segunda-feira, 4 de outubro de 2010

DÉCIMO CAPITULO DO ROMANCE LUCIANNA




DÉCIMO CAPITULO DE  LUCIANNA.


Eram 17 horas.
A campainha soou, nas classes cada aluno atirava os seus pertences dentro das malas escolares e, sem que ouvissem qualquer chamamento de atenção dos vigilantes os traquinas, entre os quais Alexandre e Germano, fugiram e, sentaram à Praça da Matriz, que localiza-se em frente ao Colégio.
- Ao vê-la, vou aproximar-me, disse Alexandre.
- É isso mesmo que tens que fazer, respondeu o colega.
E Alexandre rabiscava o solo, quando germano o interrompeu indagando:
- Por que estás calado amigo ?
- Estou concentrado para saber, o que irei falar à menina.
- Mas rapaz, estou é tu se preocupar com isso, deixa de bobagem.
E balançando a cabeça continuou:
- Tu não moras aí, pelo lado da rua, Leocádio Bogéa ?
- Sim, claro que moro.
- Então, se ela mora na rua Padre José da Cunha D' Eça, acompanhas até o numero 588, que dá muito tempo para levar um papo sadio, agora precisas entender isso, se ela lhe disser um não, não faça ameaça, por favor.
-  Ameaças ? Indagou ele franzindo a testa.
- Sim, ameaças. Respondeu Germano.
- Mas que tipo de ameaças, poderia eu fazer ?
- Ah, inventar qualquer coisa, não é possível que vai querer provar a mim, que somente sabes ser humorista, na sala de aula.
- Estás legal, mas...
Nem bem acabara de falar, levantou-se apressadamente e saiu correndo em direção de alguém que já havia passado por eles.
- À noite, falarei contigo na praça, podes esperar.
E de súbito chamou:
- Lucianna !
- Diga, respondeu ela virando-se para ver de onde vinha a voz.
- Espere-me por favor.
Ambos caminhavam tranquilamente onde só o vento, tentava romper com o silencio.
Mas ele falou, perguntando:
- Não foste hoje, deixar o Luciano em  casa ?
Olhando seriamente ela virou-se para ele e respondeu:
- Quantas vezes, viste eu ir levá-lo em casa ?
- Estou com brincadeira, não leva-me a mau.
- É uma brincadeira de mal gosto.
- Ué, tu não namoras com ele, mesmo ?
- Claro que não, e daí ?
Ele sorriu e tornou:
- Então posso entender que o caminho está livre para qualquer cavalheiro ?
- Cada um entende as coisas á sua maneira, não disse nada disso.
- Mas era isso mesmo que queria dizer.
E sempre sorridente continuou:
- Puxa, ainda não percebeste, que a minha aproximação de ti, defere das dos teus colegas ? Não percebes que estou verdadeiramente apaixonado por te ? Estou falando sério da minha paixão, do meu gostar, isso jamais irei conseguir esconder.
Ela simplesmente espichou os lábios, enquanto ele comentou;
- Por que zombas de mim, por que não acreditas nas palavras sinceras e reais  que eu estou a te revelar ? Não quer acreditar que eu posso repentinamente adorar-te, tamanha é a tua elegância ?
Ela respondeu:
- Entender eu entendo, difícil mesmo, é acreditar.
- Imaginas que eu iria mentir a te, ó minha doce Lucianna, confesse por que tanto lhe faz de difícil, vamos, diga-me qual é o local em que nos encontraremos hoje, responda meu amor, diga-me, por que endurece tanto as palavras, deixando vagar pelo silencio a resposta de tudo o que eu queria ouvir por esses lábios doces.
- Podeis ir, para onde quiseres cara, eu quero mesmo é te ver morto, respondeu ela.
- Por que faz isso comigo, não sabes que serei capaz de avisar ao seu Quincas, que estás namorando aquele safadão ? Talvez gurizinha atrevida, não sabes, que terei condições de cessar com esse romance bobo, assim tal qual o fogo detrói as matas virgens, sabia ?
Ela ficara estática e sisuda, enquanto ele continuava;
- Esse teu sonho acabará, como se fosse um sonho que se vai com o clarear de um novo dia.
- As armas dos fracos é o desesperados é sempre atacar, porém continue com a sua missão, lhe peço amigavelmente, vá em frente.
E sem que esperasse  mais algum argumento dele, fugiu correndo.
Cansada e bastante vermelha, entrou em casa apavorada e, a mãe a vendo naquele estado indagou:
- O que aconteceu, filha ?
- Nada, por que ?
Aproximando-se e acariciando-lhe o rosto tornou:
- Tão vermelha a sua pele.
- E daí, mãe.
- Estás, assustada ?
- Não, claro que não, o que é que tem em Arari, para andar assustando agente, estou apenas cansada, por acaso não entendes a vida agitada de um estudante ?
- Tudo bem, respondeu Ilvã baixinho.
e logo em seguida continuou:
- Vá querer tomar banho agora, ou jantar ?
- Um banho para espalhar o mau significado daquelas palavras que aquele...
- O que Lucianna ? Interrompeu Ilvã.
A menina disfarçou dizendo:
- Nada, mãe. estou pensando em um personagem de teatro que me ofereceram no colégio.
- Pareces que havia ouvido dizer... das palavras que asquele...
- Pois é, essa expressão é um texto da peça teatral.
- Já perguntou ao teu pai, se ele aceita participares disso ?
- Não.
- Mas tem que falar ?
- Sim.
- Acontece mãe, que eu li um pedacinho do texto, não gostei e não  gostei do personagem e, não vou participar.
- faz bem.
- Por que ? Indagou a menina.
- Talvez, o teu pai, não aceitaria, ele não gosta disso.
- Gostar ele gosta, o que ele não quer mesmo é que eu participe.
E rapidamente saiu em direção ao banheiro  e sentou-se ao chão imaginando:
- Desgraçado, mas que folgado que aquele desgraçado é. Quero é que ele morra e vá para o inferno, mas pior mesmo é quando o meu pai souber. Mas que perseguição contra a minha pessoa, aquele improfícuo... mas sei como livrar-me dele e de nada temerei a sua ameaça, além doa mais o meu velho confia demais em mim, certamente ele dirá que eu serei incapaz de pensar em homem, ainda mais nesta idade, disso eu tenho certeza.  Esse mesquinho bisbilhoteiro, jamais satisfará o seu ego, fazendo fuxico para vingar-se de mim. Pensando bem, o Luciano, nem sequer namora comigo, parece que duvida  da masculinidade dele, quer saber de uma coisa, deixa o tempo passar sou muito jovem para esquentar a cabeça.
Depois de muito tempo ali, dona Ilvã falou:
- A que horas, vás sair do  banheiro ?
- Espere mais uns 30 minutos.
- Já se vão quase uma hora, trancada, aí.
- Calma, ninguém vai tomar banho, agora.
Eu vou, respondeu dona Ilvã.
E sem que desse ouvido para a mãe, começou a cantar.


" Tenho saudade
que deriva em dor
e fere a pele
coma minha idade
quero fazer amor
com profunda sinceridade.

Sinto ausente de mim
aquele corpo assim
que suavemente
repiará em mim
quero saber a emoção
D' eu amar, tanto assim "

percebendo que a filha demorava no banheiro, dona Ilvã, comentou com o marido:
-  O que está acontecendo  coma Lucianna, hoje ?
- Deixa a menina cantar, Ilvã, respondeu ele.
- Ela não é assim.
E ele tornou:
- Esses jovens de hoje em dia são assim mesmo, mudam de temperamento a cada momento, não ligue para essas coisas.
enquanto ele falava, a filha soltava a voz:

" Se por amor nos encontrar
e em mim
ficar o teu selo
rogarei que seja
para sempre que eu sinta o teu pêlo.

Por que a ânsia
de eu lhe ter tanta
que já nem sei
cessar estes meus prantos
e nos meus braços
terei-te um dia
pois só tu me irradias.

E os teus olhos
chamam-me tanto
cercando os meus passos
ferindo está voz
roçando os meus pêlos
chamando de herói. "!


E a cada verso da música que recitava, alisava o corpo, mesclando água e sabão, enquanto os pais faziam  a refeição da noite.
Após alguns minutos de silencio, ela aparece à porta e, ele pergunta:
- Estás, contente filha ?
Aproximando-se do velho, beijou-lhe carinhosamente e, desviou o assunto indagando:
- Pai, vai sair hoje ?
- Não, respondeu ele imediatamente.
- Por que ? Tornou ela.
Depois de uns segundo ela tornou a dizer:
- Queria que o senhor deixasse eu ir à casa de Milena.
- Essas coisas peça para a sua mãe, respondeu ele.
- A mãe deixa, respondeu ela mesmo antes que a dona Ilvã, dissesses qualquer coisa.
- A que horas, vai aonde Milena ?
- Após o jantar.
- O que vai, fazer lá, filha ?
- Buscar um livro.
- Que livro Lucianna, insistiu.
O velho que mastigava interrompeu o dialogo dizendo:
- Lu, conte logo detalhe por detalhe, senão a tua mãe, é capaz de lhe interrogar a noite inteira.
- Não posso saber aonde ela vai e, o que vai fazer ? Indagou dona Ilvã.
- Puxa, mas pra que tanto interrogatório.
E a filha afirmou:
- Quero ir à casa de Milena, pegar " Vestido de Noiva " do Nelson Rodrigues, um pernambucano dinâmico e moralista, fui claro ?
- Estas vendo como ela está atrevidinha comigo, Quincas ? disse dona Ilvã.
- Isso não é atrevimento, respondeu o velho.
Seria, dona  Ilvã respondeu:
- Se quiseres que vá.
- Agora ?
- Sim, mas as nove horas, tens que está aqui.
Lucianna beijou a ambos e saiu intimando a mãe, que deixasse o jantar dentro do fogão.
- Essas amizades, disse Ilvã.
Quincas olhou para ela e respondeu:
- Só eu mesmo para aguentar.
Após o jantar, ambos retiraram-se dali e foram para a sala.









     


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José Maria Souza Costa
      

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