terça-feira, 2 de novembro de 2010

SÉTIMO CAPITULO DO ROMANCE - água com bacuri -



SÉTIMO CAPITULO

ÁGUA COM BACURI

 

Edinho chorou e, debruçou-se à mesa.

- Eu não coloquei nada na bebida, você viu que a própria garçonete serviu o suco, disse Flávinho.

- Então esta estragado cara, a minha cabeça está rodando.

- Acalme-se que passa logo, pode ser pelo fato de estas com fome e ter colocado algo no estômago, acaba mexendo com a pressão arterial.

Flávinho é uma pessoa artilosa, lépida e, começa a estudar uma forma de manipular o garoto.

- Estou calmo, apenas meio tonto, tenho certeza que esse suco estava contaminado.

- A garçonete não ia manipular nada, qual o interesse dela em fazer isso Edinho ?

- O seu estava bom, por acaso sentiste alguma coisa ? Será que somente o meu estava estragado ? Estou achando isso muito estranho e, agora me vem uma vontade de vomitar.

Flávinho levantou-se e, bateu levemente as costas do garoto que disse:

- Eu já não quero amizade com você, não tenho o por que de fazer amizade com você e, quando acontece da gente se encontrar e conversar de homem pra homem, acontece uma coisa dessa.

- Mas eu não tenho culpa, querido.

- Não sei, agora vá sentar aonde você estava.

Ele sentou, cara a cara com o moleque e disse:

- Quero apenas pedir desculpas a você, mas saiba que eu não tenho nada a ver com a sua tontura, não manipulei nada, jamais faria isso, eu não tenho motivos para agir assim, sou uma pessoa leal...quero apenas lhe conquistar e nunca te espantar.

Edinho ouviu tudo em silêncio, ergueu a cabeça, estava com os olhos vermelhos, irritados. Espichou o corpo, bocejou, elevou as mãos sobre a mesa,olhou firmemente dentro dos olhos de Flávinho e, comentou:

- Você ligou em minha casa sem que eu autorizasse, pegou o número do meu telefone, que eu não sei de que forma, parou-me no Centro Cultural e, falou-me um montão de coisas, hoje esta aqui diante de mim, com uma vontade louca de devorar-me, então aproveite e, diga com todas as letras, o que queres de mim ....agora ?

Flávinho tremeu diante do garoto.

Não esperava que Edinho o encostasse na parede naquele momento.

- Não vai responder nada ? tornou ele.

Flávinho ficou mudo demoradamente, correu o olhar nervoso pelo horizonte em direção a praia e deixou perdê-lo afora.

- Eu tenho algo muito forte a te revelar e, talvez assim você entenda a minha peregrinação.

- Diga logo o que queres, que eu prometo lhe dará uma resposta, disse Edinho.

Flávinho colocou as mãos no rosto e pensou...pensou.

- Crie coragem homem, eu já estou  ficando melhor da tontura, confesso que independente do que acontecer, guardarei segredo. prometo a você, que se for muito grave, começa e termina aqui nesta mesa, disse Edinho.

Flávinho sorriu disfarçadamente, estava encabulado, envergonhado, foi pego de surpresa pelo garoto.

Passou as mãos pelo rosto, estalou dedos contra dedos, cossou a cabeça demonstrando enorme inquietude.
- Posso falar Edinho ? perguntou meigamente.
- Não só pode como deve, estou aqui todo ansioso para te ouvir e, muito mais que ouvir, te respeitar.
- Quero te revelar algo muito sério.
Edinho chamou a garçonete e pediu:
- Quero um  "refrir'"bem geladinho, ainda pouco você serviu-me um suco e ele estava com um gosto meio que estranho e, mais quero que abra a bebida aqui na minha frente, disse sério, batendo firmemente com as pontas do dedo na mesa.
A garçonete o serviu.
- Vai querer ? falou oferecendo o refrigerante a Flávinho.
- Não vou querer, pode fazer pode proveito, mas também pode deixar que eu pagarei.
- De maneira nenhuma; disse recusando a  oferta.
- Faço questão.
Edinho indagou baixinho:
- E aí, vai contar o segredo ?
- Vou.
- Então conte logo e, não me enrole.
- Cara preste atenção no que eu lhe contarei, é uma coisa grave, meio grave, mas independente de qualquer coisa que possa acontecer, ou da sua reação, gostaria muito que agente continuasse a respeitar-se.
- Isso é salutar meu caro, jamais deixarei de lhe respeitar.
Enquanto Edinho bebia um gole do refrigerante ele disse meigamente:
- Meu amiguinho......
- Fala que eu te ouço.
- Eu sou homossexual e, sou eternamente apaixonado por você.
Edinho parou, engoliu o seco e ficou demoradamente com o olhar fixo no mar
Respirou fundo, a praia estava quase que deserta, mas falou baixinho indagando.
- O que é isso, cara ?
Flávinho abaixou novamente a cabeça e as lágrimas começaram a correr
pelas lentes do óculos.
- Por que choras ? Não chore não.
- Estou me expondo tristemente e, não sei qual será a sua reação daqui
para frente, respondeu Flávinho.
Edinho respondeu:
- Independente do que você for, te respeitarei sempre, jamais serei eu que te descriminarei. O que me contou, morre aqui nesta mesa de bar.
- Não tenho culpa de ser assim. Talvez eu seja doente, na verdade, eu queria era uma mulher para eu namorar, transar,mas felizmente ou infelizmente ....eu sou assim.
Edinho tentou consolar.
- Não fique assim, seja você mesmo, seja o que queres ser. Esqueça terceiro e deguste a sua vida, eu particularmente não tenho nada contra ou a favor, o que tenho é a minha namorada e te confesso que sou apaixonado por ela. Isto te garanto e jamais abrirei mão disso.
Irei lutar contra tudo e contra todos por ela, e você faça o mesmo pelos seus objetivos, eu sou bem moço, você sabe, mas creio que o importante é o ser humano ser feliz, independente da maneira que ele entenda que possa ser feliz.
Flávinho deu um sorriso meio que amarelo e desconfiado, mas Edinho
tornou a dizer:
- E a sua mãe, o que acha disso ?
- Ela não sabe.
- E o seu pai?
- Também não sabe.
- Na sua família quem sabe ?
- Creio que ninguém.
- E quando descobrirem ?
- Eu acho que não vão descobrir.
- Cuidado, um dia as pessoas acabam descobrindo. Você precisa preparar-se para esse dia e, para a reação das pessoas, principalmente do seu pai e da sua mãe.
- Deve ser cruel, o velho vai querer cortar o meu pescoço, vai me colocar no olho da rua e nunca mais vai olhar na minha cara.
- Não pense assim, encare as coisas de frente.
- Estou com vergonha de  você, estou meio.................
- Bobagem sua, sabes bem que não somos amigos, as nossas famílias nem se falam, enfim, somos inimigos comuns, mas te respeito, você é bem mais velho que eu, é mais vivido, então, bola pra frente e vida que segue.
- E os teus amigos Edinho ?
- Veja, se depender de mim, não tem por que comentar, não costumo expor a minha vida particular e creio que não se deva fazer isso com as particularidades das pessoas, cada um é cada um.
- Eu sei...eu sei, era essa a resposta que eu poderia esperar de pessoas como você, não me causa surpresa.
- E lá em Arari ?
- Vai ser normal.
- Normal ?
- Sim te cumprimentarei normal, é natural que lá eu vou ficar com a minha namorada, o que é natural.
Flávinho olhou no rosto dele e disse.
- Eu quero a sua amizade.
Edinho levantou-se e respondeu:
- Eu sou a sua amizade.
Os olhos deles encheram-se de lágrimas, emocionaram-se, abraçaram-se, fazia-se o pacto da paz.
Flávinho foi direto:
- O que eu faço para te esquecer ?
Depois do abraço Edinho sentou e, respondeu:
- Como me esquecer ? Cerca-me a vida inteira, no dia em que consegue ficar cara a cara, fala em me esquecer, você é louco, disse sorrindo.
Flávinho sorriu também timidamente.
- Não foi bem isso que eu quis dizer.
- Então traduza, por que eu não entendir nada de nada.
- Eu sou apaixonado por você e sinto coisas que mexe comigo quando te vejo. Sinto um calor que queima a minha alma,só em pensar em teu nome.
Sempre mexeste comigo, preciso curar esse sentimento louco, esta ansiêdade que me tortura tanto.
- Não sei como poderei lhe ajudar, disse Edinho desconcentrado.
- Se quiseres, tudo pode, respondeu Flávinho.
Edinho parou para observar o amigo e, viu um homem com traços feminino, nariz delgado,cabelos presos, pernas roliças que parecia aquelas das revistas, que folheava no banheiro, não tinha pêlo no
corpo, estava depilado.
- Esse anel, deve ser carissímo heim ? indagou Edinho.
- Mais ou menos, você gostou ?
- Gostei e, acho bonito.
- Obrigado.
- É de ouro ?
- Sim, ouro branco e, te confesso que é mais caro do que o ouro amarelo.
- No meu dedo, ele deve ficar lindo.
- Um dia você vai ter o seu e, com certeza, será mais belo do que este, aí as suas mãos certamente ficarão mais lindas.
- Você nunca namorou ?
- Claro que sim.
- Estou perguntando namorar mulher ?
- Eu já lhe falei qual é a minha opção sexual e, que gosto de você.
- Mas por que eu cara, tem tantos meninos em Arari, logo eu ?
- Você se difere dos outros. Quem lhe conhece tem a nídida impressão que você é um gazeteiro, bagunceiro, mas no fundo, no fundo, você é uma pessoa séria, correta, tem suas responsabilidades, me alegou que guarda segredos, não tem a boca mole,então todas essas qualidades suas, fez com que lhe observasse atentamente e, querer ficar com você.
- Comigo? disse Edinho espantado.
- Sim, estou falando de você e, não do urso. Demorei um longo tempo para perceber que a pessoa que mora em frente a minha casa, é um homem de verdade e sedutor.
- Homem eu sou mesmo, disso podes ter certeza.
- Disso eu sei, senão não estaria aqui com  você.
- Você já tansou com alguém em Arari . Mas me fale a verdade.
- Não. Nunca transei.
- Se estivesse transado também não iria me dizer, não é ?
- Isso é verade Edinho, até por que se eu tivesse ido para cama com outro menino, também não iria te contar
- Então posso deduzir que você transou com outros garotos ?
- Deduzir é um direito seu, agora se ela é verdadeira ou falsa essa
dedução, somente o tempo dirá.
- Você esta feliz aqui ao meu lado, Flávinho ?
- Agora te confesso que estou. Estou sentado em um bar, na orla da praia, ao lado do homem que eu sempre quis conquistar, imagino até que não poderia existir um local melhor, para este encontro que não fosse esta aprazível São Luis.
Neste momento o celular de Flávinho tocou.
Ele ficou olhando para o aparelho, procurando indentificar a chamada  pela bina.

- Alô ?

- Senhor Flávio Mendes, por favor ?

- Sou eu.

- Para o senhor comparecer amanhã em uma das nossas agências.

- Com quem estou falando ? quis saber ele.

- Sou Cíntia, a telefonista da empresa.

- Sim...sim..

- Posso terminar o recado ?

- Sim...sim...

- O senhor foi sorteado no consórcio e pode comparecer aqui, para escolher qual automóvel, irá requerer. O senhor tem um prazo de 72 horas, para fazer isto.

Flávinho respirou fundo.

Edinho ouviu a conversa, pois o  aparelho estava em "viva-voz" e, ficou alegre.

Até este momento o clima entre ambos era saudável e de respeito, um revelando o seu amor, o seu sentimento e, o outro apenas ouvindo e respeitando, sem jamais demonstrar preconceito, mas firme e fazendo um esforço para manter apenas a tão sonhada amizade.

Para o próprio Flávinho o comportamento do garoto lhe surpreenderia, por em Arari, todas as vezes em que tentou aproximação, o clima fora de hostilidade.

Não sabe-se, devido a cidade, se o fato do show que assistiu o deixou comovido e fez meditar, mas de uma coisa era certo, o comportamento do garoto mudou.

Ele virou para Flávinho e perguntou :

- Vai comprar um carro ?

- Como sabes ?

- Eu ouvir a sua conversa pelo celular.

- Não se pode ficar ouvindo conversa dos outros.

- Então por que  você deixou o sinal de "viva voz" plugado ?

- Brinquei com você.

- Também se pudesse compraria era uma moto..

- Moto, é muito perigoso.

- Caraca ! Você, vai chegar de carro em Arari, será o maior "boom" a noite pela avenida. As "minas" ficarão toas de olho em você.

- Eu não vou encher o meu carro de "mina" Edinho. Eu não gosto de mulher.

- Desculpe cara, eu pensei que gostasse.

- Eu gosto; da minha mãe, minha irmã e, gosto de mim, afinal eu sou uma mulher.

Edinho riu e devolveu:

- Não apela.

Flávinho olhou demoradamente para ele e sorriu delicamente.
- Quem deu o numero do meu telefone para você ?
Flávinho pensou....pensou e respondeu:
- Não te falarei, descobrir por acaso e, mesmo assim, isso é um segredo que eu guardo a sete chaves..
- Você é cruel.
- Cruel é a tua alma, que sempre soube que  eu te amo e jamais fez algo para aliviar a minha dor. Cruel, são as pessoas que fazem as outras pessoas sofrerem, às vezes elas tem a chave da solução para tais pessoas mas não destrava essa coisa chamada compartilhamento. Existem pessoas que o maior prazer delas é matar as outras lentamente, como se fosse um antídio letal, isso é mais que crueldade, é uma verdadeira tortura de alma e coração. Eu
não quero que isso aconteça mais comigo, quero ter uma liberdade para amar livremente, a pessoa que eu desejar amar, sem que a mim pese a opinião de uma outras tantas pessoas.
- De quem é essa pessoa, que está falando ? interrompeu Edinho.
- Falo de um monte de gente.
Edinho sorriu.
O tempo parece passar muito rapidamente.
Agora já é tardezinha, o mar continua lindo e a praia deslumbrando, aqueles que ali encontra-se pela primeira vez.
Flávinho virando-se para ele diz:
- Por que você não deixa para voltar no final de semana ?
- Não posso fazer isso cara, tenho que voltar junto com o pessoal da excursão.
- Fique comigo que lhe levarei em um monte de lugar bonito para você conhecer.
- Não posso, eu disse ao meu pai que eu voltava junto com os meus amigos, depois podem ficar preocupados, além de que eles não sabem da nossa amizade e, eu não posso nem sonhar em dizer que estou com você.
- Isso é verdade.
-  Falando nisso, aonde é que você mora aqui em São Luis ?
- Em um bairro chamado Monte  Castelo.
- É longe daqui ?
- Daqui de onde estamos é distante, mas lá da praça Deodoro é bem mais perto e dá de irmos a pé.
- É sua a moradia ?
- Não. Não é, mas fico sozinho em um apartamento....
- Apartamento ?....repetiu Edinho admirado.
- Moro sozinho, tem cama de casal, banheiro, geladeira, tudo individual, tem até um fogâozinho para agente esquentar qualquer coisa que desejar, tipo chá ou chocolate.
- Só bebida fina, coisa de bacana....heim ?
- Não é bem assim, qualquer pessoa pode tomar, é só comprar.
- E pra comprar? indagou Edinho soltando uma gargalhada.
Flávinho respondeu:
- É só ter dinheiro.
O clima estava bom entre ambos, já haviam quebrado o gelo, aos poucos Edinho ia ficando mais solto e, assim já arriscava até algumas piadas.
- Quando vai me visitar, lá no meu apartamento ? quis saber Flávinho.
- Não sei, parece-me difícil.
- Por que é difícil ?
- Devido a excursão.
- Você pode pedir a diretora um desligamento, dizer que vai fazer qualquer coisa... que tem parente aqui e vai visitar...que vai passar o dia na casa dele...ou a noite...e, que depois ele te leva para o Reviver de volta. Tô dando apenas um exemplo.
- É para passar o dia ou a noite, porra ?
- Você é que escolhe cara,eu entendo que agente precisa fortalecer esse nosso laço de amizade, ate por que em um dia qualquer, você precisa vim para São Luis e, se de repente não tiver aonde ficar, a minha casa pode muito bem lhe servir de abrigo.
- Isso é verdadeiro.
- Então ? insistiu Flávinho.
Edinho calou-se, ficou pensativo e depois de alguns minutos disse:
- Quero um suco de bacuri.
- Ah..chame a garçonete.
Chamou e ela de imediato atendeu.
Ele pediu:
- Quero suco de bacuri puro, Veja se não coloque nada dentro, para que eu não fique tonto.
A moça deu um leve sorriso com o canto da boca, ela sabia que foi o Flávinho que havia pedido para que ela manipulasse o suco que fora servido antes, como gerente do quiosque, ela o conhecia por que Flávinho frequenta constantemente a praia do Olho d'água e adora esta ali naquele local. Tomando o suco, ele ofereceu ao amigo:
- Quer um pouco ?
- Sim,
Ele entregou a taça com o suco.
- Posso chupar do lado do canudo que você colocou a boca ?
Edinho sorriu e respondeu :
- Pode, se você assim, sentir-se feliz pode.
- Faz de conta que estamos colados, boca a boca.
- Páre com isso, repreendeu Edinho.
- Não gostou da brincadeira, não é ?
- Bobagem sua, cara.
Tomou o copo de volta e começou a degustar lentamente, olhando as ondas que quebra-se praia a fora, deixando perder na visão, todo o horizonte de uma beleza natural, escancarada para que todos saboreiem, as belezas naturais de uma cidade chamada São Luis, de um povo
irmanado na acolhida como é o povo do Estado do Maranhão.

- Vou chegar em Arari barrigudo, de tanto tomar suco de bacuri, disse Edinho.
- Jamais ficará barrigudo, você é lindo, disse Flávinho.
- Achas isso mesmo, cara ?
- Evidentemente que sim, senão não teria motivo para ficar aqui perdendo o meu tempo, namorando você, com o meu coração corroendo de emoções.
- O que é isso ? Páre com isso.
- Já fui claro com você.
Edinho olhou para o celular para conferir a hora e, disse:
- Puxa, já é tarde e, esse ônibus não aparece.
- É, mas se depender daquele carro velho, você vai chegar em Arari no mês que vem.
- Isso é verdade, aquele carro é muito ruim.
- Espere para ir no meu, disse Flávinho piscando para  o garoto.
- Páre de piscar para mim, repreendeu Edinho.
- Você não gostou da minha piscadela ?
- Eu não gosto não cara, eu ficava uma fera, quando você ficava na janela daquele sobrado, olhando para a minha casa  piscando e jogando beijinhos, um dia a minha mãe viu e, perguntou o que era aquilo.
Flávinho levou a mão à boca dizendo:
- E o que ela disse ?
- Ela falou um montão, mas na verdade ela pensava que você estava mexendo com a Ana Luiza, mas somente agora sei, que nada tinha a ver com a minha irmã.
- De lá mesmo somente você me serve.
- Claro, só tem eu, o seu Torres te corta no meio com o facão.
- Ele é muito bravo.
- Não é bem assim com ele, agente fala o que quer e, ele entende.
Agente pede as coisas e, ele dá. Mas tem coisas que é irresistível.
Flávinho tornou:
- Pra onde você vai hoje a noite ?
- Dormir.
- Você não bebe nada ?
- Nunca bebi.
- Tem vontade ?
- Eu não.
- Nem cerveja, nunca bebeu ? insistiu Flávinho.
- Jamais, quando agente vai a festa eu só tomo suco de bacuri, guaraná em pó, mas nada de bebida alcoólica, eu tenho medo de embriagar-me.
- Mas quem disse que cerveja embriaga ? indagou Flávinho.
- Claro que a pessoa fica bêbada.
- Só se beber em grande quantidade.
Edinho levantou-se, espreguiçou-se e disse:
- Vou ao banheiro.
- É ali, disse Flávinho mostrando a direção do mesmo.
Flávinho ficou sozinho, não deixando o garoto  perder-se da sua visão.
Enquanto o garoto estava no banheiro ele pensava.
" Eu tenho que arrumar um jeito de arrastar esse moleque lá para o meu apartamento e, de preferência a noite, já sei que ele não é tão durão como eu imaginei, até agora não tem demonstrado preconceito e, para saber a verdade baby, se não estivesse gostando da minha companhia já teria saído fora. Eu sempre desconfiei que os meninos de Arari são assim. Lá naquela cidade, eles são dificéis, quando estão em São Luis, virão cordeirinhos. Eu não posso perder esta oportunidade, a hora é agora, por que no momento em que ele chegar em Arari, certamente ele cairá nos braços daquela namoradinha dele, eu sei que é assim, sei que ela espera por ele, sei que ele é apaixonado por ela e, tem falado isso para mim, quase que constantemente".
Ao retornar Edinho encontrou o amigo pensativo e com o olhar distante, ficou em pé ao seu lado. Flávinho olhou demoradamente para a região pubiana do garoto e, viu a genitália dele inchada. Suspirou profundamente como quem expulsava alguma coisa da alma.
- Por que estás pensativo; perguntou Adinho.
- Estou apenas pensando em você.
Ele sorriu levemente.
Flávinho tornou:
- Vamos combinar para agente sair hoje a noite ?
- Depende.
- Depende, de que ?
- Precisaria combinar com o pessoal.
Flávinho tornou:
- Vocês vão ao sarau hoje ?
- Creio que sim.
- Em vez de ir ao sarau, você poderia ir lá em casa conhecer o pessoal, fazer amizade com eles, nunca agente sabe o dia de amanhã, de repente agente precise um dia dessas pessoas.
- Vamos ver.
- Como eu faço para saber, eu não quero dá viagem perdida ou ficar chupando o dedo no meio da rua.
- Não. Eu não vou dá furo com você.
- Então, como fazer ?

- Sabes, aonde serás o sarau ?

- Claro que sei.

Edinho sentou e corrigiu:

- Não é sarau, é show.

- Melhor ainda, respondeu Flávinho.

- Dá uma idéia.

Flávinho pensou:

- Tive uma idéia.

- Qual ?

- Nós vamos ao show, quando começar agente sai e, vai conhecer um pessoal e ai....agente volta e eles nem sentirão a nossa falta. Todo mundo faz isso...dá as suas espadinhas e, não vá ser agora que servirá de escândalos. Acredite no que digo.

- Está bem. Combinado, disse Edinho ingenuamente, sem perceber que poderia está caindo em uma armadilha.

Eles ainda conversavam quando o ônibus surge lentamente.

Toda a garotada correu na direção do veículo.

- Teu ônibus chegou.

- Estou percebendo.

- Vou ficar sozinho.

- E Deus, respondeu Edinho.

- E a saudade, completou Flávinho.

- Saudade nada, você não disse que agente vai se encontrar a noite ?

- Então está confirmado ?

- Ô Flávinho, eu só tenho uma palavra, se aparecer lá agente se encontra, conversa, bebe suco e depois agente se separa ou sei lá.

- Tudo bem, tudo bem.

Edinho levantou-se dando sinal que ia embora.

- Estou indo, não quero atrasar o pessoal do ônibus, depois chega em Arari e reclamam para o meu pai.

- Está bem.

Flávinho tocou novamente no ombro de Edinho e disse:

- Espero não ter ficado decepcionado comigo.

Edinho respondeu:

- Decepcionado não, um pouco surpreso, mas como disse-lhe antes cada um vive com melhor entende e mesmo assim é preciso que agente  aprenda a conviver com as minorias, ainda que agente não concorde, são as diferentes formas de vida que o ser humano escolhe. Nem eu e nem você somos donos da verdade, por isso, cada qual, com o seu cada qual. O que importa é ter uma convivência sadia.

- Está bem, afirmou Flávinho sacudindo a cabeça.

- A noite agente conversa melhor, mas valeu apena agente ter-se encontrado,conversado, trocado esse monte de idéias. Não abaixe a cabeça jamais e siga em frente, não se envergonhe da sua vida, uma pessoa agente não mede pela opção sexual, mas sim pelo caracter, pela sua conduta e a sua postura perante a sociedade. Isso é o que importa, o resto é lorota.Agora deixe ei ir; e foi saindo calmamente sem olhar para trás.

Flávinho arrumou-se na cadeira e ficou a observar o amigo ir distanciando até sumir.

Levantou-se, pagou a conta e, caminhou na direção do mar.

Andou mais um pouco e meditou:

" Às vezes a vida nos joga em cada enrascada, por que o destino fez que eu viesse logo atrás deste rapaz ? não sei dizer a mim mesmo, se isto é certo ou errado.

Tomara que eu não vá  machucar-me.

Recordo neste momento, as vezes em que o procurei e, fui recebido com grosserias.

Mas na vida tudo passa, parece que tudo passou.

Na verdade desta vez ele parou e conversou comigo

Será que eu estou bem".

Flávinho dera duas palmadinhas no próprio rosto, levantou-se e bateu a areia dos pés e, como se despedisse da praia, sorriu para o mar e, retirou-se rumo as pousada de Teodora Barata.

Flávinho quando vai à praia não entra no mar,ele teme que o sal marino lhe prejudique a pele e os cabelos.

Do outro lado, dentro do ônibus, Edinho sentou-se pensativo.

Lembrava de tudo e, a sua ficha ainda não havia caído sobre a conversa que tivera com o amigo. Para ele, aquilo seria simplesmente um pouco de uma parte das muitas conversas fiada que surge em mesa de bar. Pensou na mãe, na irmã, e sentiu saudades do velho Torres, sabia que naquele momento o mesmo sentimento o atormentava na cidade de Arari.

Um dos garoto perguntou a ele;

- Foi legal a praia para você ?

Ele respondeu:

- Foi sim, eu fiquei quase todo o tempo sentado em um bar, encontrei uma pessoa de Arari e, ficamos lá jogando conversa fora.

- Então foi dez ?

- Sim, quase estouro a barriga de tanto tomar suco de bacuri.

Ambos cairam na gargalhada.

De repente alguem berra ao mega-fone:

- Silêncio.

Hoje a noite vai haver um show no bairro da Madre Deus,todos vamos comparecer lá,iriamos para Arari hoje a noite,mas como apareceu um problema elétrico no ônibus, a nossa viagem foi transferida para amanhã de manhã.

- Oba, gritou a maioria e diziam :- então vai haver tempo de voltarmos a praia  agente vê as "minas" abertas na areia quente, como fossem ostras expostas em pratos quentes.

Todos riam e batiam nos nas poltronas.

 


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