terça-feira, 2 de novembro de 2010

ROMANCE - ÁGUA COM BACURI - primeiro Capitulo





ÁGUA COM BACURI

ROMANCE

SÃO PAULO, OUTUBRO DE  2005

AUTOR: José Maria Sousa Costa

 

 

PRIMEIRO CAPITULO


Era um casarão de três andares.
Na frente duas janelas em cada andar, menos no andar térreo que havia um portão enorme de ferro, onde funciona uma oficina para conserto de carros.
Ao lado direito do casarão para quem sobe a rua Balbino Azevedo Costa,localiza-se o salão de cabeleireiro de Joaninha Sabe Tudo, apelido que ganhou dos clientes, mas que até hoje é ignorado  por ninguém saber o motivo.
Do lado esquerdo, Lili boca mole que morou vinte e poucos anos na cidade do Rio de Janeiro e, que especializou-se em limpeza de pele,penteados ornamentais na cabeça de meninas e madamas e,coloridos florais em unhas de jovens e idosas, naquele local ela montara um salão de manicure e ao alto colocara uma placa em luz néon onde  lê-se:
' ENFEITE-SE COM A LILI E FIQUE BONITA'
  Lili, pintara as parede da sua propriedade na cor rosa pinck e Joaninha Sabe Tudo de verde limão néon e, ao meio dessa aquarela o casarão todo na cor lilás, exceto o andar térreo, onde o senhor Chico do carro pintara tudo de preto e ,ali estava a oficina.
  . Seu Chico que horror,tudo belo e colorido e, o senhor mete preto nas paredes, gritou Lili surpresa.
  - Isso é coisa de homem dona  Lili, respondeu ele sério.
Lili colocara o dedo polegar na boca e ficara pensando....pensando....pensando....
  -Seu Chico o senhor é ultrapassado, disse ela depois de um  longo tempo.
  - Não, eu não sou ultrapassado dona Lili,eu sou mesmo é mecânico de carro, respondeu ele olhando firmemente para ela.
Lili deu de ombros e saiu em disparada rua a cima.
Em frente ao casarão do lado ímpar esta a casa do seu Torres, um sobrado simples, pintado de azul céu,duas janelas na frente, uma porta, uma escada,a casa é de sobrado e sob este:galos, galinhas patos e tantos outros animais que descansam ali do sol do meio dia.
Seu Torres é um senhor de mais ou menos 50 anos de idade, estatura mediana, cabelos lisos claros, excerse a função de pintor na oficina do seu Chico do carro. Seu Torres é um homem sério, não gosta de futebol, na fala de religião, não gosta de bumba boi ,e odeia carnaval, por isso a Lili espalhara na região que todos o chamassem de catinga de bode, o que quando soubera, ameaçara um dia dá-lhe uma surra
- Eu odeio esse bode velho, dizia ela a qualquer pessoa que encontrava. Lili Boca Mole é jovem, tem 30 anos de idade,é manicure profissional, bela, fora
prostituída ainda muito bem garotinha pelo filho do Prefeito Municipal, mas quando o rapaz a quisera assumir, ela recusou-se e ele acabara descobrindo que além dele, mais seis amiguinhos haviam se divertido com ela. O rapaz a amava densamente, mas não a perdoou e abandonou-a. Por esses e tantos outros motivos quando ela completara  20 anos de idade, fugira para a cidade do Rio de Janeiro, onde morara ali por mais de  duas décadas.
Lili, não amava
ninguém o negocio dela era diversão e arte. Detestava conversa séria e adorava uma fofoca. Com seus trinta anos era cortejada sempre pelos coroas da cidade que prendia o ar dos velhinhos aposentados.
Torres é um senhor casado a mais de trinta anos com a dona Carmem, dessa união eles geraram dois filhos: Ana
Luiz a com 21 anos de idade, morena,solteira e cursa faculdade e Edson com seus 16 aninhos, que a todos carinhosamente atende pelo apelido de Edinho.Ele é moreninho,nariz afilado quase perfeito, mede ai por volta de 1.80m de altura,carrega consigo a meiguice de um olhar sedutor, é um garoto  meigo, carinhoso  e a sua fisionomia parece resplandecer como se fosse  de um semi-deus.
Edinho parece ter sido uma obra de arte esculpida a mão humana, com o seu corpo
atlético e a pele bronzeada, mais parece uma escultura viva.
Ele é uma pessoa pacífica,paquerada e procurada.
No último andar do sobrado, do lado esquerdo
mudou-se recentemente uma família de 05 pessoas. Sr Armando, o chefe do clã, dona Lúcia a sua esposa e os filhos: Isabel, Flávinho,Doda e Maria.
De cara ou logo de chegada a família do sobrado lilás ficaram todos de mal, com a família do senhor Torres.
Flávinho, o filho do seu Armando possui 19 anos de idade, moreno claro,tal qual Edinho é estudante,usa cabelos compridos, tem lábios finos e nariz afiladinho e que de tão delicados os vizinhos exageram em dizer que ele possui traços femininos.
O senhor Torres levanta a voz e ordena, severamente:

- Carmem, na hora do jantar, você reúna os seus filhos que eu quero conversar com eles.
- O que aconteceu velho ? perguntou ela carinhosamente.
- Deixe para mais tarde é somente um pedido.
- Pedido,....de quem ?
- Meu Carmem, meu.
Ela silenciou e ele saíra ligeiramente, atravessando a rua e entrando apressadamente na oficina.
Era uma manhã de sábado, a rua Balbino Azevedo Costa, amanhecera agitada, Joaninha Sabe Tudo, soltava altas gargalhadas pelo salão.
Flavinho carrega consigo o hobby de usar óculos esporte de aros azuis e atravessar de forma contraria  a bombeta na cabeça e, prendendo os cabelos entre a correia onde mesmo forma-se um rabo de cavalo, algumas pessoas dizem que fica bem e o deixa   lindo.
Edinho pratica futebol, enquanto Flavinho detesta.
São 9 horas.
Flavinho sentou-se em sua janela e na outra casa, Edinho atravessou a sala, os olhares se encontraram.
- Filé..........balbuciou baixinho.
O garoto o encarou espichando o braço e mostrando-lhe o dedo indicador.
Flávio apenas olhou desconfiado e expressou um leve riso  no canto da boca.
Joaninha Sabe Tudo, caminhava pela calçada do casarão, quando de repente:
- Seu Torres, o que é que há?
- Esta tudo bem dona Joana.......
- Como é que tem passado a dona Carmem.............?
- Bem, obrigada, respondeu ele.
- Ela nunca mais pareceu no salão.
- O que ela vai fazer em salão, senhora ?
- Lavar os cabelos,fazer limpeza na pele, arrumar as unhas.....
- Nada disso dona Joana, cabelo agente lava é na beira do lago com sabão de coco e coloca-se oléo de dendê.
- O que é isso seu Torres, os homens só falam isso com as mulheres de casa, as da rua eles acham cheirosas e perfumadas...
- Não é nada disso dona Joana.
- O senhor também pode vim cuidar da sua aparência ,o salão estar aberto para todos.
- O que? indagou ele arregalando os olhos alterado
- Seu Torres, o senhor não ver o filho do seu Armando, ele gasta mais com  aquele cabelo do que qualquer mulher nesta cidade.
- Não sei...não  quero saber
- Tá nervoso seu Torres? indagou ela meio que assustada.
- Não quero saber dessa gente
- Ele é esquisito esse menino, tornou ela, querendo puxar conversa.
- Dona Joana eu já lhe disse que eu não quero saber dessa gente.
- Desculpe seu Torres, não tive a intenção de irritar-lhe;disse ela retirando-se.
Nesse momento o carteiro parou em frente ao sobrado e gritou:
- Flavinho,um telegrama para você
- De quem ? indagou ele do interior da residência
- Não sei, respondeu o carteiro
Ele saiu da janela, desceu as escadaria tomando o telegrama em mãos e leu com os olhos.
"....eu quero ouvir a tua alma cantante, elegante e debochada.
quero sentir no silencio da madrugada a tua chama e, o sussurrar da tua ânsia louca por viver
eu quero costurar com a agulha do perdão todo o meu sentimento de carinho, de amizade, de aconchego, de entretenimento e, enlaçar com a linha da boa vontade toda a minha aura e, abraçar a minha sabedoria, para de mãos dadas se deitar, sorrir e se possível, dá um rolê com o seu encanto e todo o seu contentamento.
quero umedecer os meus lábios com os teus lábios........como faço ?
pt..........Silvana"
O rapaz parou, olhou firmemente para o texto.releu baixinho,e rasgando em vários pedaços a correspondencia, amassou os restos e atirou ao meio da rua.
Edinho desceu as escadaria da sua casa em alta correria. Estava vestido com uma bermuda branca, dessas muito usada por tenista, usava uma camiseta preta cavada, meia de cano curto e um tenis de uma marca famosa.
Saiu e, Flavinho ficara na porta observando-o, até sumir rua acima.
Era 10 horas da manhã, quando ele sentou-se na praça Samea Aparecida Costa, cruzou as pernas e ficou admirando a imagem de Nossa Senhora das Graças, que esta plantada  no centro da praça.
Derepente alguem se aproximou por tras e colocou as mãos sobre os seus olhos.
- Há que cheiro gostoso; disse Edinho.
- Advinha quem é ?
- Monica....Katia.....
- Seu safado....
- Ah, é voce? disse virando-se rapidamente.
- Quem são essas pessoas, quero saber, seu safado.
- Venha cá, aonde vás?
- Deve-me explicações.
- Calma Heloisa, calma......fique calminha.
- Estou indo para casa Edson, chega.
Edinho levantou-se rapidamente, tomou-lhe pelas mãos e disse:
- Eu sabia que era voce, eu queria apenas brincar, eu prometo nunca mais fazer esse tipo de brincadeiras com voce.
- Edinho, e o meu aniversario ? indagou ela, mais calma.
- Heloisa, voce é a minha primeira e unica namorada, jamais passou pela minha cabeça lhe trair, para mim não existe neste mundo, mulher mais bela e mais plural do que voce nesta nossa Artari, por isso e por tudo isso mais.....eu te amo.
- Diz isso por que esta na minha frente.
- Não é verdade, eu te amo perenemente.
Ela se aproximou mais e ,tocou-lhe os lábios com as pontas dos dedos.
- Esperava um beijo, disse ele.
Ela olhou firmemente para ele
- E o meu aniversario, cobrou ela novamente.
- Lhe darei um presente, rerspondeu ele.
- Meu presente que eu quero é ouvir uma declaração de amor sua.
Ele abraçou ela e disse:
Desde o dia em que lhe vi, sabia que poderia ser minha,por que até o clarao da lua perde para a sua lucidez e, o brilhar do sol não é mais aquecido do que o teu cheiro, por que apenas o doce da sua alma é sedutor, por tudo isso ainda lembro do primeiro beijo que me deste.
Eu te amo Heloisa.
- Fiquei feliz  agora querido, respondeu ela.
- Eu também estou feliz por esta com voce.
- Jamais irei que trair
- Será ? indagou ela desconfiada
- Não existe musa mais bela e mais poetica do que voce nesta nossa doce Arari.
Do outro lado da  praça,alguem gritou:
- Helô...quero falar com voce.
- Olá Maria, como esta ? indagou ela a distancia
- O trabalho escolar...Helô
Maria se aproximou
- Seu vizinho, disse Helo
- Eu sei, respondeu ele secamente
- Estudamos na mesma classe, disse Heloisa, olhando para  Edinho.
Ele ficou parado e calado, apenas observando as duas garotas.
- O que acontece, Edinho ?......indagou Heloisa
Enquanto Maria se retirava na direção da bicicleta que deixara do outro lado da praça, ele disse:
Eu a conhece muito bem,as nossas familias não se falam......................
- O que ? indagou ela novamente surpresa.
Nesse instante o garoto ficara meio que pertubado.
Por isso Heloisa continuou:
Em pleno século 21 voce ainda estão nessa de ficar de mal com vizinhos, isso não existe e jamais poderá existir. As pessoas hoje precisam serem pacificas, dinamicas, abertas, esclarecidas, atuantes e por que não dizer deslocadas, como se expressam a meninada ? Esse negocio de ficar de mal, é um retrocesso, atraso de vida e de ideias, é uma anarquia, é deixar fugir a felicidade e a boa convivencia entre as pessoas, é carregar o peso do ódio e da  mágoa a vida inteira na alma e no coração. Eu não gostaria de ter sabido que você é de mal com a Maria.
- Mas eu não sou de mal com ela, querida
- Entendi dizer que era.
- Não disse isso, respondeu ele.
- Entendi assim
- Eu falei que as nossas familias não se falam.
- Para mim é a mesma coisa Edinho, mas quero te dizer que a Maria é a minha
melhor amiga de escola. Nos encontramos no Jardim da Infancia, quando ainda
tinhamos 7 aninhos de idade, faz tempo, passamos pelo prezinho e hoje
estamos aqui. Eu valorizo muito isso.
Ele ouviu, por uns instante ficara pensativo,mas derepente beijou Heloisa.
- Você me beijou agora por que me ama ou foi por que a sua consciencia doeu?
- Eu te amo.
- Preciso ir, querido, disse ela.
- Não se vá, demore mais, saiba que hoje é sábado.
- Preciso ir de verdade, a Maria me aguarda, amanhã é domingo e agente
precisa terminar um trabalho escolar.
- Não me deixe só, disse ele segurando-a, pelo braço.
- A minha mãe não sabe que eu estou aqui.
Ela foi-se afastando vagarosamente na direção da bicicleta que a amiga,aguardava.
- Hoje você esta feliz, não é ? indagou Maria
Ela sorriu e respondeu:
- Quase.
- Por que quase ,se o brilho dos teus olhos dizem tudo ? tornou a interrogar
- Mudemos de assunto querida.
- Então diga, insistiu Maria
- Responda-me, por que moras em frente a casa do Edinho e não falas com ele?
- Isso eu não sei lhe responder, amiguinha
- Quem sabe, então ?
- Quando eu nascir os meus pais e os dele, já não se falavam e obrigaram
agente a não fazer amizade,existe essa barreira e eu tenho que obedecer.
- Que ideia de jirico.
- Não é bem assim.
Instantes depois Heloisa vira para Edinho e indaga
- Você gosta do irmão dela ?
Ele respondeu
- Detesto aquele cara
- Por que ?
- Além de chato é meio viadinho.
- O que ? perguntou a namorada assustada.
- Em vez dele virar homem, quer ser igual aas mulheres
- Esta falando asneira, o Flavinho é dez, é gente fina, é tudo maldade daquelas fofoqueiras de plantão que ficam na sua rua sem ter nada para fazer.
- Aquele cara é chato amor, falou ele mais exaltado.
- Deixemo-nos, esse asunto pra lá,respondeu
Do outro lado da praça Maria gritou:
- Helô....estou indo embora
- Esta bem, agente se encontra na Biblioteca
- Quando ? quis saber
- Na segunda feira  pela manhã.
 Maria montou na bicicleta, fez o contorno na praça e mais alguns
metros dali entrou na Travessa da Avenida Dr João da Silva Lima, que
fica paralela e rua Balbino Azeverdo Costa.
edinho e Heloisa permaneceram ali até as 12 horas, quando sentiram
fome, se beijaram e cada um retirou-se para casa.

Agora estamos no mês de Junho em Arari.
A  cidade encontra-se agitada e em cada esquina uma festa.
Tem festa de bumba boi a noite inteira, que faz com que as pessoas se sacudam ao som de toadas, muitas inéditas e outras mais antigas bastante conhecidas na comunidade.
É uma festa tradicional na cidade, que passa de geração a geração.
Seu Silvino,um negro baixo, forte, a cabeça esta tão branca quanto as nuvens que passa céu acima, um senhor muito querido pela vizinhança, e um ótimo para a minha mãe ( claro estou falando da mãe do autor desta obra)  é um capo,o representante vivo e legal deste fuar, que ele mesmo denomina de brincadeira.
Ele é o próprio construtor do boi.
O boi, é uma armação artesanal de madeira, onde eu particularmente considero a pessoa que fabrica mais que um  artesão, um verdadeiro artista.
Seu Silvino é um artista nessa arte de fabricar boi.
Nesse tipo de apresentação existe uma pessoa que somente ele puxa as cantigas e, é verossímil que no Estado do Maranhão, existe aqueles que são bons e, em Arari, uma terra abençoada por Deus e, desenhada pela natureza não poderia ser diferente.
Um lugar que possui o Silvino como dono do boi, cantador de boi, jamais poderia ser comandado por uma pessoa capaz, inteligente, qualificada vocalmente e para isso ele trouxera naquele dia, mais uma pessoa qualificada para "puxar o boi" um rapaz de nome Elismar Cruz.
Moço bonito o Elismar, postura  ereta e conduta moral inabalável na cidade de Arari, dono de uma voz firme e forte, uma figura que nos faz lembrar o Jamelão, isto sem qualquer exagero.
Elismar Cruz, além de interprete também é compositor, tem alguns sucessos musicais gravado, já não é um artista inédito e, por ser  ao estilo intimista, já cantou muito boi na ilha de São Luis, a capital do Maranhão, por isso e muito mais, ele possui todas as qualificações técnicas vocais para comandar neste período a festa de boi, do seu Silvino.
Silvino na verdade é um agitador cultural,além do bumba boi, ele promove a festa da casinha na roça...., além de outros tipos de danças, isso sem escrever que ele é um admirador voraz de umbanda, em cuja residência tem um espaço que agente chama de terreiro, sendo este espaço comandado competentemente pela dona Deuselir, a sua esposa, a qual amigos, planteia e vizinhos, carinhosamente a chamam de dona Deusa e, a classificam não como uma enorme mãe de santo, mas uma extraordinária dançante..
- Bate tambor Silvino que o santo quer dançar, brada dona Deusa, dando mais um de seus rodopios, em um pé só.Essas festas  em Arari reune um numero enorme de pessoas, inclusive muitos Arariensses que  residem fora da cidade, retornam nesse período para prestigiar as brincadeiras, como elas são conhecidas.
Lá pelas tantas dessas muitas festas no terreiro da dona Deusa, baixa um encantado, que chega cantando:
-  Bate tambor Silvino, bate tambor
Bate tambor que mãe d'água quer dançar
Toca tambor Silvino, cana dágua vai chegar
Vai chegar neném.................
Nenem não vai chorar
Teus apelos ensinar....amansar
Com cachaça boa, pra tocar........
.............................................................
Toca tambor , neném
Toca tambor.
E como agente fala no Estado do Maranhão, o "pau come" a noite  inteira sob  o batuque desse instrumento, que exprime um som ancestral, e que todos conhecemos como tambor.
Arari, é uma cidade ecletica, muito pequena,mas que certamente um dia será enorme.
Enorme, na intelectualidade, na diversidade de opiniões, na politica, enfim...............
Esta é uma cidade amada e bem desenhada pela natureza. Localiza-se quase no coração do Estado do Maranhão, é banhada pelo caudoso e belo  Rio Mearim, que ao se aproximar do centro desta,  abre uma vertente e que todos o conhecemos como o Igarapé do Nema, o que faz da cidade ficar desenhada como se fosse  a letra " y " e essa vertente faz uma parte da cidade de Arari, ser ligada a outra parte pela Ponte do Igarapé do Nema. De um lado estão os bairros: Carne Seca, Franca, Recanto Florido onde se localiza a famosa Rua da Beira, Coreia,Malvinas, Rua da Barata,Travessa da Delegacia, que  muitos conhecem como Travessa da Avenida Dr João Lima e, do outro lado da Ponte estão os bairros; Cocal, Perimirim, o magistral e magnifico bairro do Cruzeiro, Santo Antonio, etc...etc...etc, enquanto do outro lado do Rio, fixa a extraordinaria Trizidela, onde outrora reinava muitas aninas e enormes manguezais  de Dodó, encantando e embelezando os Engenhos de Lauzino.
Nesse alvoroço todo os garotos  e as garotas de Arari se encontram . Isso sem falar nesse fenomeno natural que assola Rio Mearim acima, que todos que somos da região acostumamos a chamar de Pororoca e,quando chega o mes de  Outubro, equipes de TV de todos os cantos do País, pra lá se desloca, para filmar e embelezar mais este pedaço de chão.
Somos assim, Ararienses e fenomenais.
Agora é noite.
Mais uma das muitas noites do mes de Junho.
Silvino leva o seu boi para a Praça do Folclore, alguns o apelidaram de "Levanta Poeira", neste momento já encontra-se na Praça Maria Madalena, enfiada em um vestido todo colorido, andadando de um lado para o outro calmamente arrastando Naldimila, uma neta sua, a quem constantemente a puxa pelo braço. A cada pulo de Naldimila, ela dispara alarmada
- Naldica,Naldica...
- O que foi  vó? responde a criança indagando.
- Sossega menina, reprende a avó, mesmo que a criança não esteja fazendo nada..
Maria Madalena Costa Vieira, é uma pessoa bem quista na cidade por todos os Ararienses que a conhecem, é uma pessoa prestativa, bacana, legal, adora concertar peixe para os vizinhos, tem um coração enorme e bondoso e como é uma mulher agitada, passa a impressão de carregar na  aura um sofrimento enorme, muito maior ate que os 50 anos que carrega no corpo. Maria Madalena
é mãe de duas moças e um  rapaz e, faz o tempo passar  puxando a neta pelo braço para um lado e para o outro e, ainda encontra tempo de bisbilhotar as travessuras de Naldine o outro neto, irmão de Naldimila, que por uma dessas muitas circunstancias da vida, mora com a  avó paterna.
Derepente fogos,muitos fogos estouram colorindo o ceu de Arari.
- Corre Naldica é foguete, diz Madá.
- Calma vó, responde a netinha.
- Corre filha, insiste Mada assustada.
Todas as pessoas que estão em volta e assistem a cena, dão gargalhadas enormes, por que sabem que Madá tem medo do estrondo de foguetes.
Já são para mais de 22 horas e Elismar Cruz de cima de um palco erguido no meio da praça, solta a voz:
- " Boi da era das palmeiras
Sem brilho, sem luz, sem prazer
Teu urro assusta nenem
Estou aqui... o que vou fazer
..........................
..............................
Terra boa de festa mil
De moços e moças sem nódoa
O que poderei afirmar...ó moça
Em cada cama uma paçoca.
......................................
,........................................
............................................
Elismar Cruz canta e a multidão vai ao delirio, se comprime ao som do tambor onça, uns gritam outros deliram e outros tantos delitam-se de prazer.
Tudo é uma grande festa nesta cidade
Tudo é motivo de alegria, beijos , abraços, amassos e entretenimentos.
Da macumba a pororoca, tudo se deleneia e encanta e canta nesta nossa Arari.

.......................................................
 De um outro lado da praça do Folclore, caminham calmamente mãos entrelaçadas, Edinho e Heloisa.
- Estou achando tudo belo, diz Heloisa sorridente
- Realmente, afirma ele.
- Olha, fazia muito tempo que o boi do Seu Silvino não trazia tanta gente a esta praça.
- Não é bem assim todos os anos  o pessoal vem a aplaude e muito.
- Nada disso, nos outros anos voce não estava aqui, vinha pouca gente, o pessoal até desdenhava dizendo que ele nao levantava poeira.
- Isso tudo é bobagem Helo
- Bobagem nada, não levantava nem risos, disse ela.
Nesse instante ele não perde a piada e diz, olhando para a namorada;
- Como é que o boi de seu Silvino vai levantar poeira se tudo aqui é
cimento,sorrir mostrando o chão.
-  Pare, senão fica ridiculo.
- Não querida, são as pessoas que pensam sempre pequeno querendo ridicularizar a brincaderas das outras pessoas.
Ambos continuavam caminhando de mãos entrelaçadas.
Ora param, ora se abraçam, beijam-se, e cada vez mais muitos fogos e o povão em delirios e entusiasmos, aplaudindo até bebados fazendo graça.
Tudo aquilo se faz de forma natural

Ao lado oposto aonde o casal está, encontra-se Flavinho e mais dois amigos, Cássio e Márcio.
São pessoas comuns, amigos comuns que conversam coisas banais.
Derepentemente entre eles surge a Maria:
- Quero falar com você, meu mano, disse ela dirigindo-se a Flavinho.
- Fale logo, pediu ele.
- Não, quero falar em particular, respondeu ela
- Quem mandou me procura, disse ele virando-se mais para a irmã.
- Uma amiga minha
- O que queres ? insistiu ela
- Quer falar com você, já disse.
- Quem é ela ?
Ao lado Cássio não aguentou-se:
- Aí, Flavinho esta bem na fita...heim ?
- Isso é invenção da Maria, respondeu ele
- Não é não, respondeu Maria puxando o  irmão pelo braço.
- Fala logo Maria e não enrola
Maria passou a mão entre os cabelos e disparou:
- Ali, atrais da rodoviária a Silvânia ,esta esperando você, por que
ela quer falar contigo.
- O que? indagou ele de olhos arregalados
- Ela disse que esta apaixonada da por você, tornou Maria
- Por mim? indagou levando a mão ao peito
- Sim, respondeu Maria
- Quantos anos ela tem ? ele quis saber
- Ah, não sei....deve ter uns 17.
- Volte lá e, diga a ela que eu recebi o telegrama dela antes de ontem, li e adorei, diga que achei legal mesmo ,o sentimento que ela tem por mim, e que eu me sentir honrado e gratificante, envaidecido, diga mais, diga que me sentir como se fosse uma estrela global.
- Que lindo, disse Maria sorridente
- Vá rápido
- Tô indo, se algum dia um homem falar isso para mim maninho eu desmaio.
- Maria !?.....disse ele com ar de repreensão.
- Tchau, respondeu ela saindo em disparada
Flavinho voltou para os amigos
- Tá de boa heim velho , disse Márcio
- Não é bem assim, respondeu
- Coisa de galá....insistiu Cássio do outro lado
- Isso é um paquerador, tornou Márcio
- Tá enamorando todas, disse Cássio
Dando uma alta gargalhada Márcio soltou:
- Flavinho escolhe as mulheres, ele pode fazer isso, a beleza dele, deixa ele fazer isso, usa e abusa dos  desejos das meninas.
Nesse instante Cássio deu uma leve mexidinha na orelha direita de Flavinho, eles são muito amigos. Este é uma especie de confidente de Flavinho, até por que no passado ,quando ainda eram  bem menores, houve um caso de amor entre eles, por isso a confiabilidade mutua.
Isso sem falar da amizade muito sincera e muito ímpar de ambos. E essa amizade é alimentada e dura pela lealdade de ambos, pelo companheirismo, pelo afeto que um nutre pelo outro, isso vem de longe, desde muito a família do Flavinho se mudar para a rua Balbino Azevedo Costa.
- Galera o papo tá bom, mas vou dá uma voltas para ver se pelo menos consigo molhar a língua na boca de uma  "mina" por aí, disse Márcio afastando-se lentamente
- É cedo mala, não vá não, disse Cássio
- Vocês estão de boa, respondeu ele:    Tá falando merda moleque...respondeu
- Veja você errado, eu falo agua e você entende bacuri
Flavinho mantinha-se calado, apenas ouvindo o dialogo dos amigos.
Márcio voltou rapidamente, deu um abraço em Flavinho, apertou a mão de Cássio e retirou-se em passos largos atras da mulherada.
- Não deverias ter falado com ele daquela jeito, disse Flavio
dirigindo-se a Cássio
- Por que ?
- Ele não falou nada demais
- Que nada, tem que dá dura nesse moleque mesmo
- Bobagem velho, respondeu Flavinho
. Meu caro, aquele moleque não leva nada na maldade, ele é um dos nossos
- Eu sei, tomara que seja mesmo, respondeu
Flavinho ainda falava quando passa repentinamente de mãos dadas a sua frente o casal Heloísa e Edinho.
Edinho ao enxergá-lo, fecha o rosto e caminha firme, ereto e rápido
- O que aconteceu que esta me puxando Edinho ? indagou a namorada
- Para irmos rápido, respondeu ele
- Parece que viu visagem
- Vamos rápido, Helo, respondeu ele
- O que aconteceu homem, neste momento estavas calmo
Ele não responde e nesse momento  quando olha para traz por cima do ombro percebe o Flavinho lhe fazendo uma piscadela, com o olho direito.
Edinho pára, olha para o ceu, solta a mão da namorada, e mesmo assim ele ver o Flavinho beijar a palma da mão e arremeter na sua direção e não contendo-se leva a mão à boca.
Edinho emudeceu, ficou pálido.

- O que foi meu bem? perguntou Heloísa assustada.
Edinho mordeu os lábios.
- Você esta pálido, o que esta acontecendo, tornou ela.
-  Nada, eu estou bem.
- Como nada, se de repente você alterou o seu comportamento ?
- Isso é impressão sua.
- Isso não é verdade esta estampado no seu rosto, seu desconforto.
- Eu não quero estragar a sua noite Heloísa, você não merece.
- Até neste momento não entendi nada do que esta acontecendo  querido.
- Não queira entender mesmo, respondeu ele.
Heloísa puxou Edinho pelo braço olhou no fundo dos olhos dele e disse:
- Eu estou ao seu lado sempre, do jeito que você estiver e na canoa que você
navegar, pode estar certo que juntos atravessaremos muitos mares,
enfrentaremos problemas, polemicas e qualquer mal entendido.
Olhando para ela ele respondeu:
- Eu serei o seu eterno protetor.
- Eu sei, respondeu ela beijando-lhe a boca.
Ambos caminharam a mais ou menos uns dez metros e sentaram sob uma árvore,
ele colocou ela entre as suas pernas e chupou-lhes a boca desesperadamente.
- Eu te amo muito Heloísa, disse ele
- Eu te amo mais ainda, respondeu ela.
Ele levantou-se agarrou a garota por trás e começou a rossar o seu queixo
em seu pescoço.
- Pare Edinho, pediu ela toda arrepiada
Aquela altura a multidão delirava com as musicas cantadas por Elismar e o
som ancestral do boi do seu Silvino e, enquanto isso acontecia ele metia
a língua no ouvido de Heloísa, enquanto ela delirava e balançava as pernas.
- Estou sentindo alguma coisa, disse ela
- O que ? quis saber ele
- Tesão, respondeu ela
- Que é isso meu bem.
- Tesão princesa ? perguntou ele que outra vez chupando a orelha dela, e disse
novamente:- estou com vontade de comer você
- Calma meu bem, pediu ela
- Já tive muita calma princesa, já tive calma demais
- Então me conta quando foi a sua primeira vez, Edinho?  quis saber ela.
- Ainda não tive a minha primeira vez amorzinho, por ser virgem ainda estou
me guardando para você.
- Que lorota
-Por que duvidas ?
- Não sei, foi o modo de falar, disse ela
- Desculpe
Novamente ele ergueu os cabelos dela e, passou a língua sobre o pescoço da
garota,
- Gostosa !
- Gostoso é você,meu queridinho
Nesse instante Heloísa começa a ensaiar uns passos de dança.
Nesse instante todos os instrumentos musicais param, parece que alguém tem um
aviso a passar a comunidade de Arari, ouve-se muitos gritos, vaias,
assobios.
Depois de alguns minutos alguém sobe ao palco e pede:
- Atenção pessoal, quero aproveitar que a praça encontra-se lotada, para
passar alguns avisos de interesse da comunidade local.
- Desenbucha logo ferida, grita alguém do meio da multidão
Lourival, o locutor oficial da festa toma o microfone e brada:
- Atenção pessoal
Estamos  aproveitando a oportunidade para comunicar a comunidade Arariense,
que no próximo mês de Setembro, estará se apresentando nesta cidade o cantor
e compositor maranhense de nome : Nhen Rodrigues.
- Deve ser bom, disse Heloísa
- Eu não gosto, respondeu Edinho
- Eu adoro MPB
- Não é que eu não goste, eu tenho é certeza que não vai vim ninguém
- Silencio pessoal, bradou Lourival e com a microfone em punho continuou:- A
vinda deste artista nesta cidade é uma promoção dos alunos do Colégio
Arariense, que liderados pelo colega Flávio Mendes,mais conhecido como
Flavinho, não mediu esforço, para trazer este moço que apesar de residir
muitos anos na capital e fazer muito sucesso, é filho desta terra, mas
jamais se apresentou nesta cidade.
já sei que não vai prestar, esse camarada metido nisso, disse  Edinho
desconfiado
- Que nada, vai ser de rachar, retrucou Heloísa
- Como você sabe que vai prestar? quis saber ele
- Ele é organizado, educado, competente, inteligente, passou em
primeiro lugar no ultimo concurso da Caixa Econômica Federal,
respondeu ela
- O que, esse doidão passou ? indagou ele admirada
- Respeito ao meu amigo Edinho
- Que amigo você arranjou, heim querida.
- Sem ciumes, ele tem namorada, querido
- Quem ?
- A Silvânia, respondeu ela
- Quem é Silvânia ? quis saber ele
- Lá da rua do Sol
- Não conheço.
Ela olhou demoradamente para o namorado e tornou:
- Você vai me trazer no show?
- Eu não gosto
- Mas viremos
- Vamos ver, respondeu ele.
E ela continuou
- Já passa da  meia noite, tenho que ir embora, seu Silvino já bateu
muita matraca e além do mais tem muita gente bêbadas, estão caindo em
pé.
- É cedo benzinho
- Acontece que dona  Floriza esta me esperando e além do mais se eu
chegar tarde, ela me escala o dia inteiro na cozinha pilotando o fogão
e, corta o meu barato proibindo eu de voltar aqui.
- Não diga que a minha sogra é cruel, assim.
- Você não conhece a peça.
-Então preciso enquadrar ela
- Deixa de falar bobagem e me leva até a esquina da minha rua.
- Esquina nada, hoje eu vou bater na tua porta
- Você não esta louco
- Um dia terei que encarar a fera e, que seja logo.
Ela sorriu e deu-lhe um beijo na boca
Ela disse:
- Tudo isso é verdade, mas ainda não chegou a hora.
- Esta bem Helô, e devolveu-lhe o beijo.
Ambos saíram vagarosamente de mãos dadas e foram se afastando da praça, entraram na agoniada avenida Dr João da Silva Lima, onde constantemente a via vomita gente nesse sobe e desce de passos..
São carros com faróis alto,inúmeros garotos e garotas em motocicletas, a maioria irregular, que circulam livremente com a anuência das autoridades locais, numa afronta ao direito do cidadão e da cidade.
Enquanto Heloísa e Edinho se retirava, Márcio encontrou Eva a filha do padeiro, com quem ficou longo tempo jogando conversa fora e, ensaiando ambos, passos de bumba boi.
Silvino não tem sossego a cada cinco minutos eles solta um verso e toca a matraca. Elismar já cantara para mais de 20 musicas e,a cada musica continua a deslumbrar ainda mais o público feminino.
- O negro é bom, grita alguém  no meio da multidão.
- É o melhor de Arari, responde outro
- Bom é  Tonho Espiga de Milho lá do Macaquisal rapaz, retruca um terceiro.
- Qui nada, aquilo só sabe é beber cachaça,responde um quarto
- Bom é Elismar Cruz que toca boi aqui e, em São Luiz e, isso não é para qualquer um, tem que ser mesmo macho, arremata Manezinho Foba.
Todo o amasso que o Edinho dera na namorada o Flávinho assistira parado, imóvel, do outro lado da árvore e,ouvia os gemidos delirante da garota e o comportamento exagerado do menino
Pensou consigo:
- Eu não sei qual é o motivo do Edinho não falar comigo. Jamais o ofendi, sempre demonstrei carinho para com ele, mesmo as nossas famílias não se falando jamais coloquei piada para ele,mas deixe esta ,um dia ainda trombo com esse moleque e, aí sim eu saberei qual é a dele. Se ele pensa que eu vou ficar de mal com ele esta redondamente enganado.
Flavinho viu quando ele foi levar a namorada até a esquina da casa dela e, o seguiu até o começo da Avenida  João Lima.
A pouco mais de 3 horas da manhã, quando as pessoas já começavam a retira-se , Elismar entoa a ultima canção da noite:


" Eu quero somente paz e amor
Prosperidade e amizade mutua
Não quero guerra de sexo e nem preconceito
Desvario  barato ou perda total.
Eu quero o amor de todos os povos
Que o suor escorra por todos os poros
Que as luzes derramem por todos os coros
E que tudo seja infinito.................até o amor."



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José Maria Souza Costa
     

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