terça-feira, 2 de novembro de 2010

: SEXTO CAPITULO RO ROMANCE - água com bacuri -





SEXTO CAPITULO
ÁGUA COM BACURI.

Sem que demorasse muito tempo, parou um ônibus com destino a São Luis, Flávinho entrou e acomodou-se em  uma poltrona no final do veículo em uma janela.
Seguiu para o seu destino.
Em Arari, Heloísa sentia saudades do namorado.
E no salão de Lili ela disse a amiga.
- Joaninha, está todo mundo viajando.
- Eu queria era saber de onde esse pessoal arranca tanto dinheiro para esse vai e vem.
Joaninha é disfaçadissíma, ela fala, corneta, cumprimenta a vizinhança, ela faz uma política de boa vizinhança.
Jamais se faz de rogada, tem uma cliente grande e, muitos a mantem fiel.
 Ela se dá bem com Lili, por que desde bem jovem, se conhecem.
Edinho que está na excursão não passa bem durante a viagem, até a cidade de  Miranda do Norte as coisas estavam normais, depois dali o ônibus em que estava, quebrou inúmeras vezes.
Uma hora falta combustível, outra fura os pneus e, o estepe está desgastado e, este fator fez eles perderem um bom tempo no Posto Rodoviário Federal.
 Em todos os rostos a expressão é de cansaço. Uma viagem que normalmente é feita em duas horas e meia, já se vão completar cinco horas, desde que deixaram a cidade de Arari.
Flávinho passou pelo ônibus em que Edinho estava na cidade de Santa Rita e, estava quebrado, com o motor exposto ao asfalto e, mesmo assim o carro em que estava não prestou socorro.
Ele chegou cedo em São Luis,desceu na rodoviária, tomou um táxi e disse:
- Leve-me até o bairro do Monte Castelo.
Seguiram viagem, motorista e passageiro conversando.
Ora falavam de política, ora de futebol, ora de religião. O tempo passou rápido e logo  o táxi estacionou na casa da dona Teodora Barata.
Teodora Barata, é uma pessoa que havia morado em Arari muitos anos atrás e, que mudando para a cidade abriu uma casa de pensão nesse bairro. 
 Flávinho era amigo dela  desde pequenino e sempre hospedou-se ali.
Desceu do táxi e entrou.
Segui direto para a recepção, apresentou-se e a recepcionista fizera seguir direto para o apartamento, que havia reservado antes. ao colocar a chave na porta pensou consigo:
-" Ué, devo demorar mais de uma semana aqui, bem que eu poderia arrancar aquele moleque daquela excursão e trazê-lo, para conversarmos aqui..."
Entrou no apartamento,sentou na cama e tirou os sapatos e calçou um chinelo,ficou somente de bermuda, depois retornou à recepção e  perguntou:
- Aonde está Teodora Barata  ?
A recepcionista respondeu:
- Viajou.
- Quando?
- Hoje de madrugada.
- Posso saber para onde ? insistiu ele
- Ela foi a Arari, amanhã se completa 10 anos que o esposo dela morreu, o senhor Auto Juvêncio de Sousa, ela foi mandar celebrar uma missa em intenção da alma dele e, como a filha dela mora lá, irão se reunir para esse momento.
Ele mostrou-se surpreso e disse:
- Ué, eu não sabia que ela iria para lá, fosse assim eu teria esperado ela em Arari e, teríamos vindo juntos, afinal, somos  quase vizinhos.
- Ela vem amanhã, mas queria falar somente com ela ,será alguma coisa que eu possa ajudar ?
Ele colocou a mão na cabeça e, começou a alizar os fios dos cabelos cacheados.
Deu dois passos atras e tornou:
- Você saberia me responder, aonde pára os ônibus que vem de excursão do interior, com aquele monte de estudante?
Ela respondeu:
- Quase todos estacionam na praça Deodoro, é quase uma obrigação por causa da Biblioteca  Pública. Somente depois é que eles ficam a andar pela cidade, igual a jumento sem mãe, mas a principio é lá.
Ele balançou a cabeça e disse:
- Está muito bem, agradeço pela gentileza.
Flávinho demonstrava uma alegria enorme. Estava feliz. Tinha motivos, estava ali longe dos pais e dos olhares que vigiam-lhe 24 horas dia. Estava próximo do emprego que batalhara tanto e, por ser um rapaz liberal, certamente a capital lhe oferece muito mais amores e entretenimentos.
Vestido elegantemente ele desce apé a avenida Getúlio  Vargas, via que dá acesso direto a praça Deodoro, centro histórico e cultural da nossa bela São Luis.
Chegando à  praça Deodoro, ele percebeu aquele alvoroço todo de estudantes, que misturavam-se ora com hippies, ora com camelôs, ora com transeuntes comuns.
Flávinho enfiou-se ao meio dessa pessoal e, pediu informações,observou, perguntou.
Estava distraidamente, quando viu  surgir um ônibus luxuoso, que passa  pela praça e segue na via que dá acesso a rua do Passeio, ele estacionou ao lado de uma via rebaixada e a garotada desceu. Ele atravessou a pista e viu escrito na parte frontal do veículo:
EXCURSÃO ESTUDANTIL DE ARARI A SÃO LUIS
Ele refugiou-se em uma parada de ônibus  urbano e, dali viu o Edinho descer com a sua mochila às costas e, entrar na Biblioteca Pública.
Ele saiu  e, caminhou para as proximidades do ônibus e, foi chegando até falar com o motorista:
- Boa tarde amigo, cumprimentou-o.
- Boa, respondeu o motorista.
- Esse ônibus trouxe o pessoal do interior ? indagou.
- Qual é o seu interior ? quis saber o motorista.
- Arari.
- Sim.
Trouxe essa molecada, mas confesso que me arrependi de ter feito esse contrato.
- Por que ?
- Este carro quebrou mais de cinco vezes de  Miranda do Norte, até chegar aqui, veja que horas são, disse mostrando o relógio.
- Isso acontece amigão,não há de ser nada na volta.
- Você conhece alguém aqui do ônibus ?
- Sim, respondeu Flávinho se aproximando mais do motora e continuou:- o meu irmão mais novo que eu veio nessa excursão, eu passei aqui apenas para saber, qual será o roteiro de vocês aqui em São Luis e, se ainda voltam hoje para o interior ?
O motorista levou a mão a cabeça, passou   os dedos no bigode e respondeu:
- Hoje agente não volta mais, isso é certeza, e pelo que eu ouvir a molecada trouxe até roupa de banho e eles, vão à  praia.
- É mesmo,  comentou Flávinho admirado e, continuou:- e, qual é a praia que vocês vão ?
O motorista pediu licença ao rapaz, foi até o interior do ônibus e, trouxe um mapa que lhe servia de guia.
- Posso ficar com uma cópia, o senhor deve ter mais aí ? indagou Flávinho.
- Poder, não pode, mas vou quebrar o teu galho, também não deixa nenhuma pessoa lhe encontrar com esse papel, estou fazendo isso, acreditando na sua palavra que o seu irmão esta aqui, na verdade eu não tenho autorização de prestar informação a nenhuma pessoa estranha, veio uma moça com um mega-fone e, ela monitora e orienta sobre qualquer coisa. Ela faz tudo.
Ele ficou por alguns instantes olhando para o motorista e disse:
- Relaxe tio, da minha boca ninguém saberá de nada e, amassou o papel e guardou no bolso.
O motorista tirou do bolso um pacote de cigarro, ascendeu um e, observando aquela agitação sem fim disse a Flávinho.
- È uma loucura, não gosto disso aqui, toda semana estou aqui duas ou três vezes, estou me cansando. ainda bem, que me falta poucos meses para aposentar-me.
- Que maravilha, respondeu Flávinho.
- Já batalhei muito meu filho, criei uma família de doze pessoas, e tenho certeza que você nem imagina o que é isso. Todos os dias tem que levar para casa: arroz, feijão e roupa lavada e, tudo isso em cima apenas de uma só pessoa.
- Não deve ser fácil, é um sofrimento enorme.
- Coloca sofrimento nisso,tenho filhos jornalista, médico, e se eu tiver de dizer algo a qualquer pessoa, diria que estudasse muito e com dedicação redobrada, ou aprenda uma profissão e dê valor a ela, aperfeiçoe-se a cada instante e, somente assim o seu amanhã será melhor.
Flávinho ficou encantado de conversar com o motorista, a hora passou e ele nem percebeu. Mesmo conversando com o motorista, ele estava planejando um modo de, como  encontrar com o garoto naquela distante e dista ida São Luis.
Apertou fortemente a mão do motorista e despediu-se, desejou-lhe uma boa sorte e, saiu em direção a Biblioteca com o roteiro da viagem no bolso.
Entrou na casa dos livros, passou pela primeira catraca, mostrou os documentos pessoais a recepcionista, atravessou uma sala de leitura e, subiu por uma escada de mármore que dá acesso ao andar seguinte. Repentinamente ouve passos de pessoas descendo degraus, esconde-se ao meio das estantes, toma as mãos um livro e, cobrindo o rosto vê Edinho passar em fila com outros colegas, seguindo rumo a portaria do prédio. Seguem em direção ao ônibus, agora não mais em fila, os meninos se espalham pela praça, olhando tudo e  alguns comprando bijuterias de
camelôs.
FLávinho observa tudo a distância, a moça do mega-fone, está muito nervosa, por que ela não consegue agrupar os meninos, há instantes em que ela berra, em outros ela lamenta-se enfim, ela encontra-se perdida diante daqueles mais de quarenta adolescente, que deslumbra-se com tudo o que ver e, a maioria é a primeira vez que está na capital.
Ele retira-se da Biblioteca e senta-se em um banco ao lado, num ponto estratégico, aonde não será descoberto.
Sentado, puxa do bolso o mapa da excursão e confere detalhe a detalhe, todo o trajeto que irão fazer, os locais de lazer que ainda vão visitar e, até mesmo aquele que fora reservado para os meninos pernoitar.
Diante disso tudo foi-se retirando da praça, encostou em uma barraca e pediu ao vendedor:
- Queria uma água de côco, por gentileza.
- Está aqui, disse o barraqueiro servindo-o.
- Tomara que este tenha apenas água, não quero com massa.
Depois de servido, desceu a Deodoro rumo a praça Gonçalves
Dias. Nesta ele subiu em cima de um banco, soltou o côco que trazia consigo e, bradou para que todos ouvisse:
" Terra de Gonçalves Dias, poeta que mexe com o meu coração e minha alma.
Acalenta o sentimento de amor, que brota dentro de mim.
Envolva-me nesse mar azul e, que eu possa tirar dele, toda a inspiração, dessa coisa viva e lúdica, que todos nós aprendemos a chamar de paixão."
Ele abriu os braços em forma de cruz e fez um giro de 360 graus,cruzou as mãos sobre o peito e degustou toda a água do côco.
É tardezinha em São Luis, o sol quer esconder-se por tras da ponte que liga a ilha ao bairro do São Francisco.
Um ocaso lindo, romântico que mexe com os sentimentos e a alma das pessoas.
Do outro lado Edinho já aparentava cansaço, mas demonstrava muita fibra, parece querer conhecer tudo de uma só vez.tudo ali é novidade,aquele alvoroço,aquele corre-corre, essa coisa danada de se vê as coisas, faz qualquer adolescente deslumbrar-se facilmente.
Ele está ansioso, um sentimento normal para quem chega a capital pela primeira vez.
Durante o trajeto da viagem, ele fez muitas amizades e por isso estava sempre em qualquer uma das tribos e, por isso dizia sempre aos companheiros;
- Não vou mais demorar muito tempo em Arari, vou convidar ele para agente mudar para cá, todo mundo da família, certamente será a melhor coisa que faremos.
- Já não gosta mais da sua cidade, rapaz?
- Gostar, eu gosto, mas agente tem que procurar uma cidade mais desenvolvida, onde o progresso chega mais rápido. lá em Arari é bom, tem: festa da melancia, festa de Bom Jesus, festa da pororoca, mas e daí, e o amanhã, como é que fica ?
- Talvez, você tenha razão; respondeu o amigo.
- É o meu modo de pensar, não quero com isso dizer que esteja certo ou errado, mas que irei azucrinar a cabeça do velho , isso vou.
- E se ele não quiser ?
- Se ele não quiser eu venho morar sozinho, afinal a vida me espera para lutar.
- Você é louco Edinho.
- Não sou louco não apenas destemido, sou de Arari, lugar de macho, de pessoas famosas, escritores famosos, cantores famosos e, não podei jamais me curvar ao descaso, entendeu ?
Edinho e o amigo conversavam como se já  conhecessem a muito tempo, enquanto a moça do mega fone, continuava desesperada, tentando reunir a garotada. Flavinho entendeu que era hora de descansar e deixou a praça Gonçalves Dias, rumo a hospedaria de Teodora Barata. A moça do mega-fone, depois de muita luta e insistência, conseguiu reunir os estudantes em volta do ônibus e, foram para a pousada que estava reservada para o pernoite, ali mesmo na região central em um daqueles casarões no Reviver. A noite, lá pelas vinte horas, todos os garotos estão perfilados, irão sair com a diretora para um sarau, onde ouvirão músicas regionais, canto populares e recital de poesias. É uma excursão de cunho extremamente cultural. O sarau está programada para a concha acústica na Praça Gonçalves Dias, nenhum daqueles estudantes  havia participado de um sarau ou coisa parecida, até por que o lado cultural da cidade de Arari, quando reúne-se é para enaltecer a pororoca no rio Mearim, as serestas e outras coisas menos importante.
Naquela noite a garotada se divertiu.Tudo em abundância,todos reunidos diante de muito peixe frito, sucos naturais de cupuaçu, bacuri, carambola, manga e as vezes se embriagam com o cheiro do "derressó".Degustam e beliscam quase tudo ao mesmo tempo, do arroz doce com canela,a canjica de milho verde feito na panela de barro. Mas não é mais noite de São João, apenas um sarau literário, onde se apresentará, uma camada do que há de bom, no mundo da literatura maranhense. - Quero ver e curtir tudo, brada Edinho empolgado. Quase que de repente, sobe ao palco uma jovem artista negra, representante legal da Mãe África e, traz na cabeça uma touca da cor da pele e, ao invadir o palco da concha, ergue-se como se fosse um cisne negro, querendo alçar vôo e, brada forte: "Você que está aí, sentado olhando o tempo passar, levanta-se dê mais passos a frente e entenda, que no mundo as coisas precisa mudar e, breve. Você que pensa que sabe tudo e, sabota a tua coragem e rapina o direito do teu irmão, seja breve, senão você também não serve. Você que é bonito,belo pensa que tudo faz e tudo pode, cuidado, você pode ser belo, mas a tua alma pode ser suja. Você que só pensa em você mesma,tire a bunda da calçada, varre a rua e não jogue o lixo debaixo do tapete da tua consciência, seja você mesmo seja breve, senão você também não serve. Você que vive a enganar a si e aos outros, que dá ouvido a tudo e a todos, que enxerga aos outros e endeusa a si, acorda enquanto há tempo, senão a tua alma chora, o teu rosto implora e o teu coração ninguém consola. Acorda! bradou a negra e fez-se um silêncio total e ela continuou: Acorda que o tempo passa e os dias correm e, quando você quiser despertar, pode não ser breve e, você nem serve.A tua carne estará podre, a tua língua estará dura e, os teus pés nem  sequer te arrastarão a sepultura."A artista caiu dura ao palco. Aplausos, muitos aplausos, assovios,gritos, uma exaltação total. Uns gritavam bravos, outros vivas e, tantos outros queria, por que queria invadir o camarim. Edinho virou para o amigo que estava ao seu lado e disse:-- Nunca tinha visto nada igual.-  É bonito mesmo companheiro, respondeu o amigo.Edinho ficou de pé.
- Bonito é uma expressão muito pequena para agente classificar esta apresentação. Essa mulher tem que ir declamar poesias na minha cidade, eu mesmo armo um palco bem alto na praça Samea Costa, só para delirar com seus poemas modernissímos que mexe com a alma do caboclo e, ferve o sangue daquele que tem sentimentos.
Aquela moça, é uma artista popular na ilha e, raramente perde um sarau poético e, estava ali para homenagear os meninos estudantil da cidade de Arari.
Fez uma apresentação irrepreensível.
Foi aplaudida de pé, como espera sempre todo artista, por que o aplauso é o reconhecimento mais que perfeito de um trabalho exercido com galhardia.
Depois dela, houve mais apresentações, mas aquela marcou a alma de Edinho. Uma coisa garbosa, engalanada, de muito charme e luxo.
As festinhas se multiplicaram, o forrozinho para os meninas apertarem os quadris das meninas e suarem um pouco, e como não poderia deixar de faltar ali, a bo9a batida de "reggae", o que faz a cidade ser conhecida como a Jamaica brasileira.
Tudo é uma só diversão.
Depois de tudo isso, de muita dança,a moça do mega-fone,não teve trabalho para reunir os estudantes e, voltar para a pousada e dormir, por que a maioria além de aparentar cansaço, queria mesmo era uma boa rede.
No dia seguinte...
O ônibus parte cedo  da praça Deodoro com os estudantes rumo a praia do Olho d'água, esta situa-se um pouco distante do centro de São Luis.
Esta praia se caracteriza por uma enorme quantidades de botecos à sua orla, onde degusta-se muitos petiscos e, em quase todos os botecos há ligada uma radiola, onde o que predomina é o ritmo do "regaee".
Flávinho também saiu de casa muito cedo e foi à praia do Olho d'água e, escolheu um local estratégico para ficar.
Usava um óculos escuro, estava de sunga preta, e em mãos apenas o celular e o bronzeador. Sem que demorasse muito tempo, ele avistou lá na ladeira o ônibus estacionar e os garotos em uma alegria infinda descer numa correria desenfreada rumo ao mar.
A moça que carregava o mega-fone, aquela altura, fez um esforço incomensurável para controlá-los.
Uns lambuzavam-se na areia, outros plantavam bananeiras, alguns imitavam a pegada do jacaré, enfim, tudo era diversão entre eles e, muitos faziam cooper, correndo de uma ponta a outra da praia.
Apenas Edinho não fazia parte dessa confusão desenfreada. Obediente aos chamado da moça do mega-fone, ele não esquecia os conselhos do velho Torres, que dissera para não se aproximar do mar que ele era traiçoeiro.
Ele comentava com os companheiros:
- Amiguinhos, água não tem galhos, o mar é traiçoeiro, foi a maior coisa que o meu pai falou para mim, antes de sair de casa.
O garoto estava desconfiado e quando  aventurava entrar no mar, fazia apenas com água até os joelhos e, evitava o quebrar das ondas por menor que fosse.
De repente o motorista do ônibus veio até a moça do mega-fone, coxichou alguma coisa que ninguém entendeu, voltou, entrou no veículo, pôs o motor para funcionar e sumiu rua acima sem que os estudantes, entendesse alguma coisa. Depois que o ônibus sumiu, os meninos ficaram sem referência e, todos foram se aproximando um do outro e, formaram aquele bolo humano, cada um olhando para cara um do outro sem entender nada.
- Tia, levaram o ônibus ? indagava as meninas em uma só voz.
A moça acalmou o pessoal
- O carro foi apenas fazer uma revisão para não quebrar no caminho, quando agente partir.
Como o grupo era misto, sempre que precisava formava-se duas alas, as meninas de um lado e os meninos de outro. Jamais a diretora deixava eles se envolverem.
Alguns sentia saudades de casa, outros não estavam nem aí.
O tempo foi passando,alguns sentia sede, outros fome e, aos poucos, alguns vão procurando os botecos para gastarem as suas economias.
De um desses locais, Flávinho capta todos os gestos de Edinho e, prepara-se tal qual um predador, que espera pela presa.
Quase todas as pessoas foram lanchar: uns pediam peixe frito,outros ensopados, outros caranguejos, siris, enfim eles deslumbravam-se com os mais diversos frutos do mar.
Agora é meio dia...
O sol escaldante, o mar azul como a natureza é desenhada em livros de geografia. Edinho faz o caminho contrário de todos os seus colegas e, escolhe um bar lotado para ficar. Ele está em trajes de banho e expõe a sua sensualidade.
Vai aproximando-se do quiosque, entra e fica estático ouvindo a música que toca, parece analgenizado com o ambiente .No palco ele ver uma garota que canta e rebola exaustivamente em um libido fora do comum.
Ele permanece de pé com a mão ao queixo admirando tudo. O mar, a música, a mulher que canta,quando repentinamente sente uma mão afaga-lhe o  ombro.
Ele assusta-se e, vira repentinamente balbuciando em um misto de espanto e admiração:
- Flávinho!?
- Sim, sou eu mesmo.
- Que fazes aqui ?
- Estou aqui, apenas para lhe encontrar.
- Eu...eu...? gaguejou Edinho.
Não revoltou-se como outrora,  estava mais calmo, estava exposto, desprotegido.
- Assustou-se com a minha presença ? quis saber Flávinho.
Edinho ficou estático por um longo tempo olhando para ele, não era um olhar de alegria, nem de ódio, mas pásmico,surpreso, assustado como quem procura por alguma coisa no ar.
- Estou assustado cara,estou boquiaberto.
- Te acalma, venho em missão de paz,  estou aqui por que sou seu amigo.
- Eu sei.....atalhou Edinho.
- O que queres comer ?
- Eu não quero nada não, estou aqui apenas para ouvir a música e curtir a "mina".
- Já alimentou-se rapaz ?
- Não.
- Então, como é que não vai querer, certamente estará com fome e, com vergonha de falar.
- É...é...,respondeu Edinho.
- Posso pedir algo para nós dois ? indagou Flávinho.
Edinho olhou para ele com a desconfiança de quem poderia dizer alguma coisa, queria responder como faria se estivesse em Arari, mas a memória não deixou e, os nervos parece que travaram, a impressão que passa, é que o garoto agora, está hipnotizado.
- Eu não estou com fome, sinto apenas sede, já tomei bastante água, mas parece que a minha garganta está o tempo toda seca. eu nem entrei no mar, disse Edinho.
Flávinho fez sinal a garçonete que ao aproximar-se  ele pediu:
- Traga-me um suco de água com bacuri e, um outro de caju e, coloque dois pingos daquela boa da terra no suco de bacuri.
Edinho parecia embriagado com a ventania e a brisa que vem do mar. Flávinho arrastou-o, para uma mesa que fica ao fundo do quiosque, um local totalmente escondido da visão dos amigos de excursão.
ficou com ele frente a frente, como nunca o fizera na vida.
Olhou para ele e disse:
- Você é bonito heim, rapaz?
- Pare com isso, respondeu Edinho desconfiado.
- Quando é que você vai voltar ?
- Nem sei, mas certamente de amanhã não passará.
- Estás gostando daqui ?
- Tô.
- Onde é melhor, aqui ou lá ?
- Arari é melhor do que tudo que existe, mas aqui é mais progressista.
- Tinha vindo antes ?
- Não.
A garçonete serviu os dois sucos, Flávinho trocou o que estava misturado e, ficou observando o garoto beber um gole
- De que é este suco, de gosto diferente? quis saber.
- Água com bacuri, respondeu Flávinho.
- Parece ter um gosto estranho.
- Imaginação sua, é que aqueles feito em Arari, tem uma consistência maior, respondeu Flávinho.
- Então este é fraquinho.
- A mistura deixa ele mais leve.
- Que mistura eles colocam ? quis saber.
- Advinha, você é inteligente.
- Não sei, disse Edinho.
- De que é feito o teu suco?
- Água com Bacuri.
Flávinho conversava, gesticulava,mostrava as coisas ao garoto.
Edinho o indaga:
- Posso te fazer uma pergunta ?
- Sim.
- È verdade que você passou em um concurso, para um emprego federal ?
- Sim.
Edinho sorriu disfarçadamente e deu mais um gole no suco.
- Quem falou isso a você ?
- Toda a Arari comenta, eu não acreditava.
- Verdade..., repetiu Flávinho.
Edinho ficou de pé como quem espreguiça-se e, Flávinho pode admirar aquela beleza juvenil, era o homem de 16 anos que ele tanto cobiçava.
Estava ali diante de si, somente de sunga, na orla da praia, sentado ao seu lado, tão manso quanto um cordeiro que caminha no matadouro, rumo ao sacrifício.
- Imaginei que fosse muito difícil encontrar com você, disse Flávinho.
Edinho sentou-se, colocou a mão na cabeça de Flávinho, olhou nos olhos dele e disse:
- O que você, colocou no suco ?
- Por que, a pergunta ?
- Cara, estou tonto, não faça isso comigo. Eu nunca bebi nada. Você está querendo se aproveitar de mim.
Flávinho ficou estático e viu no rosto do garoto escorrer uma lágrima.

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