sábado, 2 de outubro de 2010

AQUI COMEÇA O ROMANCE - L U C I A N A - 1 capitulo.




PRIMEIRO CAPITULO DE LUCIANNA.

 

Verão, uma estação que queima as aurácacias dos longadouros, mesmo umedecidos pelo sereno de uma noite negra que finda-se.

Nordeste tropical, que deixa no nordestino as ignomínias do padecimento. A baixada maranhense, Estado onde  deita a território a dentro o saudoso e potável Mearim, que deslumbra e, seduz Arari, uma cidade que se plantou à sua fímbria e, graças ao tempo, expandiu-se terrestremente, sem que seja interrompida pelo dedo ditador e corrupto da perseguição fascista.

Cidade de seres humanos tão pobres e miseráveis, como setenta e oito por cento da população brasileira, e além de tudo, padecem com a emancipação dos suplícios milicianos.

Terra...cidade pequena...vila...lugarejo, seja lá o que for ou como for denominada, não mudará´o reconhecimento, pelos maravilhosos sítios que a cerca, pela escuridão, pelo lamaçal que a ataca violentamente, ou até mesmo pelas fascinantes qualidades do Clodomir, vigário que a fez crescer.

Terra, onde o estomago do ser humano já não chora, por está acostumado com a doentia, mesquinha e rude vida alimentar. Cidade em que os homens choram pela decadência administrativa pública que lhes rodeia.

Eu me lembro, que o dia findara rotineiramente dando lugar à calorífera noite que atacou e agoniou Maria Clara, uma mulher de estatura mediana, olhos castanhos, cabelos crepus, lábios finos, nariz afilado e pele não muito clara. Uma mulher de trinta e duas primaveras, mas que parecia ter quarenta, contudo não deixava de ser sensível, carinhosa e sensata. Gestante, cansada e preocupada,, encontrando-se só, simplesmente alisava os cabelos, enquanto esperava Leonardo, um exímio consertador de bicicletas usadas a quem tinha como esposo e, com que morava a uma década, apesar de todo esse tempo de união, somente agora Maria Clara provaria que estava as vésperas de ser mãe, o sonho que alimenta toda mulher.

Leonardo Martins, jovem de trinta anos,  possuía um largo e comprido bigode, uma cabeleira black Power, moreno canela,baixo, olhos negros e muito temperamental. Passava a maior parte do tempo, no bom bate papo com os amigos, mas sempre surgia com qualquer quantidade de cruzeiros em casa, no rústico casebre que lhe servia como abrigo do sol e da chuva.

Quase vinte horas, ele entra disfarçadamente chamando:

- Clarinha !? Clarinha! ...

- Estou aqui, o que desejas ?  Respondeu ela do quarto.

- Onde estás que não apareces ? Insistiu ele.

- Ah, sinto-me bastante cansada, não vou ai agora, estou no quarto.

- jantaste ?

- Não, não quis nada...

- O que é isso Clarinha ! Não podes ficar assim, a noite está longe, está nos dias de dá luz a uma criança e, vai ficar assim ?

Ela nada respondeu e, ambos saíram para a cozinha onde ela aceitou jantar e, até mesmo tomar um cafezinho. Logo após a refeição, esperando que a alta temperatura caísse, o casal sentou-se comodamente à porta que dá para a rua Ibraim Ferreira, sem que fosse, incomodados pelo liquido salgado que umedece os corpos.

Percebendo que o calor e o sereno não lhes traria nenhum benefício, convidou-o:

- Vamos entrar, Léo.

- A esta hora minha querida ? Perguntou.

- Este seno pode me fazer mal. começo a sentir cansaço, uma coisa que parece querer tomar as minhas forças e tirar a minha liberdade de respirar.

Leonardo não fez oposição à idéia da esposa e entraram sendo surpreendidos por uma chuva fina, o que raramente acontece no nordeste principalmente nesta estação de ano. Mas para Leonardo a surpresa maior aconteceu ás vinte e três horas,  quando Maria Clara o acordou, com gemidos inquietantes.

- Clarinha... o que tens ? Fala-me...responde...

- Estou ficando tonta...

- Tonta ? Perguntou ele.

Retorcendo-se em dores ela respondeu:

- Léo, estou sentindo uma dorzinha por aqui, disse-lhe mostrando a barriga. Logo em seguida continuou: - Vá chamar a dona Nuda, pois tenho certeza que é esse menino que está querendo vir ao mundo.

- Será que esse pivete está avechado ?

- Não faças cêra  Léo, lembra-te que estou sofrendo...não demores, por favor, a dor está aumentando...vai...vai...vá buscar a parteira.

Procurando a calça para enfiar-se, corria desesperadamente pelos quatro cantos do quarto, enquanto ela dizia:

- Faze com que ela venha imediatamente, caso contrário talvez, nem me encontre mais viva, Léo.

- Deixe de falar bobeira, Clarinha. Te peço até pelo amor de Cristo que não me fales essas besteiras, sei que poderei enlouquecer.

Rapidamente pulara sôbre os restos de sua bicicleta e saiu em uma desembalada velocidade rumo ao bairro do Cruzeiro, local situado na zona sul de Arari, aonde morava a parteira Nuda. Não era ela uma genecologista, nem possuía um curso secundário, simplesmente já havia enfrentado muitas crises ao lado de muitas mamães. Mas, isso não quer dizer que não houvesse especialistas ou hospital no local, muito ao contrário, as condições econômicas do casal é que eram insuficientes para pagar divídas, jamais !

Enquanto ela ficara só, pela sua mente passava idéias ardentes e sofridas, como só uma mulher gestante pode imaginar.

Desesperada ela dizia:

- Dai-me coragem meu Deus ! Fazei que eu tenha essa criança em paz e tranquilidade, pois somente vós sabes o quanto estou nervosa e tensa. Ajudai, minha Santa Bárbara, não me deixai desamparada agora, que estou a precisar tanto. Dai-me um parto excelente.

Depois de quase trinta minutos, ele voltara e da porta de entrada ouviu os gemidinhos da esposa, indo imediatamente  quarto a dentro, comentando:

- Calma, Maria Clara, deixa de queixas...puxa! assim como estás reagindo acabas me deixando ais nervoso ainda, não fuqies assim, Clarinha não gosto de te ver assim..Pombas! Sorria, sorria mesmo! Esqueça a tristeza, abandone-a, não se desespere e crê que eu te faço feliz.

Leonardo ainda falava, quando dona Nuda entrou onde ele se encontrava com a  mulher e, logo foi comentando ;

- Estás doando uma força para a esposa, isso é muito bom Leonardo, poucos são os homens que agem assim.

- Estou preocupado em confortá-la, dona Nuda, mas parece que está sendo inútil o meu trabalho, a cada palavra que expresso a mulher parece que fica mais nervosa, desse jeito, podes crer minha tia Nuda, eu morro e tem mais, morrerei consciente que não vi o meu garoto nascer.

Experiente na vida Nuda confortou-o:

- Calma seu Leonardo, este é o momento das pessoas provarem a si mesmas, que o controle emocional está ótimo.

E virando-se para Maria Clara continuou:

- Por que estás nervosa, meu amor, mostre ao medo que a realidade é você que faz, portanto deixe de nervoso, de um chute na sombra do apavoramento, tem mais meu bem, ter filho não é bicho de sete cabeças, muito ao contrário, é o sonho de toda mulher. fica tranquila que o teu parto ocorrerá normalmente.

Nuda Miguelline de Albuquerque, " a enfermeira ", " a doutora genecólogo" ou mais tarde " a pediatra", quem sabe, todavia na realidade, uma mulher que fazia tudo na base do " vamo qui vamo".

Uma mulher de setenta e poucos anos de idade sem curso escolar, demonstrava ali a sua qualidade humana. Mas olhando demoradamente para a mulher que ali estava em seu poder imaginava;

- Que barriga enorme a dessa mulher ! Será que são gêmeos o que ela conduz no ventre ? Ou será o excesso de água nas placentas ? ou é a minha visão que já está cansada ? Não pode ser está última hipótese, além do mais, eu estive do lado da Elvira ontem a noite.

Ela ficara cabisbaixa, pensando no que estaria vendo, quando Leonardo lhe interrompeu indagando:

- Estás dormindo, minha tia ?

- Eu dormindo, meu filho, com tamanha responsabilidade, podes imaginar que terei tempo para dormir, principalmente neste instante, em que até eu  mesmo, possa crer nas forças ocultas ?

- Não pensei nisso dona Nuda, me desculpe certo ?

- Leonardo peço ao senhor que deixe a mulher sozinha por uns instantes, para que o tempo se passe mais rápido, me sirva um cafezinho, por gentileza, podes ? Perguntou ela.

- Na verdade, dona Nuda, nem temos café pronto, mas não é por isso que  não matará o seu desejo, eu vou passar. E tranquilamente saiu para a cozinha, sendo que logo imediatamente a parteira leiga o seguiu.

- Ainda não está pronto, filho ?

- Espere ai dona Nuda, só agora é que pus agua no fogo, qual é que é ?

Ela deu um sorriso e falou:

- Não faça mais o café.

- Por que tia ? perguntou ele assustado.

- Não fiques nervoso, ainda nem viu o  gato, já está fazendo sujeira na roupa, que homem é o senhor Leonardo ? Aonde está aquela tranquilidade de que me falou ?

- Eu estou calmo minha senhora, estou somente estranho o seu modo de recusar o meu café  repentinamente.

- O caso não é simplesmente recusar o seu café, pedí para que o senhor saísse do quarto, por que tenho algo a lhe revelar.

- O que dona Nuda ?

- Eu estou com uma idéia na mente, que a sua esposa está com duas crianças na barriga, mas também não é o caso para se assustar, podes crer meu garoto !

- Por que a senhora sabe que são duas crianças ?

- Será que, em vinte anos nessa luta, não conheço mais nada ?

E sem fazer mais nada, ambos saíram do quarto.

Àquela altura, mesmo sofrendo com as dores, Nuda não permitiu que Maria Clara, ficasse somente de camisola

Às quatro horas da manhã, quando ela já se mostrava bastante agoniada, Nuda perguntou:

- Quer tirara a roupa ?

Para a qual ela respondera:

- Se eu pudesse a muito já estaria como Deus me botou ao mundo, " sem lenço e sem documento", minha senhora.

Percebendo que a mulher estava a cada momento mais vermelha, ela aproximou-se de Maria Clara e, lentamente foi-lhe tirando o vestido, tudo mesmo, até que elea ficasse despida.

Impaciente, a gestante somente gemia lamentando-se:

- Ai meu santo, tamanha é esta dor que só a mim persegue, será que todas as mulheres sentem este mesmo trauma que estou sentindo agora ? É verdade meu Cristo que está dor nos faz feliz , através dos filhos ou é uma ilusão bordada na mente de uma mãe que sempre é coruja ? Tanta dor meu Deus para se ter um filho e, muitas das vezes ele ainda nada faz para recuperara ou sanar este sofrimento. Não sei se estou sendo sincera, meu pai, muitas das vezes, nem sei se valerá apena ser mãe, porém se tiver que ser feliz com esta criança, que a deixe vir ao mundo, senão... assim como deixai vir ao mundo. Quero nem que seja por doze anos, ser feliz enquanto ele é pequeno.

De repente a Maria Clara acabou de falar e deu um grito terrível, assustando os dois que a acompanhavam, o que fez Leonardo, indagar:

- O que foi, bem ?

- Socorre-me, dona Nuda ! pediu ela.

E percebendo que o garoto estava para nascer, o chefe da família retirou-se do quarto, deixando somente a parteira.

Duas horas depois em que ele havia retirado-se do quarto, provavelmente lá pelas seis da matina, dona  Nuda o chamou:

- Senhor Leonardo ?!

Da cozinha percebendo que a parteira o chamava, entrou no quarto correndo e,indagando:

- Já nasceu ?

- Não, respondeu ela.

Enquanto falava, puxava vagarosamente da vagina da mulher a criança, e dos lábios da parteira leiga, ele simplesmente ouvia:

- - Valha-me meu São Bento, dai-me sempre forças Ogum, sabes muito bem que ainda creio nas vossas forças, me enxei de coragem e fortaleza, para que eu possa assistir a esta mulher dá a luz a esta criança..

E vendo o neném completamente de fora continuou:

- Calma, meu amorzinho... sorria para a vovozinha, diga um ar...faça o teu choro encantar a mim, seja feliz neste mundo de homens cruéis, sangrento e violento, cercado de incompetentes experiências humanas ou simplesmente pela poluição política desapontada.

Depois que ela terminou o monólogo com o bebê, ele indagou :

- È homem ou é mulher ?

- Leonardo, ainda não acabou, creio que deverá nascer uma outra criança.

- Ele cossou a cabeça e respondeu :

- Não é possível, meu pai do céu !

- Não se apavore, seu Leonardo, deixe nascer o outro para lhe revelar de uma só vez o sexo de ambos, fique tranquilo.

Como qualquer esposo coruja, ele saiu para a cozinha dizendo :

- Duas meninas, serão duas dores de cabeça, mais tarde ? Dois garotos, serão duas dores de cabeça, mais tarde ?  Eu, um pai pobretão, cansado, mal alimentado, como terei condição, meu povo, de sustentar esta família, que cresceu em um instante ? O que será de mim ? Uma revolução de idéias que somente perturba o meu ser e, aflige a cada momento os meus sentimentos, mas Deus é grande, e ele irá me ajudar.

Como o primeiro já havia nascido, quase houve trabalho para que o segundo viesse ao mundo, pelo mesmo caminho, pelo mesmo canal vaginal. E  Nuda, satisfeita, bradou:

- Nasceu outro, Leonardo!

Tudo estava normal, um casal de filhos, dois gêmeos que estavam, marcando presença neste século complicado de divulgar.

Depois de limpar os garotos com oléo, deixou-os acomodados ao lado da mãe.

Virando-se para ela perguntou:

- Dona Maria, quer saber, o que são os seus filhos ?

- Claro, que sim.

- Um menino, o que nasceu primeiro e, uma menina a que nasceu segunda, agora, podes ficar feliz.

- Um casal, repetiu Leonardo.

- Já tens, nome para os filhos ? Quis saber dona Nuda.

Leonardo, atalhou:

- Temos sim.

- Como ? Tornou ela.

E ele respondeu:

- Para o menino, a mãe dele vai revelar, pois temos um acordo, que se o menino fosse homem eu poria o nome, se fosse mulher ela colocava, mas como são dois invertemos o "trato".

Maria Clara, não exitou e respondeu:

- Já tenho um nome.

- Diga ?! Interrogou Nuda.

- Luciano.

E a velha comentou:

- Mas que nome lindo ! Jamais imaginei, que o nome desse menino, fosse tão belo assim !  Luciano, é o nome de uma pessoa sensata, sensível, responsável, alegre, dominante e educada. Luciano, o nome de um verdadeiro guerrilheiro pelos direitos humanos, um herói, uma pessoa feliz, amiga, meiga, delicada e sensual. Podem crer, meus amigos, estou satisfeita por terem os senhores escolhido um nome bonito para o vosso filhote.

- Obrigada, pelas palavras bonitas, dona Nuda, disse Leonardo.

- E o da menina ? Tornou ela a indagar.

O pai dos garotos pensou e respondeu:

- O nome da minha filha, vai ser um nome fácil, mas que geralmente nós brasileiros não pronunciamos, corretamente.

- Como é ? Tornou ela,  mais curiosa ainda.

Ele respondeu:

- Dona Nuda, não estou desconfiando da senhora, mas eu quero que chamem a minha filha, assim:E soletrou:

- Lu - ci - an - na.

- Lucianna, é exubero !  berrou a parteira.

E ele continuou:

- Não é somente isso, quando alguém escrever, o nome da minha filha, quero que faça com dois " ennes".

- Por que dois "ennes", seu  Leonardo ?

- Para que a pronúncia, seja correta, respondeu ele.

E Nuda, a parteira, disse sorridente:

- estou maravilhada, mas tenho que ir embora, que fiquem felizes, com as crianças, até logo !

E saiu para o ponto de ônibus.

E na tranquilidade de mais um dia, ficava o casal com os dois filhos, satisfeitos.

Lucianna, de olhos castanhos, nariz afilado, de cor clara, enquanto ao cabelo, será muito cedo para se ter uma análise, quase igual ao menino Luciano.




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