sábado, 2 de outubro de 2010

QUARTO CAPITULO DO ROMANCE LUCIANNA



 

QUARTO CAPITULO DE LUCIANNA.

A cobardia, o medo de encarar a realidade, fazia da casebre de Leonardo, um local desanimado, atacado pelo suicídio da esposa, um repúdio ao preconceito e, à má vida que recebia.

Ao lado do cadáver ele lamentava:

- Oh ! Maria Clara, por que agiste assim ? Por que tamanha pulsilânimia ? O que os outros não pensarão de mim ? Que desgosto profundo me doaste ! Que calor chocante ! Que amargura ! Tamanha angústia, sinto neste instante, estou á tua volta e só percebo um vácuo em minha vida, com um enorme silêncio destruidor. Maria Clara, te amei tanto e, agora me faz herdeiro da nostálgica, que nem o tempo sobre todos os tempos, conseguirá exterminar. A tua ausência me faz tépido, com a minha própria razão e, só acredito que faleceste de verdade, por que estou a ver com os pulsos cortados, para solucionar um contraste, que acusa-me e, jamais existiu.

E as lágrimas feriam-lhe o rosto equivocado de tantos sentimentos.

Transferindo-a, do solo para a cama, ele continuou:

- Maria Clara, desperte, sei que finges dormir para me enganar. Sei que estás brincando, não enganes o meu corpo e os meus sentimentos. Lembra-te que tens um descendente e ele necessita demasiadamente de te, portanto desperte. Não me engane, mais. Por que mesmo vendo o teu corpo repousado sob o solo dos campos santos, ainda não acreditarei, por que te amei demais. Puxa ! Os nossos momentos de namoros foram líricos, românticos, predominado pelo carinho e amor que revelávamos um para com o outro e, agora deixa-me ? Sei que não sentou para imaginar, que condição tem um homem para viver, quando está eternamente apaixonado pela esposa que morreu, aproveitando da fragilidade psíquica para fazer um gesto de vingança com o próprio mundo, um ato desagradável e injusto para com o seu corpo. Não me conformo em ver-te deitada, estirada, estática, sobre esta cama em que muito, os nossos corpos rolaram-se, mas te afirmo, que apesar de toda essa tragédia, prometo que nenhuma outra mulher aqui, repousará mais o corpo. Maria Clara, não consigo expulsar da mente que amei-te intensamente e, tudo negaste num escrito, que deixaste. Se discutíamos era procurando uma solução, um lar melhor e, não compreendeste, jamais. Acima de tudo me deste o silêncio como resposta, como se isso fosse a solução. Não poderei saber se a sua alma está confortada, infelizmente para a morte não haverá outro sinônimo, do que intitulá-la de macabro...é duro, dolorido e, o meu fim, Deus queira que não, mas ainda é parar atrás dos gradios ferrenhos, pagando por um crime devasso que não cometi e nem serei capaz de cometer.

Desesperado, inconformado e arruinado, em pouco tempo fez com que os vizinhos soubessem da tragédia e logo,logo a casebre tornou-se pequena para tanta gente.

e nesse momento não faltava interrogações de curiosos, acompanhados de mil e um exemplares de trágicos outros acontecidos.

De norte a sul, de leste a oeste, a nota fúnebre sacudiu a Cidade de Arari, retratando na fisionomia de cada um, o gesto de piedade pelo cadáver falido.

Alberto Albertossiano, um italiano, que morava ali a vinte e poucos anos, trêmulo pela idade, indagou:

- Já comunicaram o fato, à polícia ?

- Não, respondeu um desconhecido.

Como bom vizinho, Alberto Albertogalvano, baixou a cabeça, e deixou as águas ardentes ferir-lhe o rosto densamente, com a preocupação de uma vida humana, transformada pelas rugas.

Ali podia-se contar mais de cinqüenta pessoas, para um casebre de trinta metros quadrados, a agonia chegava em tudo e a todos. Mas entre todos, Alberto Albertossiano, tornou:

- Já registraram este ocorrido em algum Distrito Policial ?

Os que encontravam-se ali, perceberam que o senhor Leonardo empalideceu, ao sentir nos ouvidos as expressões do velho Italiano.

- O que foi mesmo que aconteceu, senhor Leonardo, indagou uma outra desconhecida.

Exaustero, respondeu encolhendo o côro da testa.

- Por que me faz, tal pergunta, se estás a ver a minha esposa estática, sobre a cama ?

- Desculpe-me, é por que ao perceber o velhinho indagar se alguém comunicou à polícia o ocorrido, percebi que mudara de cor muito rapidamente.

- O que é isso mulher, não fales , assim.

Ela não pronunciou mais nenhuma palavra e, distorcidamente enfiou-se entre a multidão, enquanto ele deixava os olhos navegar em lágrimas.

Triste ele disse baixinho:

- Essa mulher não poderia me deixar assim, sou um homem ferido, magoado, cortado pelo sentimento de culpa com essa morte que cometeste comigo mesmo, portanto só resta-me cuidar do Luciano, para que mais tarde, não venha a saber e culpar-me por esse acontecimento frustante.

Tirando o pequenino da rede, que atravessava de um canto a outro do quarto, saiu para a cozinha e, com o olhar fixo no filho comentou:

- Meu amado filho, ficaste tão cedo sem a mãe, tens somente um pai que pode dá todo o carinho possível, um pai que o seu tempo de vida, todo depositará ao seu próprio bem, Luciano. Você não sabe, mas sentimentos não tem limite e, os sinônimos surgem dependendo do tempo e os gestos. Uma coisa lhe garanto meu garoto, jamais sofrerá ânsia de querer qualquer coisa que não seja atendido. Eu sei filho, você não possuirá o prazer de pronunciar meigamente a palavra " mãe, " mas prometo que jamis entristecer-te-á, poe motivos e, sempre esconderei de te, o estilo da sua queda fatal. Não sei dizer se ela foi covarde, mas o seu gesto sim,... covarde demais, entregou-se ao inimigo sem lutar, sem gritar, sem possuir o alto domínio, por que o seu maior rival foi o medo de não lutar para sobreviver. Puxa, meu filho ! Sei que nada estás a entender, mas um dia, entenderás tudo, por que assim como tenho esperanças de arrumarem a balança do País, tenho assim de melhorar a nossa vida, disso tenho uma nítida certeza, por que és crianças hoje e um potente homem no amanhã.

E o desespero parecia querer consumir aquele homem.

Mas com os olhos firmes em direção ao corpo indagava o próprio pensamento, como quem buscava uma solução.

- Ela culpou-me de uma péssima vida, isso tudo é mentira. Uma vida que sempre preservei, a dela, mas talvez tudo tenha acontecido, por um pouco da minha tão grande culpa. Será, que o mundo inteiro está parado, observando que sou um homem novo, sobrecarregado de pestes e, a minha esposa atirada, caída e arruinada ? Sei, sei que sim... sei que nada possuía para sustentá-la e, foi por esses e outros motivos que ela acabara modo trágico. Por esses motivos, que atirei a minha filha nos braços de outras pessoas, de outros povos. Nesta cidade, neste sítio, neste lugarejo, aonde a escassez do emprego é imensa, o único privilégio dos indivíduos é comentar a vida dos outros.

E passando impacientemente a mão sobre a cabeça, ele dizia a si, mesmo;

- Será que cometi algum crime, algum pecado, ou algum erro colocando a minha filha na porta daquela família ? Mas se algum dia, alguém descobrir, certamente compreenderá, que as minhas possibilidades econômicas, não permitia sustentá-la, por que iria deixá-la, sofrendo comigo ? Isso não seria justo.

E sob as lágrimas do esposo, às oito horas do dia seguinte o ferretreo saiu acompanhado de uma enorme multidão, pela Avenida da Saudade, para ser plantado no Campo Santo da Cidade.

Mas...

Passou-se o dia.

Passar-se-iam outros dias.

Rotineiramente caminhava os tempo.

Tudo passava muito rápido, os comentários do suicídio da mulher da Rua Ibraim Ferreira, fugia aos poucos da memória da população, enquanto que na Rua Padre José da Cunha D'Eça, todo o sigilo possível, era mantido em relação ao achado.

e mesmo com a multidão de espaços, ele não tirava da memória o pesadelo, que lhe atormentava da morte de sua esposa e, sempre insistia;

- Tenho uma ampla certeza que Maria Clara, matou-se para se vingar, de mim, por que doei a menina.

Atormentado pela consciência, não dormia, ainda mais por que tinha que preocupar-se com o sustento do filho.

E as lágrimas escorriam pelo rosto e, ele lamentava:

- Tenho certeza meu Cristo, que não cometi um grande erro, Vós sabeis disso muito mais que eu, sei que fui um infame, cruel, repudiante, covarde e insensato com a minha filha, mas ela é pequenina, e muito pouco irá acontecer o que aconteceu. Por que somente agora, confesso a mim mesmo, que fui um pai miserável, sem nenhum pouco de sentimento, como se não estivesse nenhum sentimento mesmo,mas na verdade...para confessar a verdade eu não...sabe tudo bem, deixa p'ra lá, o que eu iria pronunciar.

Enquanto Leonardo, era constantemente cortado pelas lágrimas, na residência de número 50.486 da Rua José da Cunha D'Eça, o casal Quincas e Ilvã, mantinham Lucianna, aos seus modos e costumes, aquilo que na verdade uma criança pode receber como educação.

No momento do jantar, quando a menina parecia enfastiada, ele dizia:

- Come amorzinho, dê alegria à barriguinha, que é para a mamãe poder sentir-se feliz, senão o bicho papão vem buscar a senhora, come...come...come.

Com um olhar e um senso esplendido, dona Ilvã, parecia perceber a alegria e a felicidade daquela pequena criatura.

Depois de alimentá-la, a mãe adotiva pusera ela para dormir cantando:

" Dormes meu bem

que o sono caminha

como quem viaja

para o céu.

A sorte tu tens

só por ser minha

me diga, o que haja

onde está o seu véu.

Sou eu que te amo

com tanto prazer

como será feliz

quando crescer.

Mas, tens poucos anos

o que vai fazer

a te sempre quis

fazer se desenvolver.

Dormes que a vida

é cantar, e amar

quando pequenina

aprender a beijar.

Pois, não quero despedida

para não me sufocar

és tu sempre minha

com tudo meu,

tu vais ficar.

Dorme...dorme...amor

sei o que tu queres

por ser minha filha

e ter sempre o meu amor.

Sei que não sentes dor

diga o que queres

és a mais linda

de todos os amores."

Ilvã, cantava e a menina cochilava tranqüilamente, acomodada nas famosas colchas da cama, feitas de um tecido de finíssima qualidade.

Depois que a criança dormiu, ele foi servir ao jantar ao esposo Quincas, que ao depara com ela saiu do quarto irritado:

- Pensei que estivesse, ido embora, comentou.

- Não entendi, respondeu ela.

- Está legal.

- Estás nervoso, por que ? Quis saber ela.

- Deixa de conversa, Ilvã, coloca logo esse almoço, se é que tem essa porcaria, Deus me perdoe, se for pecado, ou se não tem me despaxe logo.

- O que foi fera ? Nunca ficaste assim, estás muito nervosinho, tem que entender que eu sou uma pessoa só, para cuidar de tudo, até, de que, estavas dando a alimentação da, Lucianna.

- Está lega, a desculpa agora é a Lucianna, respondeu ele.

- Pague uma empregada, Quincas.

- É isso, mesmo o que vou fazer.

- Uma idéia, excelente, respondeu ela.

Olhando demoradamente para a esposa, ele tornou:

- Sabes, em vez que colocar uma empregada, eu vou é arrumar uma outra mulher, caso contrário, morrerei mais depressa..

Sorrindo após ouvir o que o marido falou, ela respondeu:

- Eu também, vou arrumar um outro homem, certamente ele cuidará, melhor de mim.

- Ilvã ! ?

- O que foi ? Indagou ela.

- Não me respeita, mais ?

Ela deu um sorriso debochado e respondeu:

- Quincas, eu sou a sua esposa, jamais a sua escrava, não sou a sua filha para ouvir o que bem entender expressar-se, não disse isso para lhe fazer ciúmes, mas para te alertar que os mesmos panos que cobrem a tua cabeça aqui, enxuga os meus cabelos longos que a muito, já encostantes o rosto. Com isso, não fiques a imaginar que eu sou do tipo dessas esposas "ocasiões", sem direito, compreenda que eu sou a sua esposa e, nunca a sua mulher objeto, ou simplesmente uma mulher para a cama, preste muito atenção, lhe respeitarei na medida em que me respeitar, assim como me tratar lhe tratarei, portanto deixe de ser um homem, bobão, entendeu ?

- Êta língua, quer parar, disse ele.

- Paro sim, quando parar de imaginar que sou para te uma fantasia de carne e osso. Quincas, tens que compreender que nós mulheres também possuímos diretos e deveres iguais. Observe, hoje vemos mulheres, na Marinha, na Aeronaútica, na Polícia Militar, no Parlamento Nacional, enfim, muito a mulher é elemento Social.

- P'ra que fui falar, aquilo ?

- Olha filho, se falaste comigo, tens que ouvir.

- Está bem Ilvã, disse ele.

- É pra tu, não abrir a boca e falar bobeira.

Ela calou-se e começou a repartir a refeição, aquela seria o almoço.

Uns vinte minutos depois o velho Quincas,que mastigava, parou de vez:

- O que foi agora ? Indagou a esposa.

- Nada demais, respondeu ele.

- Então cuida, por que estavas com tanta pressa.

Ele deixou o garfo cair sobre o prato e imaginou:

- Trinta e cinco anos que vivo ao lado da Ilvã, e hoje pela primeira vez nós discutimos, por que será, reconheço que fui errado, mas será por que somente agora, depois desse tempo inteiro viemos a debater, isso não era para ter acontecido, nem quando éramos jovens agente debatia, mas prometo que essa coisa não se repetirá mais, fui eu o errado reconheço, mas este erro não repetirei mais. Sei, agora lembro que ela fazia a Lucianna dormir,isso não vai se repetir, agora que já vencemos quase todas as dificuldades na vida, não mais se repetirá, isso foi feio demais.

Observando o marido, cada vez mais triste, ela o indagou:

- O que foi meu bem, come logo...tu querias...

- Ilvã, desculpe a minha ignorância, tu não merecias.

- Estás bem, deixe de lamentações. Deixe-as. Abandone-as...abandone-as. Agora, me dê um beijo e continue a almoçar.

quincas, atendeu o pedido da esposa e, continuou a refeição.



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