terça-feira, 2 de novembro de 2010

QUARTO CAPITULO DO ROMANCE - água com bacuri -


QUARTO CAPÍTULO

ÁGUA COM BACURI

O telefone celular de Edinho continuava a tocar insistentemente, pois ele o esqueceu sobre uma cadeira na sala.
Senhor Torres despertou com o barulho do aparelho e atendeu.
Do outro lado da linha, Flávinho levou um susto e desligou-o, rapidamente.
- Só faltava essa,resmungou o velho, voltando para o quarto.
Do outro lado, Flávinho assustadíssimo imaginava:
" Meu Deus, o velho atendeu e agora, o que fazer ? Certamente o número do telefone ficou gravado no aparelho dele e, ele interrogará  o filho para saber quem estará ligando a esta hora ? Parece que hoje um vazio toma conta de mim, por que as coisas não querem acontecer, a noite não quer passar, mas tenho que descansar"
No dia seguinte..............................
Cedo o senhor Torres levantou-se, tomou banho e sentou a mesa para tomar café.
- Carmem, chama os meninos, precisamos conversar, já faz um tempo em que a nossa família não reúne-se, precisamos equacionar alguns probleminhas e, colocar as coisas em ordens; ordenou o velho.
- Está bem, mas ainda estão dormindo, irei acordá-los; disse ela.
Primeiro ela chamou Ana Luiza, depois bateu a porta do quarto de Edinho para que ele despertasse, mas o sono era pesado,pois ele foi dormir muito tarde pois chegou a madrugada quase ao amanhecer.
Mesmo assim,não demoraram muito tempo, para todos estarem em volta à mesa.
Depois dos filhos cumprimentarem os pais, o senhor Torres perguntou:
- Edson a que hora você entrou ontem ?
- Cheguei de madrugada pai, por que o show terminou muito tarde e, eu ainda fui deixar uma "mina" em casa.

- Mina...qui mina ? Então você já tem namorada ?

Edinho empalideceu, mas respondeu:

- Ah, Pai. Uma garota que ficou me olhando, depois disse que queria falar comigo, que me achava bonitinho, ai eu tomei a decisão de levar ela em casa.

- Como é o nome dela ? quis saber.

- Heloísa, respondeu o garoto.

- É filha de quem ?

- Eu não sei o nome da mãe dela, sei apenas que ela me acha bonito.

- cuidado com esse namorico, não vai fazer bobagem e depois trazer mais uma carga para a minha costa. Acho melhor você se dedicar a estudar, para poder se formar, ter uma profissão, equilibrar-se na vida e, ai sim pensar em namorar; recomendou o velho.

- Tá bom pai, tá bom; respondeu o garoto.

- Você esqueceu o seu telefone em cima da cadeira, esqueceu de levar para o quarto, está aqui; disse mostrando o aparelho e continuou:- tocou a noite inteira, acho que era alguém procurando por você.

- Mas eu não marquei com nenhuma pessoa para me ligar, ainda mais de madrugada.

O velho virou para Ana Luiza e perguntou:

- E você querida, como está ?

- Tô boa; respondeu ela com a boca cheia de pão.

Carmem estava ali calada ao lado ouvindo tudo, ela não não tem uma acessão de opinião sobre os filhos, quando está  a frente do marido e, quase sempre ela apoia as opiniões dele.

Torres ordenou:

- A partir de hoje seu Edson, vamos fazer um esforço de chegar mais cedo em casa. Você tem a sua chave, as coisas não estão facéis por ai a noite como agente imagina. Ali naquela oficina agente ouve muita coisa que acontece nesta cidade na madrugada, esta cidade já não é mais a calmaria de outrora. Antigamente os caras só roubavam galinhas, hoje eles assaltam bancos, padarias, lojas e andam armados até os dentes, assaltando as pessoas. Filho o perigo sempre mora ao lado e, agente pensa que as coisas só acontecem com o vizinho e, jamais imaginamos que podemos ser mais uma vítima. Precisa tomar cuidado, agente está sempre exposto.

Todos ouviram o desabafo do velho.

Depois disso ele levantou-se, vestiu o macacão azul, com o qual trabalha na oficina, desceu as escadaria e seguiu rumo ao emprego.

Carmém aproximou-se de Edinho, deu-lhe um cheiro na cabeça, abraçou-o e, disse carinhosamente:

- Eu também não sabia que a minha doçura está namorando e,.....

Ana Luiza atalhou:

- A qualquer hora a senhora vai está aqui distraída e, vai ver entrar uma criança correndo, puxando a sua roupa, chamando pelo seu nome e, a senhora vai perguntar, quem é ? E a criança irá responder, eu sou o seu neto.

- Não fala assim, Ana Luiza.

Edinho ouvia tudo calado e, a irmã atacou novamente:

- Quando você vai trazer a beldade, para a mãe conhecer ?

Carmem atalhou:

- Eu não quero conhecer ninguém,deixe ela lá mesmo filhote; beija, cheira,mas não deixe passar disso, você é muito novinho.

- Tá bom...tá bom, chega dessa conversa; ralhou Edinho.

Dona Carmém convidou Ana Luiza para ajudar a desarrumar a mesa e, ordenou que o filho fosse fazer os deveres escolares.

Edinho saiu da cozinha e sentou-se na sala e, da cozinha Ana Luiza perguntou em voz alta:

- Edinho quem foi que ligou para você ?

- Fecha a boca Ana, respondeu ele irritado.

Colocou as pernas em cima do sofá e ficou pensando:

" Quem poderá ter ligado-me ? A minha namorada não pode ter sido, eu a deixei em casa e ela não iria me ligar aquela hora, ela sabe que acordaria todo mundo aqui em casa"

Ele ficou a manhã inteira pensativo.

 Do outro lado da rua Lili Boca Mole e Joaninha Sabe Tudo, conversavam de tudo.

 Falavam da festa, do comércio, da concorrência  enfim, da vida das outras pessoas.

- O que sabes da festa Joaninha ? indagou Lili.

- Só ouço falar que foi boa, mas não estive por lá, respondeu a amiga.

- Dizem que teve de tudo.

- Ouço falar, dizem até que a praça amanheceu cheia de camisinhas.

- Camisinhas ?

- O que deve ter amanhecido de couro furado, não está escrito, lá por onde eu moro a noite inteira era um sobe e, desce de gente sem tamanho.

- Você reconheceu alguém ?

- Eu nem levantei-me, era tanto sussurro, latidos, uma confusão sem fim.

Joaninha Sabe Tudo, entrou e saiu rapidamente do salão com uma vassoura e começou a varrer a calçada.

- E os nossos vizinhos Lili, será que eles foram a festa ? indagou ela  sorrindo e com ares de deboche.

- Esses não perdem,já ouvir comentários que o de cima; falou apontando a vassoura para a casa de Flávinho e continuou:- andava bêbado lá pela lanchonete da rodoviária e, por pouco cachorro não o lábia os lábios. E dizem que ficou a madrugada inteira na praça Samea Costa, pode olhar para lá que está tudo fechado, trancadinho. E continuou:- O da frente disseram que andava desfilando com uma menina, que o pessoal todo pensou que ele fosse "comer" ela, na frente de todo mundo e no meio da praça para toda a Arari ficar sabendo. Mas tem uma coisa querida, essas meninas que se envolvem com esses vagabundos, são piores do que eles. É preciso arrumarem serviços para essa corja.

- Concordo plenamente com você, em palavras e qualificações.

- Pois é.

- E as contas depois ?

- Depois quer cortar cabelo de graça, comprar no quitandeiro fiado e, quando o coitado não atende, acha que estão certo.

- Verdade amiga.

- Quando esses vagabundos acordarem vai ser lá para onze horas, meio dia, também tem os bestas dos pais para sustentar.

Ambas ainda conversavam quando o senhor Torres apareceu na porta da oficina e, ao avistá-lo, as duas refugiaram-se no interior do salão.

- Bom dia seu Torres, disse o senhor Chico do Carro que ia chegando.

- Bom dia chefe,respondeu

- Abriu mais cedo ?

- Verdade, é que tenho um carro que já está atrasado e, quero dá uma adiantada nele.

Seu Chico não demorou muito tempo ali, o velho nutre de uma confiança extraordinária do patrão e, por isso ele abre e fecha a oficina, no momento que melhor lhe convier.

Dona Carmem, atravessou a rua na direção do marido.

- Quero dá uma palavrinha com você Torres, disse ela.

- Pode falar.

- Edinho pediu-me para ir a São Luis.

- O que ele vai fazer lá ?

- Vai com uns colegas da escola, inventaram uma excussão e ele,quer ir.

Torres passou a mão na cabeça, alisou o bigode e respondeu:

- Perguntei o que ele vai fazer lá e, não com quem ele vai, mulher.

Carmem ficou séria e respondeu:

- Ele vai fazer um trabalho.

- Qual trabalho Carmem ? insistiu o velho já impaciente.

Ela calou-se e ficou a fitar-lhes os olhos, que já demonstrava irritação. Mesmo assim respondeu:

- Eu não sei. É sempre assim, quando eles querem as coisas, me colocam na frente.

- Onde ele está ?

- Em casa, respondeu ela.

O velho deu alguns passos para tras e disse:

- Diga a ele, que quando eu chegar em casa, agente resolve isso.

- Ele vai precisar de uns cinquenta reais, ele vai ter almoçar, pagar passagem.

- Calma Carmem, a noite nós resolveremos tudo isso, agora vá pra casa, para eu terminar de acertar o meu serviço.

Ela atravessou a rua de volta para casa e,o marido entrou para a oficina.

Ao avistá-la e, sem que pelo menos colocasse o pé dentro da casa, o menino foi logo perguntando:

- E aí velha ?

- E aí o que ? O teu pai virou uma capivara parida, quando eu falei que você quer viajar.

- A senhora não disse que é sobre trabalho escolar ?

- Falei sim.

- E ele ?

- Você sabe, como é o seu pai, mas ele disse que quando chegar a noite resolve isso, falando com você diretamente.

- A noite? perguntou  Edinho irritado e continuou:- na hora da comida ele vai pregar aquele sermão, investigar o que vou fazer, com quem vou e , aquela coisa de porra louca.

- Fale isso para ele, recomendou ela.

- Você também não fala nada. Disse ao menos que que eu vou precisar de dinheiro para levar ?

- Falei tudo querido, mas a noite quando ele chegar, vocês resolvem as suas pendências e, aí você pede o que quiser.

Ainda falavam, quando entra Ana Luiza.

  • Eu também irei a São Luis, disse ela.
    - O que vai fazer lá ? indagou o irmão.
    - Vou a praia tomar sol.
    - Com que dinheiro, querida ?
    - O pai vai bancar.
    Ele olhou sério para a mãe e disse:
    - Eu quero que ele dê dinheiro para Ana ir se divertir e,me deixe chupando o dedo, eu vou a trabalho,entenderam ?
    - Deixe de tolice Edson, respondeu  dona  Carmem.
    Ele calou-se, ficou quieto imaginando coisas e, como dobrar o velho que chegaria a noite.
    Joaninha e Lili, ficaram ambas atrás da porta, ouvindo a conversa do esposo com dona Carmem. Elas riam, cochichavam, gesticulavam enfim, fazia todo o tipo de estrepolia.
    O dia passou-se e, já é tardezinha.
    O senhor Torres fechou a oficina, atravessou a rua e subia a escadaria de sua casa assobiado e, encontra Edinho sentado na sala, todo perfumado,cheiroso, parecendo um príncipe. Passa direto rumo a cozinha, sem dá atenção ao filho.
    - Carmem, chamou o marido entrando casa a dentro e continuou: - cadê o meu cafezinho ?
    - Já está indo, espere um pouco.
    Edinho se levantou, correu na direção do pai e o abraçou, mesmo ele estando todo sujo de oléo e, foi logo  dizendo:
    - E aí, vai me liberar o dinheiro para eu viajar ?
    Fingindo nada saber ele respondeu:
    - Para onde você vai ?
    - Pra cidade.
    - Fazer o quê ?
    - Trabalho escolar.
    - Ainda vou ver se tenho algum dinheiro.
    Edinho parou e disparou:
    - Não vem me enrolar, toda vez que eu te peço dinheiro, você coloca mil e uma dificuldade.
    - Deixa de despautério, Edson.
    - Eu vou amanhã, disse o moleque afirmativamente.
    - Depois conversaremos  sobre isso.
    - Não enrola, se eu ficar reprovado ou de repetência no final do ano, já sabe quem é o culpado.
    Torres apesar de ser um velho carrancudo, durão, sempre se curvou aos apelos dos filhos e, eles sabiam disso. Do outro lado na casa dos Mendes era um silêncio absoluto.
    Mesmo estando em casa, Flavinho nem sequer pareceu na porta da rua, ficou trancado o dia inteiro. Estava cansado e precisava descansar. Perdeu o contato com Cássio e, não sabia se ele ainda estava em Arari ou se já teria partido para São Luis. Mas Flávinho também iria a São
    Luis, resolver seus assuntos particulares e, passar uns dias por lá. Por ser uma pessoa comedida, prudente, polida, cortes, ele analisa bem, as coisas antes de fazer. O silêncio na casa era quebrado apenas quando Maria, sua irmãzinha fazia algazarra, correndo de um lado para outro, essas coisas que acontece com todos os adolescentes. As vezes a dona Lúcia dá uma ordem
    ou pede algum favor para eles. Seu Armando é o tipo da pessoa que fala muito pouco.
    Somente bem a tardezinha, quando já aparece o ocaso, é que Flavinho abre a janela e, aparece com os cabelos molhados, presos a uma tiara, óculos de aros vermelho no rosto, colar de ouro branco no pescoço e sem camisa.
    Edinho está sentado no para-peito da sua casa.
    Não se falam, nenhum gesto, apenas Flavinho fixa o olhar firme no rapaz com se fosse um predador.
    Ai, ele pensou intimamente.
    " Vou conseguir, não é possível que eu não mereça ser feliz ".
    Edinho não se intimidou, não saiu do lugar, passou as mãos nas pernas, ergueu a bermuda e a cada gesto que fazia, causava um furor no outro garoto.
    Da janela do sobrado um suspiro profundo, existe uma ansiedade, várias vezes o olhar de ambos se cruzaram, nenhum se repele, não se xingam, mas não balbuciam nenhuma palavra.
    Edinho abre o telefone celular e começa a manusear, finge que está falando com alguém. Existe um enorme fingimento. Todos os gestos do garoto causa um ciúme, que o outro não deixa
    transparecer e, mantém um comportamento aristocrático, generoso. Com a sua polidez ele controla seus gestos  e sentimentos aflorados.
    É a hora do jantar.
    Todos estavam sentados em volta a mesa na casa do senhor Torres.
    - O que você vai fazer em São Luis ? perguntou ele ao filho.
    - Já disse que vou  para fazer um trabalho escolar.
    Ele enfiou a mão no bolso, tirou um monte notas amassadas, olhou cuidadosamente e separou uma de cinquenta reais e deu ao garoto.
    - Quando vais voltar ? quis saber.
    - No fim de semana, respondeu o garoto.
    Torres recomendou:
    - Cuidado, muito cuidado filhote.
    - Não se preocupe pai.
    - Vocês vão  à praia ?
    - Creio que sim, ir à cidade, a qual é uma ilha e não ir à praia, seria o mesmo que visitar a cidade de Roma, passar pela praça de São Pedro e, não ver o Papa.
    - Cuidado demais é pouco, lembra-te que nunca fora a São Luis e, jamais estivera em uma praia.
    - Pode deixar pai, não se preocupe com bobagens, respondeu o garoto.
    Ele olhando para Edinho disse :
    - O mar é traiçoeiro. Ele se transfigura, os ventos lhe causa transformações e, altera os seus rumos. Eu estou preocupado, quero que o meu pimpolho volte logo.
    - Deixe de agouro com o menino, falou Carmém da outra ponta da mesa.
    Ana Luiza, que apenas ouvia tudo silenciosamente e mastigava, resolver provocar:
    - E a namorada, vai ficar sozinha ?
    Torres olhou para Edinho, ele ficou sério.
    - Ele não tem namorada, atalhou dona Carmém.
    - A senhora é que pensa, respondeu a filha.
    Senhor Torres ralhou:
    - Eu não quero esse tipo de assunto aqui.
    Todos calaram.
    Com poucas palavras e apenas alguns gestos, dona Carmém, sabe bem como contornar qualquer situação, sem que deixe alguém da família constrangido.
    Flávinho não contendo a ansiedade, pegou o telefone e discou

Do outro lado da linha:
- Alô quem é ? atendeu  Edinho.
Ninguém respondeu, e ele insistiu em perguntar;
- Quer falar com quem ? Quem está falando ?...insistia o garoto até que responderam:
- Sou eu, mas lhe peço a não desligar o telefone.
- Eu quem ? quis saber.
- Sou eu, o seu amigo Flávinho.
Edinho ficou quieto e silencioso.
- Alô...alô...alô.
Após alguns minutos.
- O que é que você quer comigo, cara? indagou.
- Quero apenas conversar com você.
- De novo você, cara ?
- Escuta-me, faz tempo que eu quero me aproximar de você e, ser seu amigo.
- Não vou desligar por  educação, mas diga logo o que queres ?
- Dá-me uma chance de falar co você.
- Cara, eu não entendo o que você quer comigo, já conversamos no Centro Cultural, já falei o que tinha que falar, você já ouviu e, agora você torna a me incomodar outra vez ?
- Calma, querido.
- Calma o quê ? Quem deu o número do meu telefone a você, pense bem cara, eu estou atordoado.
- Acalme-se, não fique assim. Vamos nos aproximar um do outro, vamos esquecer as brigas de famílias,espero que entenda, você é uma pessoa jovem e inteligente.
Edinho apenas ouvia, de repente ele pediu:
Cara, tenho  que falar com a minha namorada.
- E você tem namorada, disse Flávinho fingindo não saber.
- Vou lhe perguntar pela enésima vez, o que é que você quer comigo ?
- Quero a sua amizade.
- Cara, vou desligar por que a minha "mina", está mês esperando e, agente fala depois.
- Você vai desligar mesmo ? quis saber Flávinho.
- Preciso, além do que, tenho que resolver outras coisas, por que eu vou para São Luis.
Flávinho atalhou:
- São Luis, eu também estou indo.
- Que coincidência desagradável.
- Então você não quer mesmo ser meu amigo?
- Estou sendo educado com você, não quero ser o seu amigo, não quero a sua amizade, não quero e nem tenho interesse em nenhum tipo de relacionamento com você, gostaria que você compreendesse e, respeitasse o meu sentimento e a minha escolha, gostaria que não me
procurasse jamais e não me incomodasse, creio que não há porra nenhuma que nos aproxime.
Flávinho emudeceu na linha de pois de ouvir tudo e chorou.
- Está chorando por que rapaz ? quis saber Edinho, ouvindo o soluçar do rapaz e continuou :- desculpe cara,sei que estou lhe magoando, mas acredite que eu venho fazendo um esforço enorme para ser sincero com você e, comigo mesmo.
- Está bem, você  tem razão.
- Posso desligar, agora ? tornou a perguntar Edinho.
- Pode, respondeu Flávinho.
- Até logo cara e, fique com Deus.
Flávinho ficou triste,pensativo demoradamente.
Chorou bastante. Sentiu a alma doer. Estava ferido.
Edinho ficou olhando um longo tempo para o telefone e , pensou consigo:
" Quem terá dado o número do meu telefone para esse rapaz? Sei que fui duro com ele, fui deselegante, talvez precisava ser, talvez não,sei que o ofendi, mas possa ser que amanhã eu mude de idéia, mas não posso ter uma amizade com esse rapaz, afinal nossos pais brigaram, somos de
mal e, de nada nos vale uma proximidade. afinal eu não sei qual é a finalidade dele quer ser meu amigo ? Sei que o cara chorou, deve ter doído na alma dele as minhas palavras, mas fazer o que ? Será que terei que pedir perdão a ele um dia ? fui duro, mas paciência. Vou pensar se comento com a Heloísa ou com o meu pai, afinal eles, é que gostam de mim."

Flávinho retirou-se de casa e foi sentar na esquina da rua, por que tudo o que ouviu pareceu que o mundo caiu sobre a sua cabeça.
soprava um minuano agradável e, ele saiu para fazer uma caminhada, com seus passos largos e rasgando a avenida. Em um desses instante encontra com Márcio sentado à porta de um bar.
- Olá, o que fazes aí ? perguntou.
- Estou esperando  Eva, respondeu o amigo todo sorridente.
- Ué, voltou a ficar com ela, quis saber Flávinho.
- Não é nada disso, é que agente marcou aqui e já faz um tempinho que não nos vemos, a última vez foi ainda em junho durante o boi do Silvino, de lá para cá, nunca mais.
- Faz tempo, heim?  perguntou Flávinho  franzindo a testa.
- E você meu velho ? quis saber Márcio.
- Estou fazendo uma caminhada.
- Caminhada?!
- Sim.
- Pô se com esse corpinho você tem que fazer caminhada, eu tenho que fazer cooper e, talvez assim, ainda não entro em forma.
Flávinho sorriu, deu um aperto de mão no amigo e seguiu a trajetória que desenhou com suas passadas largas e, atraente.

Já era noite, quando Edinho saiu e encontrou Heloísa sentada na ponta de um meio fio, na esquina da Avenida João Lima, com a Travessa da Delegacia com o é popularmente conhecida. Estava com algumas colega ao lado..Ele aproximou-se todo sorridente, abraçou e deu-lhe um beijo na boca.
- Aonde vai ? indagou a namorada.
- Estou a te procurar
- Você está cheiroso, meu amor, disse ela, faceira mente.
As amigas ficaram observando cada gesto do casal.
Edinho disse:
- Precisamos conversar.
Afastaram-se e sentaram mais adiante no jardim que separa as vias.
- Vou para São Luis, disse ele novamente.
- É vai me deixar só aqui nesta cidade, sei que serei abandonada.
- De jeito nenhum, eu volto. Irei apenas conhecer a capital
- Vai se divertir um pouco na praia, não é ? Vai ver aquelas meninas todas de biquine exposta ao sol e, vai acabar me esquecendo.
- Ficarei aqui lhe aguardando. Eu e a minha fidelidade; disse ela.
- Eu sou apenas seu. Todo seu.
- Tomara que tudo isso seja verdadeiro, respondeu ela.
Ele colocou a mão no ombro da namorada e disse novamente;
- Tenho uma novidade.
- Fale logo.
- Contarei, mas quero que mantenha segredo, disse ele olhando seriamente para a namorada e continuou;- não sei como aconteceu, mas o filho  do Armando ligou para mim.
Ela colocou a mão na boca e disse admirada:
- Eu sei......
- Você sabe ? Como você sabe ?
- È somente a força da expressão, disfarçou ela.
- Alguém deu o meu telefone para ele.
- Eu não fui jamais faria uma coisa dessa, respondeu ela ressabiada.
- Você não faria isso, tenho certeza.
- E o que é,que ele quer com você ?
- Não sei, até agora não entendi nada, eu não gostava dele, mas a verdade é que ele nunca me fez nada, disse Edinho colocando os dedos entre os dedos da namorada e, continuou falando :- ele falou longamente comigo ao telefone e, tinha momentos que falava coisa com coisas e, chegou um instante em que chorou.
Ela ficou admirada.
Apesar da pouca idade ela, sabia que ele era uma pessoa sensível, porém equilibrada.
- Ele comentou que vai a São Luis, disse Edinho
- De vez enquanto ele vai, está sempre ligado a essas coisas culturais, ele que trouxe o Nhen para cá fazer o show,está sempre envolvido nessa agitação; disse a garota.
- Eu sei.
- Certamente ainda irão se encontrar por lá, previu a namorada.
- Aí é azar demais para a minha parte.
- Não fale assim , repreendeu a namorada.
E continuou:
- Já lhe disse que é preciso agente conhecer as pessoas,para fazer juizo delas.
A minha mãe e a minha vó, pede para agente tomar muito cuidado com o que se fala, por que pode um dia agente  precisar dessas pessoas. As mesmas que agente critica tanto.
- Estou brincando, disse ele batendo na boca por três vezes e, levantando-se, tomou-a, pelo braço, cheirou o pescoço e tornou a dizer sorridente;
- Eu quero, enfeitar-te um dia com as mais belas flores do campo desta cidade.
Quero te revestir com todas as cores que compõe o arco-íris e, lhe transformar em uma aquarela viva.
Quero ouvir o canto sonoro dos pássaros e, colocar na tua janela o som mais puro, mais nítido para você acordar.
Quero te deslumbrar com o meu cheiro de homem e, te enfeitiçar com o aroma de toda a natureza.
Quero te amar eternamente por toda a minha vida e, descobrir que tanto eu quanto você, somos mescla de uma mesma alma.
Quero rosar-te todos os dias na minha vida e, enquanto força eu estiver, e apertarei-te contra o meu peito, para te proteger das algur ras de alguns e do frio que cai dolente numa noite qualquer.
Quero chupar-lhe os teus lábios sem deixá-los manchado e, envolver-te toda deixando-lhe nua como uma nau e tão brilhante como se fosse uma estrela.
Eu quero tudo Heloísa.
Quero embrenhar-te no teu suor, penetrar na tua alma, te acordar mais cedo e, aquecer o teu sorriso doce e meigo.
Quero ser um pedaço do teu circo onde a tua alegria dará evasão a minha dor.
Serei a você um eterno guia e você a minha auto estima.
Eu te amo tanto e tenho dito muitas vezes.
Sonho com você, e tudo passa muito rápido.
Quero caminhar ao lado teu e, acordado sempre, para que a vida nunca faça da minha felicidade apenas e tão somente um sonho sonhado, mas sim uma realidade pura.
Eu te amo, te amo, te amo, te amo, te amo.
E baixou a cabeça.

Heloísa encheu os olhos d'água.
Ficou emocionada. Também cabisbaixa, pois ainda nunca havia ouvido de Edinho uma declaração de amor tão tênue,mas densa.
- Gostou das minhas palavras ? perguntou ele.
Ele levou as mãos ao olhos e respondeu:
- Estou me sentindo como uma deusa embriagada com o sândalo os seu macho.
- Vou sentir saudades de você, quando estiver viajando.
- Meu amor, a maior saudade não é de quem parte, mas de quem fica. Quem parte leva consigo a paisagem da natureza, os risos, as amizades, e o sonho de conquista que muito virá.
- Isso é o que você diz, respondeu ele.
Heloísa levantou-se.
Estava impaciente, bocejou, olhou para o céu e viu uma estrela que vinha caindo.
Ela disse:
- Com a luz daquela estrela que agora corta o céu, nessa mesma velocidade eu quero que você volte. E estarei aqui de braços abertos a te esperar e, não me cansarei disso jamais. Por que juntos formaremos um par, uma só pessoa.
Admirando-o, continuou:
- Quero ir para a minha casa, já namorei muito.
- Ué, agente nem se beijou e você já quer ir embora ?
- Está ficando tarde...tarde.
- Vai não, hoje a minha sogra não vai brigar.
- Mas eu preciso acordar cedo, respondeu ela.
Ele a tomou mais uma vez pelo braço, acariciou-lhe a face, alisou-lhe os cabelos e mais uma vez beijou-lhe a boca, dizendo :
- Você é doce como uma baunilha.
- Doce é o  aroma ada tua boca, respondeu ela.
Saíram de mãos dadas na direção da rua em que moravam escalando as planícies da rua.
Ambos misturavam um misto de alegria, tristeza e saudade.
Enquanto isso........
Flávinho desfilava os seus passos largos de caminhada na direção da rua Balbino Azevedo Costa.
Chegou em casa e disse a mãe:
- Amanhã estarei indo para São Luis, gostaria que a senhora quando arrumar a minha mala, coloque nela duas sungas para eu ir à praia.
- Você vai ver o mar, meu filho ?
- Sim.
- Cuidado com o mar, recomendou ela.
- Pode deixar.
- Quando voltas ?
- Não demorarei, antes do final de semana.
De repente, enquanto ainda falavam, ouve-se um estrondo no céu. A mãe de Flávinho, estava sentada no sofá da sala, assistindo televisão.
Um temporal sobre a cidade de Arari, muita chuva, as ruas estão todas alagadas, o céu totalmente escuro, fugiram todas as estrelas do horizonte. A noite parece um breu, não se vê uma alma viva pelas ruas da cidade ,a água que cai molha a terra e as plantas, a muito tempo não chovia, mas as estações de verão são assim, as vezes a temperatura eleva-se tanto e a noite as pessoas são surpreendido por torrenciais tempestades.
Todas as pessoas recolhem-se, as chuvas trazem consigo muitos relâmpagos, que cortam o céu com seus clarões assustadores e, fortes trovões que até hoje as crianças pensam que é São Pedro montado em um cavalo galopando pelos ares, como se fosse um vaqueiro estradeiro.
Toda acidade de Arari, parece que dormiu.
No dia seguinte:
No Centro Cultural uma boa parte da claque estudantil está na Biblioteca.
Muitos estudantes mesmo, a sala está repleta, entre eles; Maria, Márcio, Juliete, Heloísa e tantos outros do mundo estudantil.
Algum tempo depois de estarem ali Helóisa pergunta a Maria:
- A quem você deu o número do telefone que foste buscar lá em casa ?
- Qual ? indagou Maria.
- O que foste buscar em nome de uma pessoa, sobre um carro.
- Ah, sim. Lembrei era para o senhor Lalá.
- Sei.
- Por que ?
-Nada demais, apenas por curiosidade
- Aconteceu alguma coisa, coleguinha ?
- Nada mesmo, é que depois que você saiu e fiquei matutando e curiosa.
- Espero não ter lhe causado nenhum desconforto amiguinha; disse Maria.
Continuavam ali, na tagarelice e na conversa sem fundamento.
Maria se retirou, sem perceber que a amiga Heloísa desconfiava de alguma coisa.
Na verdade nem a própria Maria sabia que foi usada pelo irmão.
No Centro Cultural o ambiente estava agitado, era estudante pra lá e pra cá, uns subindo e outros descendo escadarias, num corre e corre e, num desses sobes e desce, Márcio encontra Eva.
- Olá, como está, disse ele a menina.
Ela sorriu e respondeu:
- Seu cachorro, ficou de me ligar e até hoje, não me deu um  telefonema sequer.
- Calma querida, recebi o seu recado e disse que hoje me encontraria com você, esperei um tempão na porta do bar e você não apareceu.
- Será ? tornou ela duvidando.
- Que fazes aqui, se tem tantas Bibliotecas lá embaixo, disse ele puxando assunto.
- Não é bem assim querido, lá não tem nada
Márcio colocou o caderno que carregava sobre o balcão e ficou em pé de frente para ela.
- Quando posso aparecer lá na tua casa ?
- Quando quiser, só não pode é falar gracinha que o meu pai está sempre em casa.
- Ele não trabalha?
- Aposentou-se, foi a melhor coisa que ele fez, trabalhou bastante, morou longe de nós  por muito tempo e, agora é justo está aqui, conosco.
Ela virou para o rapaz e disse;
- Vire e veja quem está ali em pé.
- Quem ? indagou ele.
- Flávinho, respondeu ela.
- Meu velho camarada, respondeu ele.
- Eu sei, disse ela.
- Vou buscá-lo, para vim bater papo conosco, disse saindo pela porta ao lado e indo ao encontro do amigo.
Nisto uma voz soa pelo salão da biblioteca:
" Pessoal atenção"
Tudo ficou silêncio.
E a voz continuou;
- Quero pedir silêncio ao pessoal estudantil, por que o vozerio está muito alto e, incomoda a diretoria, pedimos a colaboração de todos.
Era a voz da diretora.

Ambos entraram e foram ao encontro de Eva.
Cumprimentaram-se, beijaram-se como fazem todos os adolescentes.
Márcio estava sorridente e, deixou transparecer toda a alegria que sentiu.
Flávinho disse olhando para os dois.
- Vou a São Luis.
Eva sorriu e respondeu:
- Vai queimar-se no sol da praia.
- Não amor, a serviço, respondeu ele.
- Serviço, atalhou Márcio.
- Sim vou procurar regularizar a minha situação junto ao meu emprego, passei no concurso e quero saber como fica as coisas agora.
- O meu amigo, também vai para São Luis amanhã, disse Márcio.
- Quem é o seu amigo? indagou Flávinho.
- Edinho, respondeu Márcio.
Flávinho sorriu e arregalou os olhos.


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