sábado, 2 de outubro de 2010

SEGUNDO CAPITULO DO ROMANCE LUCIANNA


SEGUNDO CAPITULO  DE   LUCIANNA.

 

 

Sessenta dias depois do nascimento dos garotos, podia-se perceber as rústicas condições de vida que levavam e, mais rústicos ainda que os próprios sentimentos, Leonardo estava sempre reclamando;

- Mas que desgraça ! Dois filhos ainda mais para vir perturbar a minha vida, como é que eu vou sustentar esse povo inteiro, meu pai do céu ?

Como toda esposa que não possui autoridade no lar, Maria Clara, simplesmente o olhava inconformada, sem pronunciar palavra qualquer que fosse, mesmo diante de qualquer expressão que lhe desagradasse.

E rebelde como era, Leonardo resmungava:

- Mulher ! Parece que não bastavam  as que há por aí, ainda vem mais essa, para mais tarde me dá uma dor de cabeça ! Parece,, até, meu Santo Onofre, que neste século, só eu, pata ter tamanhos desgostos.

Percebendo que a esposa nada lhe respondia, foi franco;

- Maria Clara, você já percebeu que as nossas possibilidades financeiras, não dão para sustentar essas duas crianças. A cada instante que passa, sinto que conosco eles vão sofrer demais, não seria mais exequível, se doassemos um deles, dê preferencia a menina, para uma pessoa que tenha viavéis condições financeiras de educá-la, alimentá-la, enfim, meu bem, uma pessoa que zele por essa criatura, por que tu sabes muito bem que, eu não passo de um pobretão desesperado, com esta vida besta, meu Deus.

E ela indagou:

- Leonardo, nós vamos desprezar os nossos filhos ?

E ele respondeu:

- Clarinha, pelo amor de Cristo, procura entender as coisas quando eu te falar, jamais falei que iremos desprezar os nossos filhos, disse o seguinte: - nós vamos dar a  menina seja para quem quiser.

- Puxa ! Está tão nervoso, por que Leonardo ? Por acaso te ofendí ? Sabes de uma verdade ? Eu não vou dá a minha filha ! 

- Tens condições de sustentá-la ? Indagou ele irritado.

- Claro que não, meu cidadão, mas prefiro tirar esmolas, pelas ruas desta cidade, pelas portas dos templos, mas não vou dá a minha filha, não. Passamos décadas sem ter uma criança para alegrar a casa, quando temos ainda quer dá-la, para os outros, tenha paciência.

- Isso, não é problema, façamos outro, respondeu ele.

- Não, Leonardo, isso não posso aceitar, jamais...jamais, sei que ficarei louca, sou capaz até de me atirar sob  os pneus de um carro, mas não aceitarei essa idéia tua.

Ameaçador como sempre fora, ele disse:

- Maria clara, o caso é simples e complicado, dependendo das pessoas, mas é mais agradável você~e dá essa criança de livre e espontânea vontade, do que eu fazer o juizado de menores tomá-la, alegando maus tratos. Tem outra, minha querida, se tu não aceitares dá essa menina, eu te abandono, tomo o menino, ainda mando os policiais te darem uma cana, isto, sem falar que te deixarei debaixo de uma ponte, por que lhe tomarei a casa também. Agora, você resolve, aceita dá a criança., ou essas cláusulas que acabei de de citar ? 

Ela abaixou a cabeça e, junto deixou as lágrimas caírem.

E mais um atormentador, que um esposo, ele tornou:

- Que covardia é essa Maria Clara, é o mundo que está acabando ,ou é a felicidade que te cerca ?

Para o qual, ela respondeu:

- Não é covardia, homem de pedra, não eras tu o ser humano merecedor de ser pai da minha filha, onde estão os teus sentimentos ? Onde está a tua fé, do pai de família ? Não faça isso comigo, Leonardo.

Debochadamente ele respondeu:

- Eu não estou lhe fazendo absolutamente nada, do escândalo és tu a dona, não há necessidade disso, é o seguinte, minha nega, aceitas ou não, dá a menina ?

- Mas por que a menina, homem ?

- Não há resposta, minha senhora, aceitas ?

Ela olhou nos olhos dele e a expressão de abandono estava amplamente legível, a ânsia de não querer mais a filha, depois daqueles dois meses de vida, era uma idéia amadurecida. e ela respondeu;

- Leonardo, faz da criança, o que entenderes.

Tomando-a, pelos braços, expressou-se:

- - Clarinha, não chores assim, amanhã compreenderás que o que mais pretendo é a felicidade dela, eu não tenho condições de educá-la, portanto muito irá sofrer, padecer. Seu eu falecer hoje, Clarinha, morrerei tranquilo, já que estou lutando pelo bem, da minha, Lucianna.

- E para quem vai dá a minha filha ?

- Para um amigo.

- Que vida, esta minha, meu Deus !

- Não sei mais o que falar, entendo pelo amor de Deus, in compreensiva, use pelo menos uma vez na vida, o bom senso.

No dia seguinte, leonardo não saiu de casa, imaginando como convenceria a esposa a se desfazer da menina. e enquanto ela foi a Supermercado " Primaveras ", estabelecimento comercial que se localiza na Avenida Dr. João da Silva Lima, ele tramou:

- Quando ela voltar eu direi, que já adquirir uma pessoa de total confiança para ficar com a Lucianna, como filha adotiva, assim me desfaço dessa criança. Se fosse um homem, tudo bem, mas mulher dá tanto trabalho ! é isso mesmo ! Amanhã, pela manhã eu a colocarei na porta de uma pessoa, mais ou menos rica. Vamos ficar apenas com o Luciano, que é homem, e quem sabe poderá me servir no futuro, mesmo assim vai gastar energia na casa dos outros e, jamais virá algum vagabundo, gastar a minha.

Lá pelas nove e meia, quando voltou do Primaveras, encontrou-o, sorridente e, imediatamente perguntou:

- Por que tanto alegria ?

- Por que o futuro pai da Lucianna, esteve aqui, mas como não estavas, em casa, ele voltou e pediu para que eu levasse a criança, lá pelas cinco da manhã, já que ele sai as seis, para o trabalho.

- Como, é mesmo, o nome dele ? Quis ela saber.

gaguejando e procurando esconder-se atrás da mentira, ele respondeu:

- Nélson.

- Nélson, repetiu ela, que tornou a insistir:

- Onde mora ?

- O Nélson, mora no Bonfim, tu não conheces.

- Tão longe...

E ele ordenou:

- Clara, tem uma coisa, não vais poder ficar visitando a menina, não, para evitar aborrecimentos, é claro.

- Está bem, cidadão, respondeu ela.

Demonstrando uma falta impressão de sentimentos, Leonardo comentou:

- Depois, meu bem, que ela crescer, tornar-se-á milionária, ai quem sabe agente a procura, por que nós somos os verdadeiros pais dela, a prova é que não iremos dá o registro de nascimento. fica tranquila que, antes de doá-la, passarei na 31 de março, para tirarmos uma foto dela, e quando a saudade apertar, a olharmos e contemplarmos pois, tenho consciência tranquila e, essa moleca ainda, será riquíssima.

Maria Clara, quase não pronunciou mais nenhuma palavra daquele instante em diante, tinha uma ampla visão de que o abandono, é o pior dos castigos, para um ser humano que possui seus sentimentos. Mas contra ou a favor da memória ela cedeu os pontos, que lhes pertenciam.

Já aceitando desfazer-se da filha talvez, temendo as ameaças do esposo, Maria clara, arrumou a pequenina muito cedo, passeou pelos longadouros da cidade, enfim, fez a sua nostálgica despedida, usando a  pulsilânimia que lhe cercou e, consumiu desde quando o esposo a procurou.

Cindo da manhã, o real horário da entrega da filha ao desconhecido, a verdadeira tragédia de um pai irresponsável, sem o menor sentimento humano ou uma personalidade fundamental. Um cidadão envolvido pelo preconceito destruidor, contra as mulheres, quando são elas as luzes de todas as luzes. O medo da realidade, o medo de encarar a vida como ela é, como ela estaria se definindo, a ampla insegurança e até mesmo a falta de amor paternal, uma carência de amor, envolvido pela incompreensão da mãe e fragilidade do senso ?

Mesma contra a idéia, ela arrumara a criança, para que o pai fizesse o que entendesse. e depois de escovar os dentes, tomar o cafezinho rotineiro e queimar o charuto, ele indaga:

- Lucianna, já está pronta, Clara ?

- Está, respondeu ela.

- então, deixe-me levar, antes que o Nélson, sai de casa.

E virando-se para a esposa, tornou:

- Não, despede-se, dela ?

- Eu, já me despedí, respondeu, ela.

- Então, posso, levá-la ?

- Podes, vai...sacia a tua sede, mísero.

E percebendo sair com a menina, imaginou:

- Que mãe sou eu meu pai do céu ? Parece que fui covarde,daquelas que se entregam facilmente. O que será de mim, agora ? confortai-me, Senhor. Minha maior riqueza, foi-se por água abaixo. Por que isso ? Por que fui tão frágil, tão confusa ?

Enquanto ela curtia o pesadelo, Leonardo tranquilo caminhava com a menina para a rua padre José da Cunha D' Eça, onde depositaria à porta da casa de número 852, localidade onde morava a milionária família Peres, que por circunstâncias da própria vida, não tiveram nenhum descendente.

Aproximando-se da casa, cuidadosamente, colocou a pequenina na calçada, perto da porta principal da mansão.

Arrumando-a, disse :

- Ficas aqui,contigo deixo apenas os meus votos de felicidades, que não me tenhas jamais como um inimigo, quando cresceres,saberás um dia que sou o teu verdadeiro pai, infelizmente jamais poderei te dar educação...carinho...assistência hospitalar...uma alimentação adequada...leite...isso mesmo ! Leite, um líquido  precioso, mas que o pobre jamais poderá saborear, pelo fato da carestia não deixar...além do mais não dá para resistir tanto água no produto, num verdadeiro desrespeito ao consumidor que paga caro por ele. contigo deixo apenas esta carta de apresentação, filha.

Saindo tranquilamente, sem que pelo menos olhasse para trás, voltou para onde estava a esposa, para confortá-la, mas infelizmente a encontrou morta, havia suicidado-se com uma gilete, cortando os pulsos.

Caminhando em direção ao quarto, encontrou uma missiva

 

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                                 Arari,   /   /  1982

 

                                 Leonardo.

 

Infelizmente não deu para que eu aguentasse, tamanha a pulsilânimia que tomou conta do teu ser e corrompeu a tua mente curta, não tive a coragem de te falar que, jamais me deste uma vida agradável, portanto para mim, o melhor descanso será este, um descanso que somente os tempos poderão anunciar, na longa noite do teu pesadelo. Não teria eu coragem de dar a minha filha, se não fossem as ameaças duras que a mim fizeste e, como toda mulher frágil, jamais tive a coragem de repudiar o teu ódio, tua atitude cruel contra a minha filha inocente que nada te fez. Claro, nem a ti, nem a nenhuma outra pessoa, portanto agora tomas conta do Luciano, transforma-o, em um padre ou em um homem  ricaço, ou então matarás a tua ansia  de te desfazer dele, assim como fizeste com a menina. creia que a minha alma, jamais se conformará com esse teu gesto mesquinho, covarde, selvagem e inimigo aos princípios das minhas idéias, mas deves estar tranquilo, com o teu sonho realizado, por que te livraste da verdadeira responsabilidade, da realidade que cerca uma vida de um pai de família, que na verdade presa a sua personalidade e, a sua dignidade. eu vou e tu ficas, mas analisa o quanto é importante ser homem, Leonardo, mas homem de verdade, carregado de responsabilidade e de um dever adequado.

Lembra-te, que viver é ter sentimento, respeitar as opiniões, senão a vida torna-se curta até se possuirmos um patrimônio material, por que isso ainda não é tudo, respeitar é muito mais. Respeitar até mesmo um empregado é dever, por que tanto empregado quanto patrão, necessitam um do outro, quanto mais esposo e esposa, mesmo que sejam mal casados, como fomos por esse longo tempo. agora, meu caro, a solução é fácil, arrumas outar e, eu simplesmente passo como uma que nada foi além de escrava de cama ou mulher de cozinha.

Sei que estás feliz portanto, viva.

Grata por tudo, pelos dez anos de escravagismo, pelos nove ou doze anos em que me transformaste em uma mulher só de sexo, tudo te perdôo e, subscrevo-me quase falecida;

 

 

                             Maria Clara Riez Camaocho Martins

 

 

 

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Terminando de ler o texto, ele abaixara a cabeça e chorou, parecia acreditar agora, que não fora um bom esposo para Maria Clara.

- Não é nada disso que está escrito, eu sinto... sentir a tua falta, tua ausência me dói...me corrói, não queria isso não, Clara, não queria isso, queria a nossa felicidade.

E saiu para o quarto, tomou Luciano nos braços e, apertando-o contra si e, com abraços exagerados exclamou:

- Prometo Luciano, que jamais arranjarei uma outra mulher, não conheceste a tua mãe, portanto não arranjarei madastra e, quando cresceres gozará, de toda liberdade.

E caindo na cama com o filho, chorou amargamente.

 

 

 

 



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