ( VIRANDO-SE DE COSTAS AO COMPANHEIRO )
O que o boi tatá vai fazer ?
MALANDRO CARIOCA ( RETIRANDO DA MOCHILA A TAÇA E COLOCANDO ÁGUA NELA, ESCONDE ATRAZ DAS COSTA E FECHA A MOCHILA, FALANDO AO AMIGO).
Vire-se e prove (PAUSA ) é vinho branco.
MALANDRO PAULISTA ( RECEBE A TAÇA COM A ÁGUA, ENCHE A BOCA, BORRIFA TUDO PARA O ALTO E GRITA CAMINHANDO PARA CIMA DO CARIOCA )
Tá me tirando de otário mané, isso é bebida ?
MALANDRO CARIOCA (RINDO)
É, isso é vinho disseste bem. Lembra-te daquela festa que a mulher pediu ao filho, que tirasse vinho dos potes de água e, quando ele tranformou a água em vinho, os convidados acharam ali o vinho de melhor qualidade.
MALANDRO PAULISTA ( PARTE PARA CIMA DO MALANDRO CARIOCA E AGARRA-LHE A ABERTURA DA CAMISA )
Quer ser mais esperto, que a própria vida, não é ?
MALANDRO CARIOCA (CALMAMENTE )
Sem violência .
Tire as suas mãos de mim. As coisas são resolvidas na diplomacia e é por isso que existem as chacelarias, você entendeu ? Ou nunca foste em banco escolar ?
MALANDRO PAULISTA (SOLTANDO-O )
Tá me tirando em maluco, eu te meto a faca.
MALANDRO CARIOCA (SOLETRANDO )
di...plo...ma...ci...a , esse é o segredo da paz.
MALANDRO PAULISTAS (INTIMANDO-O)
Vou até o morro doce, se na volta estiveres aqui, vou querer a minha parte do bagulho, doido.
MALANDRO CARIOCA
Que parte ?
Quem muito reparte as suas partes ou fica doido ou fica nu..
Depois tem mais, eu não carrego bagulho, quem gosta de bagulho é sacoleira do Paraguai.
MALANDRO PAULISTA (SAINDO)
Vai tirando Carioca ,depois não reclama que o gosto do milho é azedo. (SOME DO PALCO)
( MALANDRO CARIOCA SOZINHO LEVANTA-SE E COMEÇA A ANDAR DE UM LADO A OUTRO DO PALCO E POE-SE A CANTAR E DANÇAR UM RAP).
Malandro que é malandro
Não acredita em sugesta
As vezes ele desliza
Mas nunca machuca a testa.
Malandro que é malandro
Não joga conversa fora
Ele detesta fofoca
Por que no fim alguém chora.
Malandro que é malandro
Não acredita em ninguém
O seu pé é a luz do dia
E o seu Deus é um vintém.
Não acredita em promessa
Nem faz do sol o seu guia
Em cada esquina um otário
Em cada canto uma gíria.
Não carrega patuá
Nem mala de mão fechada
Sua arma é uma gíria
Sua defesa uma tia
Come de graça aonde quer
Dor me e ronca se quiser
Tem cama, ´agua e café
E da uma de "migué".
Toma seis banhos por dia
E exige experiência
De todos que lhes rodeiam
Para ouvir sua clemência
Pede pouco e arranja tudo
Não se enrrola um segundo
todos são bõbos na corte
Desfilando neste mundo.
MALANDRO CARIOCA PÁRA,CAMINHA ATÉ AONDE ESTÁ A MOCHILA, ABRE O LITRO DE VINHO, COLOCA UM POUCO NA TAÇA E BEBE. MOSTRA O COPO AO PUBLICO VIRADO DE BOCA PARA BAIXO.)
MALANDRO CARIOCA
Este resto que caiu é para o Santo de Todos os Santos, para que ele proteja este carioquinha aqui (BATENDO NO PEITO ) para que ele tenha uma vida muito longa e cheia de belezuras mil.
( MALANDRO CARIOCA AINDA ESTÁ DE PÉ QUANDO ENTRA O PADRE OLAVO,EM TRAJE TÍPICO DE VIGÁRIO, TODO VESTIDO DE VERMELHO COM A SUA INSEPARAVEL BENGALA, SENDO QUE AGORA ERSTE USA UM CHAPÉU.)
CENA SEIS
PADRE OLAVO BATENDO A BENGALA NO CHÃO E ENTRANDO
Olá carioca ,como tem passado ?
MALANDRO CARIOCA (ABRINDO OS BRAÇOS COMO QUEM VAI ABRAÇAR O VIGÁRIO E VAI SE APROXIMANDO-SE )
Meu Santo vigário ( COM MUITA ALEGRIA E SORRISOS ) A quanto tempo agente não se encontra para papear ?
PADRE OLAVO TIRANDO O CHAPÉU
Como tem passado aquele o qual eu o considero um filhinho. ..
MALANDRO CARIOCA (MOSTRANDO O BANCO )
Padre eu estou meio borocoxô, vamos sentar aqui, o senhor sabe que este local é a minha casa. Naturalmente não é um local digno para um brasileiro morar,mas veja o senhor o que faz o governo, tudo aos seus e aos dirceus, e ao povão o premio é pão molhado com água e sobras de comida, migalhas de algum balcão.
PADRE OLAVO (SENTANDO-SE )
Você tem se alimentado ?
MALANDRO CARIOCA ( FAZENDO CARA DE PIEDADE )
Faz quase uma semana padre que eu não sei o que é botar nada no estomâgo.
PADRE OLAVO
Como você agüenta meu nobre cavalheiro ?
MALANDRO CARIOCA
O ar que eu respiro é muito forte.
PADRE OLAVO
Você precisa arrumar logo de qualquer jeito um emprego.
MALANDRO CARIOCA
Não tem emprego padre ,tenho corrido pelos quatro cantos do país e, é só gente querendo aproveitar da bondade d'agente.
PADRE OLAVO
Enquanto você não arruma um emprego de boa remuneração, podes juntar latinha na rua, catar papelão, e você vendendo essa mercadoria pode defender a sua alimentação no dia a dia.
MALANDRO CARIOCA (SURPRESO )
Padre Olavo, é isso que o senhor chama de emprego ? E como é que o senhor define a miséria ? Eu não vou me sujeitar a isso. Situação de miséria extrema ,penúria, um verdadeiro miserê, legalizado pela sociedade dita proba que administra esta nação.
PADRE OLAVO
Desculpe Carioca eu não quis lhe ofender, foi apenas uma idéia que passou pela minha cabeça.
MALANDRO CARIOCA (RINDO )
Essa é daquelas idéias com uns quatrocentos anos de atraso, não é amigão. ( BATENDO LEVEMENTE NAS COSTAS DO VIGÁRIO
PADRE OLAVO (APONTANDO PARA A MOCHILA )
O que é aquilo ?
O que é que tem dentro dela ?
MALANDRO CARIOCA
São besteiras minhas que eu carrego, são os meus cacarecos.
PADRE OLAVO
Tem bebida ali, Carioca ?
MALAMDRO CARIOCA
Ali só tem água ,eu não bebo nada além de água, eu detesto qualquer outro tipo de líquido, que não seja água, essa bebida sem cor e sem cheiro que Deus deixou a todos nós.
PADRE OLAVO
Eu fui roubado
MALANDRO CARIOCA (SURPRESO)
Como ? (PAUSA ) Quando ? (PAUSA ) Quem lhe roubou padre ? Me diga que eu quero pegar esse desgraçado pelo pescoço e torcer até ele confessar o último pecado dele.
PADRE OLAVO
Nos levaram todo o fino vinho que eu tinha na igreja ,para a celebração da Santa Missa.
MALANDRO CARIOCA (ARREGALANDO OS OLHOS )
Só estou acreditando por que estas comentando e eu estou ouvindo da sua boca padre.. Quem terá sido esse felizardo que fez uma obra dessa ?
PADRE OLAVO


Bem que o meu filhinho poderia ver isso para mim ,certamente a igreja lhe recompensava.
MALANDRO CARIOCA
É uma proposta muito boa que o padre está me fazendo, melhora ainda mais se o senhor me adiantar já algum e aí agente já começa a olhar.
PADRE OLAVO
Olhar o que Carioca, agente nem começou as investigações e já queres dinheiro adiantado ?
MALANDRO CARIOCA
Não me leve a mal meu padre querido, mas vai ter que molhar os dedos do bobinho aqui com alguns reais, para poder por gasolina no carro e sair por aí.
PADRE OLAVO
Colocar gasolina em que carro, se você não tem carro ?
MALANDRO CARIOCA
É o meu modo de eu me expressar, se o senhor me adiantar umas "onças" ou mesmo umas "araras" agente sai por aí, olha aqui e acolá, conversa com um troca idéia com outros e acaba descobrindo quem levou emprestado o bom vinho do padre Olavo.
PADRE OLAVO
Não.... eu, não emprestei nada.
MALANDRO CARIOCA
É o modo de falar , meu papi.
PADRE OLAVO
Eu desconfio que você sabe quem pegou e aonde está o nosso vinho.
MALANDRO CARIOCA
Sei não seu padre ,se eu soubesse já estava em suas mãos. Eu sou seu amigo.
PADRE OLAVO.
Você não sabe quem foi na sancristia, bisbilhotar alguma coisa ?
MALANDRO CARIOCA (LEVANTANDO-SE)
O padre entendeu o por que de eu precisar logo de uma onças e umas araras adiantado ?
É justamente para eu começar as minhas investigações sigilosas, a pouco o padre pediu para eu ir juntar latinhas, catar papelão, quando eu arranjo um serviço pelo qual eu vou cobrar, as pessoas não querem pagar, como é que eu vou trabalhar e ter dinheiro desse jeito ?
PADRE OLAVO
Você não entendeu, eu quero te pagar pelo serviço, mas quero ver o resultado primeiro.
MALANDRO CARIOCA
Todos são assim papi, eles falam a mesma coisa apenas com vocábulos diferentes.
PADRE OLAVO
Eu continuo desconfiado, que você vai me ajudar.
MALANDRO CARIOCA
Claro que vou minha fidelidade, afinal eu sou católico apostólico romano, pertenço è Igreja Mãe.
PADRE OLAVO
Então vamos nos unir em uma só força e descobrir quem levou os garrafões de vinho da Igreja, prejudicando o povo.
MALANDRO CARIOCA
E isso mesmo, se o padre Olavo quiser agente encontra (PAUSA ) Me responda uma coisa, bem aqui no meu ouvido, somente entre nós dois.... o senhor ia tomar aquele vinho sozinho e o seu filhinho ia ficar aqui de longe, somente na saudade e com desejos (PAUSA).... sabidão.
PADRE OLAVO
Carioca, você já se regenerou ?
MALANDRO CARIOCA ( SORRINDO )
Já papaizinho ,seu filhinho já está quase virando Santo, a qualquer hora o senhor vai ser intimado pelo Papa, para me levar a Roma e me Santificar.
PADRE OLAVO
Isso vai ser muito bom.
MAKLANDRO CARIOCA
Bem que o senhor poderia inventar uma viajizinha para Roma e levar este bobinho, já imaginou nós dois padre descendo em no aeroporto Italiano e eu carregando a sua mala ?
PADRE OLAVO
Carioca, deixa de sonhar e vamos atras do vinho, eu desconfio que você vai encontrar esses objetos e livrar a Igreja de um prejuizo enorme.
MALANDRO CARIOCA
Adiante um trocado para o bobinho do Carioca, pelo menos eu tomo um cafezinho.
PADRE OLAVO.
Ajude-me por favor.
MALANDRO CARIOCA
Eu estou do seu lado (BATENDO NO PEITO ) somos todos iguais nesta terra.
PADRE OLAVO
Somos quase iguais e esse quase nos coloca a uma distancia muito longe um dos outros, isso em todos os aspectos que você pensar.
MALANDRO CARIOCA
Papaizinho o seu filhinho vai ver se encontra esses vinhos (AJUNTANDO A MOCHILA E COLOCANDO ÁS COSTAS ) quando que agente se encontra padre para um novo papeado ?
PADRE OLAVO
Você sabe aonde é a casa paroquial, qualquer novidades que tiver você bate lá na porta que agente se entende.
MALANDRO CARIOCA (APERTANDO A MÃO DO PADRE )
Fique vigilante que nós vamos encontrar esse felizardo que pegou o vinho. Vou me retirar para correr atás do que é nosso e recuperar a nossa mercadoria. (SAI DO PALCO )
O PADRE OLAVO FICA DE PÉ COM A BENGALA NA MÃO E O CHAPÉU NA CABEÇA. ERGUENDO A VOZ E EM POSIÇÃO DE DISCURSO ELE BRADA EM VOZ ALTA, FORTE E FIRME.


Irmãos meus, na fé e em Cristo Jesus.
Nesta terra católica corrompem-se por tudo.
Corrompe-se o miserável prometendo saneamento básico, como água e esgoto.
Promete-se escolas e outras coisinhas que agrada aos olhos, mas que deixa a alma machucada e tola.(PAUSA )É preciso ter pressa e agruparmo-nos já como sociedade, para cobrar aqueles que chegam ao poder e prometem, prometem e só prometem. Ele é capaz de prometer até a luz do dia mesmo isso não pertencendo a ele ,ou como se ele tivesse alguma autonomia ou coisa que lhe valesse um alívio profundo em seu espírito aventureiro.
Eu digo sempre não (PAUSA )
Eu vou dizer sempre não a esse estado de penúria que expõe jovens e velhos no mesmo teto de necessidade para no futuro governantes, enfiar tudo em uma panela de opressão sem sonho, sem desejo e sem luz.
Precisamos denunciar sempre essa tortura de ausência onde muitos poucos tem tudo e a maioria do povo mal carrega a ânsia do dia a dia, da agonia dos fardos impostos que temos para pagar. (BRADANDO E ERGUENDO A BENGALA )
Chega ! Basta !
Não podemos silenciar contra esse estado de coisas: desemprego em alta, taxa de juros altíssimas, corrupção generalizada e sem controle e quase já nem se sabe se isto é uma pátria amada ou é algo que já fora entregue e, todos aqui somos alugados. Não se pode admitir que sejamos todos como se fossem um monte de búfalos, que o dono tange ao seu curral e, obedientemente vai um atrás do outro, caminhando para a morte candidamente, sem saber de onde vem ou para onde vai . ( PAUSA )
Queremos comida nas mesas das pessoas.
Queremos cultura na cidade.
Povo informado é povo independente, é povo que sabe escolher, é povo que não titubeia durante a caminhada e nem se dispersa durante a travessia. É preciso que o governante ame as pessoas como ele ama a si próprio, que se doe, que salve o seu povo, pelo menos da fome já que muitos deles nem sequer dão conta de consertar as calçadas das ruas de suas cidades.( PAUSA ) Aqui é a minha voz, mas esse é o eco das ruas que ecoa sempre em prol do menos favorecido.
Irmãos meus em Cristo Jesus.
A fome é muito grande, o sofrimento é devastador e os sonhos esses quase agente já não sonha mais. não que não queremos sonhar, eles que não deixam agente sonhar. Meus amados amiguinhos, prestai atenção no que eu vos digo ,está lá escrito no hino da Independência.
.... ..... " Brava gente Brasileira "....... ........... ., isto eu pergunto é um texto do hino da Independência ou é uma indecência que afronta contra as pessoas de bom senso, que sabem ler e escrever nesta terra que outrora Cabral, avistara de muito longe ?
Quem é essa brava gente, meus irmãos ?( PAUSA )
Será que ser brava gente brasileira, é o mesmo que levantar quatro horas da manhã, encarar um ônibus, um trem ou um metrô lotado com centenas de milhares de pessoas, andar o dia inteiro de segunda a sexta feira atras de emprego em portas de fábricas ou agencias e nunca ter uma resposta afirmativa ?(PAUSA ) Ou chamar de brava gente brasileira ( PAUSA ) É o mesmo que deixar uma multidão de jovens com menos de vinte primaveras se perder entre drogas, para os narcotraficantes nos morros da cidade grande ou pelas suas boates de luxo, entre avenidas e longadouros mal conservados ?
Ou ser brava gente brasileira é legalizar a prostituição infantil neste país, é fechar os olhos para o tráfico de orgãos infantis, tomar de suas mães os bebês arrancando-lhes do colo sem a mínima chance de defesa, para agradar países tidos como desenvolvidos mas que prima pela crueldade contra os povos dos países menos favorecidos por riquezas culturais.
Ou ser uma brava gente brasileira, é legalizar o estupro aos povos indígenas, legalizar o extermínio dos Ianomamis ,Carajós, Guaranis, Tupixabas e tantos outro que a memória agora não me traz..
É isso que é ser uma brava gente brasileira, meus caros irmãos brasileiros ?
Ou ser uma brava gente brasileira, é o mesmo que tratar os negros, como seres de sub categorias, tão somente por que a pigmentação da sua pele é mais escura ? Quem mandou incomodar a mãe África, com os seus filhos arrancando-os asperamente para morrerem engafilhados em porões de navios a mar aberto como se fossem porcos ou uma coisa sem o menor valor humanitário ? ( PAUSA )
aonde está o autor dessa obra ?
Em qual terra ele se meteu ?
Em qual solo ele enfiou-se, ou em qual canto da floresta ele se escondeu ?
Quem é esse estuprador costumaz, que aniquilou o meu povo e como um gatuno fugiu sem curvar-se à nossa Mãe África, que até hoje derrama lágrimas sobre um Atlântico, cuja cor já não sei se é azul ou um vermelho da tua eterna dor que aflige a consciência dos povos brancos.
Brava gente brasileira, é aquele que com a água sacia a sede das pessoas. É aquele que não cala diante das injustiças sociais e nem patrocina a aflição contra a alma das pessoas menos favorecidas.( PAUSA ) Não merece credito e muito menos respeito todos aqueles que com a fome das pessoas tira proveito em prol da sua própria felicidade. Eu sei que vão me chamar de reacionário., vão me taxar de rebelde, revoltado ou seja lá o que for. Vão dizer esse padre é subversivo, mas na verdade eu não sou nada disso. Eu sou apenas uma voz que não cala e nem calará diante de tanta covardia.
Eu sei que muitos dirão: vai cuidar da sua Igreja (PAUSA ) E, na verdade eu estou cuidando da Igreja, mas desta igreja viva que somos todos nós.
Preservar a vida e valorizar os valores que exalta a existência humana, é a filosofia plena que encurta o caminho entre o que é desejo e o que é felicidade. Eu quero simplesmente que todos sejam felizes e não se despissem jamais. É preciso ter coragem para reagir contra a miséria. É preciso não se dispersar ,precisamos estarmos unidos. Precisamos sermos eternamente críticos desse sistema demagogo que escolhe a classe menos favorecida para depilar o seu patrimônio mais sagrado que é justamente a sua honra e a sua formação humana.
Essa prole brasilianista que ergue-se no poder com discurso social e deixa emergir a fome e a dor é a mesma que muitas vezes dobra os joelhos, juntas as mãos, eleva os olhos em direção aos céus e bate lábio contra lábio, como se Deus gostasse de cochicho.
(BERRANDO EM VOZ ALTA ).... Deus não quer cochicho, Deus quer ação de bondade, de benevolência, um ato de caridade que salve o irmão que sacie a sua fome. Deus não quer que ninguém seja perseguido, nem pela fé que escolheu e, muito menos por fazer opção política partidária, uma coisa que é de livre arbítrio e ,que todo homem tem a anuência de escolher a facção que melhor lhe convier ao meio e satisfazer o seu ego. Não sou revolucionário, mas sei e reconheço que está é uma partia amada, onde os seus filhos não fogem nunca a uma luta cotidiana pela sobrevivência por ser eternamente, uma brava gente brasileira.
( APÓS O DISCURSO O PADRE OLAVO ARRANCA O CHAPÉU DA CABEÇA E ARREMEÇA EM DIRAÇÃO AO PÚBLICO. NOVAMENTE TODO O PALCO FICA ESCURO E PADRE SOME.
QUANDO AS LUZES SE VOLTAM OS DOIS MALANDROS APARECEM SENTADOS NOS BANCOS..CARIOCA COM A SUA MOCHILA E OS MESMO APETRECHOS DE ANTES DENTRO DA MESMA. MALANDRO CARIOCA COMEÇA A ANDAR IMPACIENTEMENTE DE UM LADO PARA OUTRO DO PALCO, COM A MOCHILAA Á COSTA ).
MALANDRO PAULISTA ( SENTADO )
Aonde você está querendo ir ?
MALANDRO CARIOCA
Por enquanto eu estou pensando, eu começo a meditar no que fazer.
MALANDRO PAULISTA
Tô sabendo que o mano conversou com a padre Olavo, é verdade ?
MALANDRO CARIOCA ( GESTICULANDO )
È natural que é verdade, afinal eu fui confessar o Santo padre.
MALANDRO PAULISTA
E daí o que falaste ?
MALANDRO CARIOCA
Confissão ´e segredo coisa minha e do meu vigário.
MALANDRO PAULISTA
Ele perguntou pelo vinho ?
MALANDRO CARIOCA
Que vinho mané, tá querendo vim com sugesta de novo, esquece isso e deixa de arrudeio.
MALANDRO PAULISTA
Carioca deixa de enrolar, a sua pessoa pegou a "têta" na igreja, ainda não me deu uma dosezinha sequer para refrescar a goela ,está querendo tomar tudo sozinho e, ainda tá querendo colocar uma placa de otário na minha bunda ?
MALANDRO CARIOCA
O irmãozinho que está falando isso, eu sinceramente estou pensando uma outra coisa, esse negócio de vinho é coisa do passado, eu acho que o velho deveria criar um fato novo.
MALANDRO PAULISTA
Então quer dizer que você vai mesmo me enrolar de verdade ? E não vai dá nenhum pitelzinho de nanica de nada, para o teu mano ?
MALANDRO CARIOCA
Você me dei vinho ?
MALNDRO PAULISTA
Não
MALANDRO CARIOCA
Você tem industria de vinho ?
MALANDRO PAULISTA
Não
MALANDRO CARIOCA
Você plantou alguma videira .
MALANDRO PAULISTA
Não.
MALANDRO CARIOCA
Você planta vinho ?
MALANDRO PAULISTA
Não
MALANDRO CARIOCA
Você por um acaso me contratou para ir buscar vinho nos estados do Sul ?
MALANDRO PAULISTA
Não.
MALANDRO CARIOCA
Então seu pre4go, vai beber vinho na cadeia.
MALANDRO PAULISTA ( LEVANTANDO-SE APRESADAMENTE E INDO AO ENCONTRO DO CARIOCA )
Ô maluco, você está querendo se fazer de bobo.
MALANDRO CARIOCA
Não entre em estado de choque, calma e sem violência, ( ERGUENDO OS BRAÇOS ) Eu sou da paz, olhe para mim paulistinha, veja como eu sou um cara fino, nunca à guerra e jamais à violência, tudo pela paz, e pelo amor ou pelo azul que reveste a minha alma, eu te declaro paaaaaaaaaaaaaaaaaaaz.
MALANDRO PAULISTA
Tá vacilando irmão, qualquer hora tu vira carré, aí você cai no rabecão e aí eu quero ver como é que vai se virar.
MALANDRO CARIOCA
Que rabecão maluco, tá me achando com cara de IML, eu sou do bem seu maracujá .
MALANDRO PAULISTA
Vamos acertar essa parada, eu não vou sair no prejuízo.
MALANDRO CARIOCA ( APAONTANDO O BANCO )
Senta lá, pessoas civilizadas conversam sentadas, falam baixo e não chama atenção de quem está ao seu lado. Senão não é malandro é mané de vigésima categoria.
MALANDRO PAULISTA
Sabe o que eu estou pensando, você levou o Sacolé para grupo com o talco, enrolou a mina dele com os pano, foi na igreja pegou o bagulho e quer tomar só, me acha com cara de tonto e está me querendo levar na lábia, para me enrolar também.
MALANDRO CARIOCA ( ASSOLETRANDO )
A di vi nhão.
MALANDRO PAULISTA ( AGARRANDO A MOCHILA DO AMIGO )
Você é abusado.
MALANDRO CARIOCA
Sem essa de agressão, nada de xeque mate. Sem querer me coagir
MALANDRO PAULISTA
Então me diga, o que tem aí dentro (SOLTANDO –O)
MALANDRO CARIOCA
Badulaques
MALANDRO PAULISTA
Mentiu.
MALANDRO CARIOCA
Jornais
MALANDRO PAULISTA
Mentiu
MALANDRO CARIOCA
Ô bicho você é minha nega por acaso para eu dá satisfaça da minha carreira? Vai atacar em outro porto, que neste barco tem comandante. Volte à São Paulo a pé e veja se me acha no aeroporto.
MALANDRO PAULISTA ( BERRANDO )
Eu quero beber vinho ,cacau.
MALANDRO CARIOCA
Vai mamar em um bode
MALANDRO PAULISTA
Você não vai ficar vivo
MALANDRO CARIOCA
Eu sei que lá naquela boca de rango, eles dão feijão todos os dias para os visitantes.
MALANDRO PAULISTA ( SENTA-SE )
Sacolé está descendo o morro com a sua tropa, acho que desta vez a sua pele vai virá tamborim e ressoar na avenida no período do carnaval.
MALANDRO CARIOCA ( SENTA-SE ABRE A MOCHILA, RETIRA DO SEU INTERIOR UMA GARRAFA DE VINHO, COLOCA MENOS DA METADE EM UMA TAÇA E OFERECE AO AMIGO )
Prove um pouco. ( ESPICHANDO O BRAÇO )
MALANDRO PAULISTA ( RECEBENDO )
Só isso.
MALANDRO CARIOCA ( SEGURANDO A TAÇA )
Quer ou não quer , tem que pegar ou largar, você não faz nada e não merece mais que isto.
MALANDRO PAULISTA ( SEGURANDO O COPO 0
Só esse tiquinho maluco ( OLHANDO O COPO DEMORADAMENTE ) isso não dá nem para matar os bichinhos que estão no estômago do doido.
MALANDRO CARIOCA
Não é para matar é somente para agitar os desgraçados.
MALANDRO PAULISTA
Isso é uma miséria , mano.
MALANDRO CARIOCA
Mano é lá no morro agente está na cidade, maluco.
MALANDRO PAULISTA
Colocou na míngua em velho.
MALANDRO CARIOCA
Bebe logo isso e devolve logo a minha lata que eu quero guardar.
MALANDRO PAULISTA ( BEBENDO E DEPOIS ESPICHANDO A MÃO COM O COPO )
Mais uma carrinha ,meu.
MALANDRO CARIOCA ( GUARDANDO A GARRAFA DE VINHO NA MOCHILA )
Isso é caro, não é sempre que você toma vinho, pode até te dar uma diarréia.
MALANDRO PAULISTA
Tá regulando mesmo o bagulho ,heim ?
MALANDRO CARIOCA
Estou economizando, o ministro da fazenda disse que não se pode gastar mais do que se arrecada. É preciso economizar hoje, para poder beber amanhã, entendeu ?
MALANDRO PAULISTA
Quantas garrafas de vinho você pegou na igreja, seu bode velho ?
MALANDRO CARIOCA
Nenhuma, eu comprei todas na adega, você tá me achando com cara de gato ?
MALANDRO PAULISTA
O padre Olavo disse que roubaram quatro garrafões da sancristia e, você me dá só esse golinho aqui ?
MALANDRO CARIOCA
O que é que eu tenho com o sumiço do vinho da igreja do padre Olavo, carcará ?
MALANDRO PAULISTA
De novo a sua pessoa vem com "cuecué", par cima da minha orelha, pára com isso rapá, aqui ninguém é bobo.
MALANDRO CARIOCA
Você está sabendo que eu vou investigar esse negócio aí e levantar umas araras do nosso vigário ?
MALANDRO PAULISTA
Deixa de ser cara de pau..
( MALANDRO PAULISTA E MALANDRO CARIOCA SENTAM-SE JUNTOS NO MESMO BANCO LADOA A LADO. TODOS OS APRETECHOS ESTÃO GUARDADOS NA MOCHILA )
MALANDRO CARIOCA
Ô paulista se liga, precisamos arrumar uma fita aí, par gente se dá bem.
MALANDRO PAULISTA
Como mané, se tudo que eu planejo você só quer me passar para traz.
MALANDRO CARIOCA
Não é bem assim.
MALANDRO PAULISTA
Como não, eu dei a idéia do talco.
MALANDRO CARIOCA
Fale baixo que não precisa o Brasil inteiro saber que agente anda perfumado. Esse é o teu mal, você vomita muito alto.
MALANDRO PAULISTA
Vomita nada você sabe que a sugesta é verdadeira, me enrolou no vinho, agora vai querer aplicar um outro golpe.
MALANDRO CARIOCA
Não pense assim, estamos juntos. È como diz o velho padre Olavo em seus sermões vermelho: não podemos nos dispersar, temos que estarmos sempre juntos e colados.
MALANDRO PAULISTA ( LEVANTA-SE E COMEÇASE A ESPREGIÇAR-SE )
Ai, ai, ai, ai.
CENA SETE.
( ENTRA A IRMÃ CAROLINA )
IRMÃ CAROLINA
Foi bom eu encontrar vocês dois aqui e juntos.
MALANDRO CARIOCA
Pois não irmã, a senhora me parece muito preocupada. O que é que está acontecendo ? Estás precisando dos nossos préstimos ?
IRMÃ CAROLINA ( ALTERADA )
Quero ter uma conversa seríssima com os dois, afinal aconteceu uma coisa muito desagradável e eu não gostei.
MALANDRO PAULISTA
Diga irmã, estamos á sua escuta.
IRMA CAROLINA
Sumiu todo o vinho da igreja, e eu quero saber quem foi que cometeu um pecado desse. Isso é imperdoável.
MALANDRO CARIOCA
E aonde agente entra nesse filme, em que a irmã está escrevendo o roteiro ?
Qual vai ser o nosso papel nessa filmagem ? Quanto vamos receber de porcentagem para a gente começar a filmar isso aí ? Quem foi que disse que nós dois vamos fazer o papel principal nessa peça de teatro e depois transformar em filme ou mine série de TV, assim só na lábia ?
IRMÃ CAROLINA ( NERVOSA )
Eu estou falando sério, eu não tenho tempo para brincadeiras, entendeu ?
MALANDRO PAULISTA
Calma irmã fique muito calma, eu (BATENDO NO PEITO ) na verdade nem sei do que a irmã está falando.
MALANDRO CARIOCA
Eu estou falando sério, se forem me colocar nesse filme d roubo de vinho, eu vou querer receber os meus direitos autorais, pelo menos uma parte do dinheiro adiantado ( PAUSA ) veja bem irmã, eu não aceito ser coadjuvante de jeito nenhum.
MALANDRO PAULISTA
A irmã está falando é sério, doido.
MALANDRO CARIOCA
E por um acaso eu tenho cara de bobo da corte para fazer graça ? ou você também quer me colocar um nariz de palhaço e dá risada ?
IRMÃ CAROLINA
Carioca, a igreja vai em peso à delegacia e exigir uma investigação minuciosamente para que agente pegue o gatuno e coloque atas das grades.
MALANDRO CARIOCA ( DEBOCHANDO )
Filme assim é bom demais. Tem polícia no meio, então é sinônimo que vai haver muita ação (PAUSA ) Bala estourando no ouvido das pessoas, ( PAUSA )correria, tortura, cheiro de couro queimado, sangue, choro, ranger de dentes, gritos, desesperos, mulher correndo com criança de colo, velho atravessando a rua com bengala na mão e aquele bermudão sujo e rasgado todo encardido amarrado a punho na cintura, como se fosse um velho pescador . ( DANDO GARGALHADAS ) eu, particularmente estou gostando desse enredo "doido" que a igreja está bolando. Irmã, o Carioca não vai ser coadjuvante nessa brincadeira de gato e rato.
MALANDRO PAULISTA ( ZOMBANDO )
Ô carioca, você bebeu ?
MALANDRO CARIOCA
Não esculacha.
MALANDRO PAULISTA
A Irmã está falando uma coisa e você está aí delirando, como um pato que teve o pescoço cortado.
IRMÃ CAROLINA ( ALTO )
Quem pegou i vinho da igreja ?
MALANDRO CARIOCA
O padre
MALANDRO PAULISTA
O padre.
IRMÃ CAROLINA
O padre ?
MALANDRO CARIOCA
Claro, ele é que vive celebrando missa e bebendo tudo sozinho. ( E DÁ ALTAS GARGALHADAS )
IRMÃ CAROLINA COMEÇA A ANDAR AGONIADA DE UM LADO PARA O OUTRO DO PALCO.MALANDRO PAULISTA E MALANDRO CARIOCA SE ENTREOLHAM DANDO RISADAS.
MALANDRO PAULISTA ( RINDO E CANTANDO )
O padre bebeu.
MALANDRO CARIOCA ( REPETINDO O CANTO DO AMIGO )
O padre bebeu só
MALANDRO PAULISTA ( CANTANDO )
O padre bebeu
MALANDRO CARIOCA ( CANTANDO )
O padre bebeu só.
IRMÃ CAROLINA GRITANDO E SACUDINDO OS BRAÇOS.
Pareeeeeeeeeeeem.
MALANDRO PAULISTA E MALANDRO CARIOCA FINGEM SE ESPANTAREM COM O GRITO E..............
 
 
.................CAI O PANO.
................. fim do primeiro ato.
José Maria Souza Costa
     


Nenhum comentário:

Postar um comentário